Não ia fazer uma, porque tinha a impressão de que em 2009 nada tinha acontecido, mas relendo o blog,acho que aconteceram coisas, si, só não aconteceram as coisas que eu quero ... ainda não... Vamos ver que coisas aconteceram no ano, do fim para o começo:
DEZEMBRO - Redescobri, enfim, o prazer de estar estudando e de decodificar linguagens, fui aos shows do Karnak e do Funk como le gusta e como diz um amigo meu "sai do corpo", descobri o significado da frase do Caetano "Tarado ni você" e isso me ajudou a destrinchar o "Discurso Caetano", estive muito ligada nas crianças e seu mundo...
NOVEMBRO - Mês muito tenso: Fiquei muito brava com o caso da moça da UNIBAN (que absurdo!), muito preocupada com dois garotos que desapareceram, contra a arbitrária eleição do novo reitor... mas também tivemos coisas boas: Dia da consciência negra, sai com um bombadinho sensível rsrsrs, assisti ao sarau com Claudio Willer (suspiros) e fiquei feliz pelo ano, enfim, estar acabando
OUTUBRO - Muita emoção nesse mês... Chorei muito ao conhecer a história do menino abandonado pelos pais Julio César Santos,fiquei triste com a morte de Mercedes Sosa, fiquei sem palavras com as ações do MST e os laranjais, fiquei apreensiva mas feliz com o Nobel do Obama e, enfim, completei trita anos comendo doces e ganhei um presente lindo,a lembrança doce de uma aluna que tive na oficina de Guimarães Rosa que me deu a noção de que tenho que fazer doutorado mesmo! ,
SETEMBRO - Teve Show do Roberto Carlos -que momento!- descobri e publiquei aqui um dos textos mais lindos que eu encontrei no doutorado até agora, é a introdução de Sebastião Salgado sobre os retratos das crianças do Êxodo, soube da partitura que os pássaros compõem na cidade, Me envolvi demais com o curso do Tatit e com a invasão evangélica no imaginário das crianças de hoje em dia...
AGOSTO -Não blogueei muito, mas caetaneei pacas, experimentei o Twitter e não gostei, fiquei sem palavras com o sumiço do Belchior e quis também dar uma sumidinha do mapa (rs)
JULHO - Entrei no doutorado: Que susto! Li a reportagem sobre o Lado B da adoção, comecei o blog Vamo comê
JUNHO - Assisti ao show de Naná Vasconcelos e Virginia Rodrigues (emoção), senti uma fiquei tristeza de morte quando assisti a invasão da PM no campus da USP
MAIO - Descobri a voz (e a loucura) de Amy Winnerhouse, Fui ao show de Tom Zé na Virada Cultural e me comuniquei pacas com ele, só isso, acho que estava cansando
ABRIL - Assisti ao concerto de Paulo Marteli, vivi a dor do fim do meu mestrado, li o "Curioso caso de Bejamin Button", fiquei péssima na Páscoa, assisti ao show Estudando a Bossa, comemorei o aniversário da Revolução dos Cravos, estava sobrevivendo.
MARÇO - Defendi meu mestrado e comemorei na esteira porque o vazio me dominava, assisti a defesa de uma amiga sobre sexualidade árabe, e minha angustia estava em completo desenvolvimento, vi "Quem quer ser um milionário", e dei fim para minhas ilusões amorosas... fiquei no vazio.
FEVEREIRO - Eu estava ainda muito sonhadora achando que ia conseguir um emprego como professora, comemorei o centenário de Carmen Miranda e o começo da Era de Aquário, fiz uma lista de tudo o que eu não queria... e eram muitas coisas, vi e me emocionei muito com a titulação do meu orientador e vi que eu o seguia muito mesmo sem saber que o fazia, relembrei a morte de Dorot Stang, redescobri os caminhos da minha formação,
JANEIRO - Comecei o ano destruindo o blog Tutaméia e passando definitivamente para esse aqui, devorava o livro do Saramago A Viagem do Elefante" e estudei muito porque achava que ia dar aula, o Serra começou o ano fazendo asneiras na OSESP, sofria muito com a separação e relia direto "O amor nos Temos do cólera".. o ano não is ser moleza!
Vamos ver se ano que vem teremos mais...
Feliz ano Novo e : tchau 2009!
