sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Desemprego e racismo

Somos um país racista, é óbvio.
Eu sendo uma mulher negra que cursou - e ainda cursa - Universidade Pública antes das cotas, ainda sofro na pele as dificuldades trazidas pela crise econômica mundial...que me deixou desempregada desde dezembro. Eu acho estranho que isso esteja se estendendo até hoje, quase um ano depois da demissão, isso porque eu sou uma profissional bem qualificada - continuo minha formação, que está em fase de finalização, já, com o doutoramento -, tenho certa experiência, muita criatividade e vontade de produzir...Essa situação me deixou com certos questionamentos sobre minha própria atuação profissional: Será que eu sou assim tão ruim, para ter sido deixada à margem assim?Não sabia, só me questionava sobre isso...

Mas algumas "novidades" de 2009 me deixaram mais confiante na minha atuação profissional: Em 2008 eu peguei aulas para algumas turmas de Sociologia no Ensino Médio, a partir de agosto... como fazer isso?

Assim que eu soube que a professora que tinha iniciado o curso já tinha introduzido conceitos fundamentais de sociologia e História da sociologia, quis levar alguns dados práticos,mostrando que a matéria também estava nos cotidiano deles: Quis abordar a sociologia do futebol. Para isso levei a eles trechos de um livro que tinha acabado de sair, Veneno Remédio, do José Miguel Wisnik. Poxa, rendeu muito e aquilo que eles achavam ser algo chato (aula de sociologia) era algo que também estava na diversão do seu cotidiano, falei a eles sobre o grupo de estudos sobre o tema que se desenvolve na USP faz cerca de dez anos ...os alunos se sentiram bem, introduzidos no mundo!

Porém, além a aceitação dos alunos, outras respostas significativas tive esse ano, quando formou-se um Seminário de estudos sobre o Futebol aqui na USP e quando aquele livro que eles leram um trecho em 2008, ficou em segundo lugar no Prêmio Jabuti de melhor livro de Ciências Humanas, mais de um ano depois!

Para mim isso foi uma prova que eu estava, sim, fazendo meu papel de educadora, levando aos alunos de um colégio periférico os assuntos que estavam sendo considerados importantes na USP... quem faria algo assim?

Mas essa professora ainda está sem emprego. Será mesmo que não é porque não passou no quesito "boa aparência?", ainda que até a Novela das 8 tenha uma protagonista negra... mas elas ainda não é uma negra que vive uma vida de negra... caminhamos, apesar das pedras.

Um comentário:

Eliéser Baco disse...

Interessante o que fez e o sentido que ganhou após começar a atuar.

Educação no sentido profundo é muito mais que apenas estatística governamental, ou uma nota no vestibular mais difícil. E enquanto isso nao se tornar produção vinda dos alunos, com educadores engajados na evolução mais completa, poderemos ter pre-sal, pre-tudo, pre-mundo, que ficaremos onde estamos. No limbo do discurso sem ação.