quarta-feira, 22 de abril de 2009

"A PIADA PRONTA" pelo meu ex-orientador!


Para atender a um pedido de uma moça que conheci em São Carlos, que sabendo que eu fui orientanda do Elias Thomé Saliba, queria algum texto que ele tivesse escrito sobre o Barão de Itararé, o que é fácil (mas dificultoso para ela, o Elias estuda o humor na Belle Époque brasileira, então quase todo o seu livro (livre-docência em História social) fala do Barão e corelatos... mas eu pincelei um trechinho que eu adoro (não vou nem mentir que minha preleção é devida a alfinetada nos engenheiros, tão donos da verdade sempre...) e enviei a ela por e-mail. Posto aqui o email:Justificar
" BRASIL: PAÍS SEM GRAÇA OU PAÍS DA PIADA PRONTA?

'O humorismo tem objeto no contraste direto entre o que é e o que deverá ser. Ora, no Brasil, como em todas as nações de su idade mental, tudo é precisamente como não deverá ser, de modo que se torna impossível este contraste e, portanto, igualmente impossível o humorismo'
Palavras surpreendentes - ainda mais vindas de um humorista! A surpreendente observação foi feita por Mendes Fradique, quando o notável humorista brasileiro passava por um momento de 'mau humor', no ano de 1935. Mais surpreendente ainda é o exemplo que ele menciona para comprovar sua tese de que no Brasil é impossível o humorismo, pois o caso citado em seguida, parece ilustrar exatamente o contrário: que o Brasil, como diz um humorista contemporâneo(Aqui Elias fala de José Simão), é o país da piada pronta:

'Se nós segredarmos ao ouvido de Von Papen que na América do Sul há um país em que se construiu uma grande avenida e que, durante esta construção, o único prédio que ruiu por erro de técnica foi o do Clube de Engenharia, é claro que o fidalgo alemão sorrirá à ficção da anedota; mas aqui o caso não é para rir, nem é ficção, mas é verdade, foi o que de fato aconteceu, e contra o que a anedota não pode dar contraste e, portanto, não egendra o sorriso do sense de humour.'
Ora, então o humorismo seria impossível no país porque a realidade superava a anedota? Quase na mesma época, um outro humorista brasileiro, Aparício Torelly, mais conhecido como Barão de Itararé, numa rara ocasião em que falava sério, assegurou:

'Querem ver uma coisa? Às vezes, quando estou numa fila de ônibus, chega alguém e pergunta: por que será que o ônibus que a gente espera nunca aparece? Eu respondo: porque se aparecesse, a gente não tinha de esperar.[...] A influência do humorista? Muito levemente benéfica e bastante entorpecente. Ele apenas mostra a metade das verdades. Para mim, todo mundo é humorista. eu mesmo não me considero um humorista profissional. Sou do vale-tudo e não entro nessa história de apontar esse ou aquele.'

Para Fradique Mendes, o humor era impossível no Brasil pela ausência de contraste 'entre o que é e o que deverá ser'' ; para Aparício Torelly, se não há contraste , é porque o humor para o brasileiro "faz parte da vida, portanto é indistinguível." Como faces da mesma moeda, as duas observações goravam em torno de um dilema: país sem graça ou país da piada pronta? A rsposta pode estar no estudo das raízes do humor brasileiro na Belle Époque."

(Saliba, Elias Thomé. Raízes do riso: A representação humorística na história brasileira - da belle époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Cia das Letras. Pp. 32-3

Um comentário:

Anônimo disse...

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