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
Caleidoscópio
"A gente bota essas experiências fortes de lado, mas elas ficam acontecidas dentro da gente; e os fragmentos delas formam um novo desenho lá no fundo do nosso caleidoscópio. Um caleidoscópio que o Tempo vai virando. Só que no nosso caleidoscópio as imagens viradas -mesmo parecendo que nunca mais vão voltar,acabam aparecendo de novo - porque a gente não deixa de se cada desenho que criou. "
Lygia Bojunga Nunes :Apud CORTEZ, Mariana. Palavra e imagem: Diálogo intersemiótico
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Meditações sobre um cavalinho de pau E.H. Gombrich
Foi Carlo Ginzburg, em seus livros Mitos Emblemas sinais e Olhos de Madeira (Ginzburg, 2005; 2007) que indicou um caminho remeteu às idéias de E.H. Gombrich, em seu texto Meditações sobre um cavalinho de pau, como um caminho possível de decifração de imagens pelo historiador. Em meu doutorado, pretendo interpretar símbolos referentes à infância não sónos textos escritos de Guimarães Rosa, mas também coleção de desenhos produzida em sua correspondência com as netas.
Gombrich trabalha sempre com a idéia de representação como produtora de "substitutos" da realidade- com a ajuda da imaginação criadora, que tem função de comunicar- pois “toda imagem será de algum modo sintomática de seu criador, mas pensá-la como uma fotografia de uma realidade preexistente é compreender mal todo o processo de feitura de imagens(...) na linguagem do quadro de criança, continua a ser reconhecida a função psicológica da ‘representação’. A criança recusará uma boneca perfeitamente naturalista em favor de alguma ‘bruxa’ monstruosamente ‘abstrata’ que seja mais ‘fofinha. É possível até mesmo que prescinda totalmente do elemento ‘forma’ e tome o travesseiro ou o edredom por sua chupeta predileta-um substituto ao qual quer entregar o seu amor. Mais tarde na vida, dizem os psicanalistas, pode entregar esse mesmo amor a alguém vivo, digno ou indigno dele."
E.H. Gombrich. Meditações sobre um cavalinho de pau. P. 04)
Isso é lindo, não é?
domingo, 20 de dezembro de 2009
Adriana Calcanhotto, no DVD do show Partimpim diz que aquele espetáculo só aconteceu porque Vinícius de Moraes existiu... acho muito belo e muito verdade, quem atenta para crianças (como eu), não esquece do Poetinha (que por ser diminutivo, não é menor que os outros, como as crianças, que não sabem menos, mas sabem outra coisa, como pensou uma antropóloga...
Por ele ter existido, nós e todas as crianças temos coisas como isso:
Por ele ter existido, nós e todas as crianças temos coisas como isso:
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sábado, 19 de dezembro de 2009
"BRINQUEDOS", BY ROLAND BARTHES
O texto a seguir está na obra Mitologias, de Roland Barthes, onde o autor faz comentários críticos sobre a vida cotidiana da França entre 1954 e 1956... considerei-o muito interessante, especialmente nesta época de Natal:
“ O adulto francês considera a criança como um outro eu; nada o prova melhor do que o brinquedo francês. Os brinquedos vulgares são assim, essencialmente, um microcosmo adulto; são reproduções em miniatura de objetos humanos, como se, para o público, a criança fosse apenas um homem pequeno, um homúnculo a quem só se pode dar objetos proporcionais ao seu tamanho.
As formas inventadas são muito raras; apenas algumas construções, baseadas na habilidade manual, propõem formas dinâmicas. Quanto ao restante, o brinquedo francês significa sempre alguma coisa, e esse alguma coisa é sempre inteiramente socializado, constituído pelos mitos ou pelas técnicas da vida moderna adulta: o Exército, a Rádio, o Correio, a Medicina (estojo miniatura de instrumentos médicos, sala de operação para bonecas), a Escola, o Penteado Artístico (secadores, bobes), a Aviação (pára-quedistas), os Transportes (trens, citroens, lambretas, vespas, postos de gasolina), a Ciência (brinquedos marcianos).
