"A experiência do sagrado é uma experiência muito profunda, muito sincera, tem a ver com o sentido da vida, então quando você é limitado, quando você é violentado simplesmente por exercer a sua fé, é o seu íntimo que está sendo violentado, é a sua verdade mais profunda" Henrique Vieira (pastor e professor)
Não vou entrar no debate a respeito do pensamento do Jessé Souza ou o seu papel como interprete do Brasil ou mesmo na História da esquerda brasileira, mas compartilho esta entrevista porque, como historiadora, acho sempre válido ler. Dela, me chamou especial atenção essa parte
"Qual o tamanho da redução da desigualdade no Brasil durante os governos Lula e Dilma, período que você também dirigiu o IPEA ?A redução pra mim foi real, especialmente quanto aos aumentos reais do salários mínimo. Isso é que foi decisivo. E principalmente aqui no Nordeste, com o bolsa-família. Mas essas coisas, quando você só pensa no dado econômico, tornam pesquisas sempre mancas. Porque você não percebe coisas muito mais importantes. Mais importantes do que dinheiro é você abrir espaço para quebra de privilégios, romper privilégios. Por exemplo, você romper o privilégio do acesso ao ensino universitário é muito mais importante do que qualquer medição monetária dessa, porque você está abrindo espaço novo para o futuro e importante porque o conhecimento é o único capital efetivamente democratizado no contexto capitalista. E o fato do Governo do PT ter feito 400 escolas técnicas, várias universidades, aumentar de 3 para 8 milhões os estudantes, obviamente foi o motivo dele ter caído. Não tem nada a ver com corrupção. Se fosse corrupção essa classe média coxinha tinha saído agora às ruas. É óbvio, isso é método comparativo das ciências sociais. Se fosse corrupção agora, com comprovações muito mais explicitas… mas pessoas continuam soltas e a coxinhada estaria em peso nas ruas. Cientificamente não foi a corrupção. O que foi então ? Foi a redução da distância entre as classes. A corrupção é um mero pretexto."
Essa pergunta e a resposta certeira (porém dolorosa) de Jessé, evidenciando aquilo que vemos acontecer todos os dias no Brasil de Temer: a crise na educação brasileira é um projeto, como disse Ribeiro ... E foi ela, através da expansão e da facilidade de acesso ao ensino superior por classes mais baixas nos governos Lula e Dilma, que Jessé julga ter sido a responsável pelo maior esgarçamento da hierarquia social.
É muito terrível ver que, pelo menos nessa parte, Jessé tem razão.
Gente, alguém já fez didaticamente o trabalho que venho tentando fazer artesanalmente desde dezembro de 2016, que é descobrir no disco solo do Mano Brown o que eu chamo de citações de canções clássicas do universo soul, da black music! Claro que esse vídeo trata apenas de samples, e as citações vão além disso, estão nas letras, no discurso, etc, e para eu tentar identificar isso, tenho que ouvir muita black music, no Brasil e fora, e é uma delicia identificar porque esse disco do Brown não é brincadeira, não ... divirtam-se!
Esta manhã me pediram uma lista com as 12 músicas de Jorge Ben que eu mais ouço. Tarefa difícil já que nem o melhor disco consigo escolher, então precisaria ser cirúrgica... no fim, a muito custo, consegui uma lista 36 canções (sim, 3 vezes mais do que foi solicitado). A lista bruta , sem hierarquia, saiu assim. Nos nomes têm os links no Youtube e ao lado anotei as versões dos álbuns e a data.
Só agora descobri que hoje, 11 de agosto, é o DIA INTERNACIONAL DA MENINA! Adoro! Quando comecei a enveredar na pesquisa sobre História da criança (suas vivências e representações) elas se destacaram e eu cheguei a ministrar uma palestra e escrever pelo menos dois artigo destacando as meninas na área de História Cultural - um abordando as representações de crianças meninas nas estórias de Rosa disponível aqui, e outro sobre Ooó, a netinha mais nova de Rosa disponível aqui.
Sobre o Dia Internacional da menina, lendo este verbete da Wikipédia, vi que essa coisa é super recente, coisa do século XXI mesmo, e acho super válido se comemorar não apenas o dia das crianças, mas especificamente o dia da menina (crianças do sexo feminino), porque ser menina (biológica, social e historicamente falando ) não é nem nunca foi a mesma coisa que ser menino e elas merecem sim uma atenção especial porque, além das violências e abusos sofridos pelas crianças em geral, são especificamente as meninas que ainda hoje são privadas de recursos como educação por questões religiosas (vide cado da Malala) ou são obrigadas a se casarem com homens adultos por questões culturais (diversos exemplos mundo afora), e é uma pena que a historiografia ainda engatinha nessa área. Tenho orgulho de ter contribuído com um inicial destaque para o tema.
