segunda-feira, 29 de agosto de 2011
CRÔNICA : MEU PRIMEIRO MAR DE PALAVRAS
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
As crianças e as cores
"A cor é 'nuvem', superfície de deslocamento, linha de fuga no imaginário para divagações laterais, escapa para fora da página, compreende-se que ela suscite a desconfiança dos pedagogos. Em relação à conduta, ela favorece o afastamento; em relação à profundidade ou à verticalidade do sentido, ela ensina o charme do não sentido. Ela desvia as palavras de sua acepção corrente e impede a criança de se tornar semelhante aos 'modelos de moralidade'; ela proíbe a identificação obrigatória, familiar ou pedagógica.(...) De fato, o uso sujo das cores é, por sua vez, algo da ordem do deslizamento mimético pelos improvisos imprevistos do imaginário: lambuzada, imunda, brincando de pintar ou de tatuar o corpo, a criança rejeita, assim, identificar-se com a imagem que se exige dela: ao usar o visível para se tornar invisível aos outros, ela escapa à vigilância deles."
(SCHÉRER, René. Infantis- Charles Fourier e a infância para além das crianças. Belo Horizonte: Autêntica. 2009. Pp. 126-131)
domingo, 21 de agosto de 2011
Felicidade Eterna - José Eduardo Agualusa
José Eduardo Agualusa, in 'O Vendedor de Passados'
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
“EXPERIÊNCIA HISTÓRICA”: O DIA QUE A HISTORIADORA ENCONTRA SEU OBJETO VIVO!
Foi um prato cheio para qualquer historiador, mas para uma que, como eu, estuda Guimarães Rosa talvez sejam dois pratos transbordando! Isso porque a mesa redonda, além da autora do livro, contou com a professora Sandra Guardini T. Vasconcelos e o senhor Eduardo Tess, filho de Aracy, que foi esposa de Guimarães Rosa. Nesta foto, da esquerda para a direita, vemos a autora Mônica Raissa Schpun, a professora Sandra G.T. Vsconcelos e o senhor Eduardo Tess:
Foi muito emocionante tudo, a pesquisa de 20 anos feita pela Mônica, o orgulho e o reconhecimento de Tess e de todos os outros que lá estavam mostra que algumas vidas, como a de Aracy, tiveram valor inquestionável, tanto que ela recebeu um dos dois títulos brasileiros de “Justos entre as nações”, pelo resgate de judeus durante a segunda guerra mundial. Foi lindo, emocionante, porque alguns familiares de pessoas que foram resgatadas àquela época estavam no lançamento para prestigiarem a autora do livro.
Mas o Sr. Eduardo Tess, que é filho de dona Aracy, a segunda esposa de Guimarães Rosa, levou duas convidadas que me interessaram demais: sua esposa sra. Beatriz Tess e uma de suas filhas, Vera Tess.
Sim, sim, Vera Tess a Verinha, a neta que, como alerta a professora Sílvia Maria Azevedo, era neta adotada, porém tão legítima que era a preferida de Rosa.
Foi uma grande emoção para mim porque as correspondências mantidas por Rosa e Vera e sua irmã Beatriz Helena são um dos meus objetos de estudo no doutorado, então ver que hoje a Vera, que já não é mais a Verinha de três aninhos que a foto acima mostra no colo do Vovô Joãozinho, ela é a doutora Vera, médica psiquiatra do HC de São Paulo!
Fui conversar com ela, claro... eu pensava que estava tendo uma chance que os historadores quase nunca têm, porque nós não costumamos pesquisar “pessoas vivas” ... ossos do ofício! Mas como eu não estava preparada para encontrá-la, embora soubesse que seria minha grande chance e precisava falar algo, mas não sabia o que ... acabei fazendo perguntinhas tolas (como era o contato com Rosa; se ela se lembra dos lápis de cor; se ela era mesmo a neta favorita...) , e ela me respondeu na medida do possível, afinal ela me lembrou de um detalhe que eu (JUSTO EU, QUE SEMPRE ME PREPAREI PARA NÃO ESQUECER DISSO) estava esquecendo na hora: tudo aquilo que eu perguntei ela viveu, sim, mas quando tinha apenas três aninhos, não tinha lembrança nem conhecimento detalhado de tudo aquilo! Ou seja: lá estava eu exercendo o “ofício do historiador” e pisando em terreno fragmentado, novamente, porque o que se passava na cabeça de Verinha e da sua relação com o vovô Joãozinho já não podemos mais saber e o mais interessante, talvez nem mesmo ela possa!
Mas são impressionantes as armadilhas que o tempo nos prega e que nem mesmo os historiadores conseguem fugir sempre... o ofício do historiador é entrar no país das maravilhas como faz Alice e descobrir que a única coisa irrefutável a qual se tem acesso é que nada será tão claro e lógico como gostaríamos, mas que teremos que inventar novas maneiras de lidar com a densidade das temporalidades expressas naquilo que chamamos tão levianamente de passado!
Acho que por enquanto é isso que eu posso comentar, ainda preciso assimilar melhor aquela “experiência histórica” que vivi ontem e que eu acho que está sintetizada nesta foto aqui:
O mais interessante é que temos que interpretá-la em perspectiva, afinal a cena nos mostra mais próxima do nosso olhar a figura de Vera Tess