O fato de os brinquedos franceses prefigurarem literalmente o universo das funções adultas só pode evidentemente preparar a criança a aceitá-las todas, construindo para ela, antes mesmo que possa refletir , o álibi de uma natureza que, desde que o mundo é mundo, criou soldados, empregados do Correio, e vespas. O brinquedo fornece-nos assim o catálogo de tudo aquilo que não espanta o adulto: a guerra, a burocracia, a fealdade, os macianos, etc. Alias, na realidade, não é tanto a imitação que constituí o signo da abdicação, mas sim a literalidade dessa imitação: o brinquedo francês é, em suma, uma cabeça mirrada de índios Jivaro – onde se reencontram numa cabeça com proporções de uma maçã, as rugas e os cabelos adulto. Existem, por exemplo, bonecas que urinam : possuem um esôfago, e se lhes dá mamadeira, molham as fraldas; sem dúvida, brevemente, o leite transformar-se -á em água, em seus ventres. Pode-se, desta forma, preparar a menininha para a causalidade doméstica, “ condicioná-la” para a sua futura função de mãe. Simplesmente, perante este universo de objetos fiéis e complicados, a criança só pode assumir o papel de proprietário, do utente, e nunca, o do criador; ela não inventa o mundo, utiliza-o : os adultos preparam-lhe gestos sem aventura,sem espanto, e sem alegria. Transformam-na num pequeno proprietário aburguesado que nem sequer tem de inventar os mecanismos de causalidade adulta, pois já lhes são fornecidos prontos: ela só tem de utilizá-los, nunca há nenhum caminho a percorrer. Qualquer jogo de construção, se não for demasiado sofisticado, implica um aprendizado de um mundo bem diferente: com ele a criança não cria nunca objetos significativos; pouco lhes importa se eles têm um nome adulto: o que ele exerce não é uma utilização, é uma demiurgia: cria formas que andam, que rodam, cria uma vida e não uma propriedade; os objetos conduzem-se a si próprios, já não são uma matéria inerte e complicada na concha da mão. Mas trata-se de um caso raro: o brinquedo francês,de um modo geral, é um brinquedo de imitação, pretende formar crianças-utentes e não crianças criadoras.
O aburguesamento do brinquedo não se reconhece só pelas suas formas,sempre funcionais, mas também pela sua substância. Os brinquedos vulgares são feitos de uma matéria ingrata, produtos de uma química, e não de uma natureza. Atualmente muitos são moldados em massas complicadas: a matéria plástica tem assim uma aparência simultaneamente grosseira e higiênica, ela mata o prazer, a suavidade, a humanidade do tato. Um signo espantoso é o desaparecimento progressivo da madeira, matéria um tanto ideal pela sua firmeza e brandura, pelo calor do seu contato; a madeira elimina, qualquer que seja a forma que sustente, o golpe de ângulos demasiado vivos, e o frio químico do metal: quando a criança manipula, ou bate com ela onde quer que seja a madeira não vibra e não range, produz um som simultaneamente surdo e nítido; é uma substância familiar e poética que deixa a criança permanecer numa continuidade de tato com a árvore a mesa, o soalho. A madeira não magoa, não se estraga também; não se parte,gasta-se, pode durar muito tempo, viver com a criança,modificar pouco a pouco as relações entre o objeto e a mão ; se morre, é diminuindo,e não inchando com esses brinquedos mecânicos que desaparecem sob a hérnia de uma mola quebrada. A madeira faz objetos essenciais, objetos de sempre. Ora,já praticamente não existem brinquedos de madeira, esses ‘redis dos Voges’ [1],só possível, é certo, numa época de artesanato. O brinquedo é doravante químico, de substância e de cor; a própria matéria- prima de que é construído leva a uma cenestesia da utilização e não do prazer. Estes brinquedos morrem, aliás, rapidamente,e , uma vez mortos, não têm para a criança nenhuma vida póstuma.”
“ O adulto francês considera a criança como um outro eu; nada o prova melhor do que o brinquedo francês. Os brinquedos vulgares são assim, essencialmente, um microcosmo adulto; são reproduções em miniatura de objetos humanos, como se, para o público, a criança fosse apenas um homem pequeno, um homúnculo a quem só se pode dar objetos proporcionais ao seu tamanho.