Nessa reportagem emocionante, sentimos muito de perto o que seria a história das nossas vidas e da nossa fé no Brasil.Na música Romaria, de Renato Teixeira encontramos uma síntese daquilo que o professor Ivan Vilela chamou de cultura caipira e que é, também, a cultura onde eu fui criada, a dos meus pais, a da minha infância toda. Na infância, menos por influência direta dos meus pais do que por uma fé própria e incentivada por outras pessoas ao redor, tinha um pequeno altar com mini imagens de Nossa Senhora Aparecida de metal, que nunca mais achei para vender depois, não daquele jeito, mas que ainda ficaram gravadas na minha memória e no meu sentimento.
De vez em quando, durante toda minha vida, nós viajávamos ao santuário de Aparecida, mas foi só quando eu fiquei muito doente e nem conseguia ficar de pé, que meus pais me levaram para lá e eu prometi que, depois que eu ficasse bem, iria todos os anos, acender vela e agradecer. Nem todos os anos consegui ir, porque meu pai ficou doente e não podíamos nos afastar dele, mas nos últimos anos tenho voltado ao santuário e sinto cada vez mais forte a presença e a proteção de Aparecida, que é também Oxum, rodeada de dourado e ouro.
Essa é minha história, é a minha cultura brasileira mesclada.
Foto da Imagem no Santuário Nacional de Aparecida. Autor desconhecido
Todo mundo sabe que eu amo o Sesc Pompéia, não é ? Ontem relembrei algo que me encantava tanto quando eu fazia a tese e precisava de silêncio para estudar, então ia diariamente a Biblioteca Mário Schenberg, mas nos sábados ela fechava as 16:00 e eu ia para o SESC com meu notebook aproveitar o restinho do dia, assim como nos domingos, e então observava as crianças de verdade, interagindo entre si e brincando nesse verdadeiro espaço democrático para as crianças. Ontem,uma tarde domingo ensolarada, tinha tanta gente e, além das exposições de arte, o ESPAÇO BRINCAR estava aberto e cheio de crianças brincando, crianças diferentes, brincando juntas, na maior diversão. Esse espaço também vi (mas muito menos vezes) funcionando no Sesc Vila Mariana, e só de saber que eles existem me dá uma esperança na vida, apesar das tantas decepções <3 font="">3>
Pensando em uma História da criança, que levem em conta suas vivências, narrativas, experiências e valores, achei essa citação da contracapa desse livro sublime (destaques meus) :
"Brincadeiras, bordados, avós e netos se encontram no caminho construído pela dimensão criativa, expressiva e lúdica que ultrapassa o enredamento da vida comum. Os encontros entre gerações para brincar CRIAM UM TEMPO DE SUSPENSÃO DAS AMARRAS SOCIAIS VOLTADAS PARA O UTILITARISMO E ABREM ESPAÇOS PARA A REITERAÇÃO E O EXTRAORDINÁRIO ENVOLTOS NO MISTÉRIO DO DOMÍNIO DO CONHECIMENTO E NO FASCÍNIO DO IMPROVÁVEL, NUMA TRAMA DE DIVERTIMENTO, COMICIDADE E IMAGINAÇÃO. Entre gerações, as brincadeiras preservadas na memória permitem realizar o desejo de estar juntos, explorando tessituras que confrontam o certo e o incerto, ordem e a desordem na busca do belo, mas também e muitas vezes a prazerosa repetição do mesmo. Benjamin nos ensina que as crianças (próximas aos mágicos e aos loucos), refazem a história de cada peça, pedra, toco, retalho e resto. Bordadeiras também. Brincadeiras oferecem aos avós, chances redobradas de rebordar a vida nos encontros com seus netos."
(Eloisa Acires Candal Rocha.Contracapa de EVANGELISTA, Olinda; DURAN, Olga (org). Netos e avós, memórias de brincadeiras. UEM: Maringá. 2015. Netos e avós, memórias de brincadeiras. UEM: Maringá. 2015)
Vejamos, quando netos e avós criam um tempo próprio de convivência e diversão, estão modelando o tempo, criando suas próprias Histórias, a partir do compartilhamento cultural. Para mim, que sou uma historiadora da área de Teoria, isso é precioso.
Quem postou esse quadro sem data (mas que suponho ser século XX) no Facebook foi minha amiga Rosane Pavan. Coisa mais linda! Ai quando vou ao samba na Casa das Caldeiras e me emociono ao ver o pessoal super jovem cantando e dançando Caxambu, um jongo moderno do Almir Guineto
Deve ser porque eu sou velha e ou porque sou historiadora, mas tem muito significado para mim!