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Às esquerda quando comecei a ler. À direita quando terminei |
Terminei de ler ontem "Contos da nova cartilha", de Liev Tolstói, meu livro do mês de maio. Quando escolhi sabia que ia ser uma leitura rápida e agradável, queria fazer em fragmentados tempos livres. Expliquei a escolha aqui:
Então, terminada a leitura, cá estou para comentar o que achei. Adorei! Claro que não sabia da relação de Tolstói, autor que nunca me encantou, com crianças e educação. Conta a maravilhosa professora de Literatura Russa da USP Aurora F. Bernardini no prefácio da obra, que
"Entre as preocupações sociais do grande escritor, estava a questão escolar na Rússia."(p.12)
Continua explicando Bernardini , que ele ficou órfão antes dos 11 anos, nunca chegou a frequentar uma escola, tendo se formado com preceptores. Adulto tornou-se leitor assíduo de obras pedagógicas de seu tempo, sem se entusiasmar com nenhuma, julgando-as
"preocupadas demais com esquematizações e didatismos e de menos com os reais interesses das crianças, que, -de acordo com ele- deveriam ser despertadas para a aprendizagem participante e criativa. "(p.15/6)
Mas tinha consigo a ideia de que seria muito mais saudável para as crianças se as cartilhas fossem mais poéticas.Com essa ideia, em 1849 (aos 21 anos), funda a Escola de Iasnaia Poliana, onde se praticava uma educação mais inclusiva para as crianças.
O material presente neste livro, composto por 42 adivinhas e 56 textos dos alunos e selecionados por Tolstói.
Sabemos que pelo menos desde pelo desde o final do século XIX havia interesse intelectual legítimo em aproximar-se da mentalidade, cotidiano e vida educacional das crianças, que se desenvolveram em diversas iniciativas durante o século XX. Em minhas pesquisas sobre História Cultural da criança explorei esse interesse em diversos intelectuais como João Guimarães Rosa, Ludwig Wittgenstein, Walter Benjamin, etc, Escrevi sobre isso no meu livro e sobre propostas educacionais inclusivas em vários artigos.
Voltando a Tolstói e o século XIX, afirmo que ter acesso a esse material precioso nos possibilita sondar o universo de apreensões de crianças de antes, de há mais de um século e seriam ótimas fontes para se escrever uma História Cultural da criança russa (conterrâneas do "conto maravilhoso russo") daquele século!
Recomendo imensamente a leitura deste volume aos interessados e também gostaria de deixar alguns exemplos do que se trata, com algumas adivinhas, dois exemplos de "fábulas" , dois de "histórias verdadeiras" , que foram contadas ou recontada pelas crianças e escritas e selecionadas por Tolstoi. Começando pelas adivinhas:
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À esquerda as adivinhas : à direita as respostas |
E continuando com as fábulas:
E as histórias verdadeiras
Muito interessante, não acham?
Algumas fotos de Tolstói e seus alunos
SOBRE O LIVRO : TOLSTÓI, Liev. Contos da nova cartilha: primeiro livro de leitura. prefácio Aurora F. Bernardini; trad. M. Aparecida B. P. Soares. Cotia: Ateliê editorial, 2005.