As formas inventadas são muito raras; apenas algumas construções, baseadas na habilidade manual, propõem formas dinâmicas. Quanto ao restante, o brinquedo francês significa sempre alguma coisa, e esse alguma coisa é sempre inteiramente socializado, constituído pelos mitos ou pelas técnicas da vida moderna adulta: o Exército, a Rádio, o Correio, a Medicina (estojo miniatura de instrumentos médicos, sala de operação para bonecas), a Escola, o Penteado Artístico (secadores, bobes), a Aviação (pára-quedistas), os Transportes (trens, citroens, lambretas, vespas, postos de gasolina), a Ciência (brinquedos marcianos).
O fato de os brinquedos franceses prefigurarem literalmente o universo das funções adultas só pode evidentemente preparar a criança a aceitá-las todas, construindo para ela, antes mesmo que possa refletir , o álibi de uma natureza que, desde que o mundo é mundo, criou soldados, empregados do Correio, e vespas. O brinquedo fornece-nos assim o catálogo de tudo aquilo que não espanta o adulto: a guerra, a burocracia, a fealdade, os macianos, etc. Alias, na realidade, não é tanto a imitação que constituí o signo da abdicação, mas sim a literalidade dessa imitação: o brinquedo francês é, em suma, uma cabeça mirrada de índios Jivaro – onde se reencontram numa cabeça com proporções de uma maçã, as rugas e os cabelos adulto. Existem, por exemplo, bonecas que urinam : possuem um esôfago, e se lhes dá mamadeira, molham as fraldas; sem dúvida, brevemente, o leite transformar-se -á em água, em seus ventres. Pode-se, desta forma, preparar a menininha para a causalidade doméstica, “ condicioná-la” para a sua futura função de mãe. Simplesmente, perante este universo de objetos fiéis e complicados, a criança só pode assumir o papel de proprietário, do utente, e nunca, o do criador; ela não inventa o mundo, utiliza-o : os adultos preparam-lhe gestos sem aventura,sem espanto, e sem alegria. Transformam-na num pequeno proprietário aburguesado que nem sequer tem de inventar os mecanismos de causalidade adulta, pois já lhes são fornecidos prontos: ela só tem de utilizá-los, nunca há nenhum caminho a percorrer. Qualquer jogo de construção, se não for demasiado sofisticado, implica um aprendizado de um mundo bem diferente: com ele a criança não cria nunca objetos significativos; pouco lhes importa se eles têm um nome adulto: o que ele exerce não é uma utilização, é uma demiurgia: cria formas que andam, que rodam, cria uma vida e não uma propriedade; os objetos conduzem-se a si próprios, já não são uma matéria inerte e complicada na concha da mão. Mas trata-se de um caso raro: o brinquedo francês,de um modo geral, é um brinquedo de imitação, pretende formar crianças-utentes e não crianças criadoras.
O aburguesamento do brinquedo não se reconhece só pelas suas formas,sempre funcionais, mas também pela sua substância. Os brinquedos vulgares são feitos de uma matéria ingrata, produtos de uma química, e não de uma natureza. Atualmente muitos são moldados em massas complicadas: a matéria plástica tem assim uma aparência simultaneamente grosseira e higiênica, ela mata o prazer, a suavidade, a humanidade do tato. Um signo espantoso é o desaparecimento progressivo da madeira, matéria um tanto ideal pela sua firmeza e brandura, pelo calor do seu contato; a madeira elimina, qualquer que seja a forma que sustente, o golpe de ângulos demasiado vivos, e o frio químico do metal: quando a criança manipula, ou bate com ela onde quer que seja a madeira não vibra e não range, produz um som simultaneamente surdo e nítido; é uma substância familiar e poética que deixa a criança permanecer numa continuidade de tato com a árvore a mesa, o soalho. A madeira não magoa, não se estraga também; não se parte,gasta-se, pode durar muito tempo, viver com a criança,modificar pouco a pouco as relações entre o objeto e a mão ; se morre, é diminuindo,e não inchando com esses brinquedos mecânicos que desaparecem sob a hérnia de uma mola quebrada. A madeira faz objetos essenciais, objetos de sempre. Ora,já praticamente não existem brinquedos de madeira, esses ‘redis dos Voges’ [1],só possível, é certo, numa época de artesanato. O brinquedo é doravante químico, de substância e de cor; a própria matéria- prima de que é construído leva a uma cenestesia da utilização e não do prazer. Estes brinquedos morrem, aliás, rapidamente,e , uma vez mortos, não têm para a criança nenhuma vida póstuma.”
Barthes, Roland. Brinquedos. In: Mitologias. São Paulo: Diefel.1982. Pp. 40-2
[1] Redis dos Voges : brinquedo de madeira constituindo numa série de miniaturas de animais (carneiros, vacas, etc) que utilizam normalmente as pastagens da montanha (Vosgues)
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
'Tempo Rei' e Teoria da História
Estou achando,por enquanto, que fazer doutorado na área de Teoria da História é como ouvir umas músicas do Gilberto Gil, que sempre estão meditando sobre o tempo e os tempos que vão se seguindo...
Começando com Parabolicamará,trazia os primeiros pensamentos sobre as novas relações entre Tempo - o da "onda luminosa" que, para transmitir informações, levava "o tempo de um raio, tempo que levava Rosa pra aprumar o balaio quando sentia que o balaio ía escorregar"... isso em um baião super dançante "ê, mundo dá volta, Camará!"
E depois a genial Tempo Rei:
Eu acho que a gente estuda História (especialmente a Teoria da História) para levantar questionamentos assim : "Tempo Rei, Oh Tempo Rei!Transformai as velhas formas do viver ensinai-me Oh Pai! O que eu, ainda não sei"
Eu acho que a gente estuda História (especialmente a Teoria da História) para levantar questionamentos assim : "Tempo Rei, Oh Tempo Rei!Transformai as velhas formas do viver ensinai-me Oh Pai! O que eu, ainda não sei"
Ninguém, sozinho, poderá resolver todos os problemas da História do Brasil, mas nos vale levantar questionamentos, sem sermos bruscos ou formalistas , o que significaria uma crença errônea na absoluta capacidade humana de viver somente a partir do racional ... como pensaríamo, então, nossa cultura baseada na cordialidade e em tudo o que isso acarreta de bom e de ruim (como nos alertou Sérgio Buarque), como poderíamos analisar as coisas apenas pelo racional (por exemplo, como um estudioso de um músico como Tom Zé conseguiria um bom resultado se apenas assistisse aos seus shows sentado e analisando racionalmente? E as outras linguagens que ele desperta para serem desenvolvidas - a dança, os ritmos, etc?)
Um dos pontos chave dos estudiosos é perceber um espaço ótimo entre ele e as fontes, sempre descoberto a partir de tentativas de aproximação e afastamento: mobilidade de perspectiva é uma noção importantíssima para o Historiador da Cultura...
No Brasil, questionamentos claros podem estar expressos em letras de canções (como não cansa de dizer Luiz Tatit) e aí não é preciso falar alemão para filosofar, mesmo que a própria canção de Gil nos lembre que a quaqlquer momento o pensamento "poderá não mais fundar nem gregos, nem baianos"... e então?
Então sigamos, lembrando que Guimarães Rosa respondeu em uma entrevista que brasilidade seria um "sentir pensar"... se é assim, porque nós precisamos interpretar a História da Cultura do Brasil como se esta fosse um "pensar sentir"? Não é! É primeiro um sentir e muitas vezes só um sentir, é preciso prestar atenção nisso pra que depois possamos pensar sobre...
Chega, né?
Bom fim de semana a todos os meus possívies leitores !
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
SOBRE O ELOMAR FIGUEIRA MELLO E VER TUDO COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ
Uma coisa que me incomoda: sabemos que as crianças conseguem facilmente 'olhar tudo como se fosse a primeira vez', esse é seu diferencial . Mas como problematizar isso em Teoria da História? Seria 'Duração'? ou 'Epifania'?
Tentemos algumas definições pessoais rasas para esses conceitos:
*A idéia de 'infância' pode ser facilmente relacionada à 'duração' - que seria a união das camadas de tempo - passado, presente e futuro- em um só momento...Isso está teorizado em Bergson e seu conceito de ‘Durée’ , e também está em Benjamin –sem tanta conceituação- que a explicou como sendo um relâmpago em uma noite escura que, por alguns segundos, ilumina tudo: o que veio o antes, o que está acontecendo agora e também o que virá depois... eis uma boa alegoria sobre a condensação das camadas temporais!
*A 'epifania' é um comportamento usual de crianças, pois seria o momento do contato com o divino, o superior que, em literatura, aparece sempre que se experimenta uma surpresa que funciona como alguma espécie de suplência...isso está em Rosa o tempo todo: a manifestação de algo divino é sempre uma suplência em relação ao mundo histórico, e essa mediação costuma ocorrer pelo uso de formas da cultura popular.Isso está em Bosi! Mas para a expressão da linguagem das crianças, podemos identificá-lo no uso recorrente da ‘palavra mágica’ , que é quando elas começam a perceber que falando sobre seus desejos, eles acontecem (de ter a mãe perto,de comer, de brincar...), como se fosse uma “encantação mágica”, como teorizou Todorov. Assim, para as crianças, as relações entre o vivido no tempo e o percebido por elas ultrapassam a simples ficcionalização da qual falou Costa Lima (e eu adoro)...
Na minha dissertação sobre Tutaméia, eu chamei o tempo problematizado dos textos de Rosa de "não-história": um momento do tempo onde o próprio tempo fica em suspenso. Tem muito pano pra manga nisso aqui... é um doutorado! (rs)
Certo, e o que isso tema ver com o Elomar?
Como eu jpa tinha escrito aqui, quando eu tinha treze anos (uma criança!), ouvi pela primeira vez a "cantiga de arrumação" e fiquei morrendo de medo daquela música! Era estranha, assustadora, rude...e eu queria ouvi-la mesmo assim, muitas vezes, ouvir a "música do feijão" - que era a única palavra que eu entendia na letra... Vamos ouvi-la novamente:
Hoje em dia, eu sempre estou dizendo e pensando que gostaria muito de ouvir essa música “como eu a ouvia das primeiras vezes”: com todo aquele ar de estranhamento, porque é ouvindo Elomar agora - quando eu conheço bem a canção e até consigo cantar-, sinto vontade de ouvi-la "como se fosse a primeira vez", que era como eu a ouvi quando criança.
Será que é essa a busca do adulto que se volta ao olhar infantil? Reencontrar essa sensação? Poxa, isso é deveras interessante, não acham?
Tentemos algumas definições pessoais rasas para esses conceitos:
*A idéia de 'infância' pode ser facilmente relacionada à 'duração' - que seria a união das camadas de tempo - passado, presente e futuro- em um só momento...Isso está teorizado em Bergson e seu conceito de ‘Durée’ , e também está em Benjamin –sem tanta conceituação- que a explicou como sendo um relâmpago em uma noite escura que, por alguns segundos, ilumina tudo: o que veio o antes, o que está acontecendo agora e também o que virá depois... eis uma boa alegoria sobre a condensação das camadas temporais!
*A 'epifania' é um comportamento usual de crianças, pois seria o momento do contato com o divino, o superior que, em literatura, aparece sempre que se experimenta uma surpresa que funciona como alguma espécie de suplência...isso está em Rosa o tempo todo: a manifestação de algo divino é sempre uma suplência em relação ao mundo histórico, e essa mediação costuma ocorrer pelo uso de formas da cultura popular.Isso está em Bosi! Mas para a expressão da linguagem das crianças, podemos identificá-lo no uso recorrente da ‘palavra mágica’ , que é quando elas começam a perceber que falando sobre seus desejos, eles acontecem (de ter a mãe perto,de comer, de brincar...), como se fosse uma “encantação mágica”, como teorizou Todorov. Assim, para as crianças, as relações entre o vivido no tempo e o percebido por elas ultrapassam a simples ficcionalização da qual falou Costa Lima (e eu adoro)...
Na minha dissertação sobre Tutaméia, eu chamei o tempo problematizado dos textos de Rosa de "não-história": um momento do tempo onde o próprio tempo fica em suspenso. Tem muito pano pra manga nisso aqui... é um doutorado! (rs)
Certo, e o que isso tema ver com o Elomar?
Como eu jpa tinha escrito aqui, quando eu tinha treze anos (uma criança!), ouvi pela primeira vez a "cantiga de arrumação" e fiquei morrendo de medo daquela música! Era estranha, assustadora, rude...e eu queria ouvi-la mesmo assim, muitas vezes, ouvir a "música do feijão" - que era a única palavra que eu entendia na letra... Vamos ouvi-la novamente:
Hoje em dia, eu sempre estou dizendo e pensando que gostaria muito de ouvir essa música “como eu a ouvia das primeiras vezes”: com todo aquele ar de estranhamento, porque é ouvindo Elomar agora - quando eu conheço bem a canção e até consigo cantar-, sinto vontade de ouvi-la "como se fosse a primeira vez", que era como eu a ouvi quando criança.
Será que é essa a busca do adulto que se volta ao olhar infantil? Reencontrar essa sensação? Poxa, isso é deveras interessante, não acham?
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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Castelos de Vento
Destruir casas e arrastar pessoas pode ser obra do vento, ou do amor.
Quando eu era adolescente eu pirava com esse vídeo... o que acham?
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
ONDE ESTÁ ESTE ALGUÉM?
Além de estar na canção de Caetano Veloso, onde estaria este alguém que procuro:
"Se alguém pudesse ser um siboney
Boiando à flor do sol
Se alguém, seu arquipélago, seu rei
Seu golfo e seu farol
Captasse a cor das cores da razão do sal da vida
Talvez chegasse a ler o que este amor tem como lei"
Eu sei onde ele não está: na academia, em baladas, em festas familiares, em shows e rock, em piadas...
Mas ele pode estar no SESC, na USP, no Reveillon da Paulista,nos shows do Tom Zé...
no neu cotidiano, onde existem muitos interditos ... vejam este vídeo :
"Se alguém pudesse ser um siboney
Boiando à flor do sol
Se alguém, seu arquipélago, seu rei
Seu golfo e seu farol
Captasse a cor das cores da razão do sal da vida
Talvez chegasse a ler o que este amor tem como lei"
Eu sei onde ele não está: na academia, em baladas, em festas familiares, em shows e rock, em piadas...
Mas ele pode estar no SESC, na USP, no Reveillon da Paulista,nos shows do Tom Zé...
no neu cotidiano, onde existem muitos interditos ... vejam este vídeo :
domingo, 13 de dezembro de 2009
sábado, 5 de dezembro de 2009
LER O LIVRO DO MUNDO = DECODIFICAR LINGUAGENS
Os pensamentos que me atraem podem parecer bastante diversos (Caetano Veloso, Guimarães Rosa, Walter Benjamin, Tom Zé, Carlo Ginzburg...), mas para mim eles são atraentes porque se dedicam a produzir uma linguagem de signos e decodificá-los...
Caetano Veloso, nas suas palavras, lê processos de História do Brasil o tempo todo: somos um país mulato (cheio de “musas híbridas”, “pretas chiques”, “jaboticabas brancas”...), preso a uma mentalidade colonial (em pleno século XXI, somos apenas mulatos "natos no sentido lato mulato democrático do litoral: Sugar Cane Fields Forever) e embora estivermos cientes disso, ele alerta claramente:” E a crítica que não toque na poesia". Esse é Caetano pensador poeta. Isso é poesia.
Guimarães Rosa era um Peter Pan (eis a idéia do meu doutorado), ele nunca deixou de "ver o mundo como se fosse a primeira vez" - que é tarefa das crianças - e o mais interessante: exatamente como elas fazem o tempo todo, ele representava esse estado de catarse constante na linguagem (por isso as palavras tão herméticas de Rosa parecem - e são - ao mesmo tempo moderníssimas e arcaicas), e ele está percebendo os tempos e decodificando-os na linguagem. Isso é arte.
Walter Benjamin queria ler o livro do mundo, que é perceber que cada momento apresenta possibilidades de futuro e de passado, ou seja, “ler” o livro do mundo é encontrar diversas épocas em momentos alegóricos e demonstrar isso na linguagem. Isso é História.
Tom Zé é o mais complicado de entender (pelo menos para mim), porque ele usa diversas linguagens - muitas delas eu não domino nem um pouco-, mas todas elas possuem ligações diretas com os sentidos do tempo (sons, ruídos, psicanálise, poesia, culturas, danças, etc...). Isso é música.
Carlo Ginzburg é meu mestre - como historiadora - e o que ele pensa é muito simples, não existem ligações diretas entre a História e a realidade que não sejam pobres... Para ele, entre essas esferas encontram-se diversas camadas de sentidos inventadas e fabricadas, e decifrar esses códigos da linguagemé fazer narrativa da História. Isso é historiografia.
Resumindo, meu grupo é o grupo dos que se voltaram com amor e atenção para a linguagem. O que eu vou fazer com isso eu não sei... Ainda.
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