sábado, 29 de outubro de 2011

kkkk eu e o Caio achamos muito engraçado esse depoimento sobre o Rosa:

"Estou tonto. De tontear novamente. Escrever igual a esse Rosa, nunca jamais. Não é só nosso maior escritor de todos os tempos. É o próprio tempo - vida mineira presente, passada, vida mais do que narrada, vida vivida posta em letra de forma. Ainda hoje sua leitura me tonteia e quando o leio, sinto, de novo..., aquela vontade de esbravejar em cima de tudo. Esqueço de mim mesmo. Eu mesmo me pergunto, já complexado: por que ainda escrever depois dele?
Escrevo, porque necessito, sabendo que meus são outros caminhos, pobres recursos. A literatura de um país não pode ser só feita de gênios. Assim ninguém aguentava. Precisamos ter os talentos menores, os talentos esfoçados. Esbravejo de novo: o gênio demais, assim à toneladas, como Rosa, acaba mesmo tudo esmagando. Esse homem existe? Só se for por encanto, coisas das mil-e-uma noites, Aladino da lâmpada maravilhosa dos verbos acesos, como fachos..."
Paulo Dantas In Sagarana emotiva

NÃO É BOLINHO, NÃO! PORÉM EU SEI QUE AQUILO NÃO É COISA DE GÊNIO SÓ, É TAMBÉM DE UM TRABALHO INITERRUPTO, ATÉ CANSA SÓ DE PENSAR

Charles Baudelaire "O Estrangeiro"

O estrangeiro

- Diga, homem enigmático, de quem gosta mais? De seu pai, de sua mãe, de sua irmã ou de seu irmão?
- Não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.
- Amigos?
- Você usa de palavras cujo sentido até aqui desconheço.
- Pátria?
- Ignoro a que latitude se situa.
- Beleza?
- Deusa e imortal, de bom grado a amaria.
- O ouro?
- Odeio-o como você odeia a Deus.
- Mas que gosta então, estrangeiro extraordinário?
- Das nuvens… as nuvens que passam… lá longe… lá longe… as maravilhosas nuvens!

Charles Baudelaire in “Pequenos poemas em prosa”

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Estória contra a história?

Guimarães Rosa começa seu Tutaméia (1967) assim: “a estória não quer ser história.A estória, em rigor, deve ser contra a História” (Rosa, 1967. P.3).

Esta colocação rosiana foi lida por intérpretes como uma simples negação da história expressa claramente (Rodrigues,2009.Pp.16-7) e que colocaria Guimarães Rosa no grupo dos alienados ou conservadores definitivamente. Em outubro de 1967, no dia seguinte a uma acalorada discussão com Franklin de Oliveira sobre uma possível alienação em suas duas últimas obras, Rosa teria enviado a Oliveira um bilhete "poético" comentando sua colocação :

“E, pois, mudando de prosa
o A estória contra a História
você,perjuro de Glória,
acho que não entendeu.
A História, ali, é o fato passado
em reles concatenação;
não se refere ao avanço da dialética, em futuro,
na vastidão da amplidão.
Traço e abraço. João”.



Considerando esta “explicação” rosiana, percebemos a colocação de Rosa de forma mais complexa, não como uma negação completa da história, mas como se a estória fosse o reflexo da história no espelho da construção ficcional ...

domingo, 16 de outubro de 2011

ESSÊNCIA DA HISTÓRIA E GUIMARÃES ROSA

Na minha defesa de mestrado ouvi sobre um dos membros da minha banca (que não era historiador) o seguinte comentário: "Apesar de você abrir para novos vislumbres em relação ao texto de Rosa, lendo-o a partir da fotografia, da música... eu senti falta de ler em seu texto o que eu sempre espero axhar em um texto historiográfico, senti falta da HISTÓRIA DE VERDADE, DA ESCRAVIDÃO, ESSAS COISAS..."Term...inando agora meu texto de qualificação eu me lembro disso e penso que, agora mais do que nunca, não vão achar a tal "HISTÓRIA DE VERDADE" na minha tese, exatamente porque minha intenção sempre foi fugir de idéias já prontas de antemão (não é à toa que estudo Guimarães Rosa), mas recontruí-las sempre, o que considero um respeito a única VERDADE cristalizada que enxergo na História: Seu alto grau de mutação e transformação no tempo, ESTA É A ESSÊNCIA DA HISTÓRIA... se eu quisesse produzir um discurso pronto sobre uma verdade imutável, não só não seria historiadora, como também não a abordaria a partir da literatura. Para mim está bem claro...

sábado, 15 de outubro de 2011

SE TUDO COMEÇOU NO BIG BANG, TINHA QUE ACABAR NO BIG MAC

NÃO PARO DE OUVIR ESTE CD, PENSANDO EM POR QUE PENSAR TANTO EM ORIGENS SEM PROBLEMATIZAR QUE ESSA BUSCA SIGNIFICA UMA GRANDE DISPUTA DE PODER: se tudo começou no BIG BANG, tinha que acabar no BIG MAC...
LEIAMOS O QUE ESTÁ ESCRITO NO SITE DO GRUPO CORPO:


ONQOTÔ
(2005)

coreografia RODRIGO PEDERNEIRAS
música CAETANO VELOSO E JOSÉ MIGUEL WISNIK
figurino FREUSA ZECHMEISTER
cenografia e iluminação PAULO PEDERNEIRAS


A perplexidade e a inexorável pequeneza do Homem diante da vastidão do Universo é o tema central de Onqotô, balé que, em 2005, marcou as comemorações dos 30 anos de atividade do Grupo Corpo. Assinada por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, a trilha sonora tem como ponto de partida uma bem-humorada discussão sobre a "paternidade" do Universo. De um lado, estaria a teoria do Big-Bang, a grande explosão primordial, cuja expressão consagrada pela comunidade científica mundial parece atribuir à cultura anglo-saxônica dominante a criação do Universo; e, de outro, uma máxima espirituosa formulada pelo genial dramaturgo (e comentarista esportivo) Nelson Rodrigues sobre o clássico maior do futebol carioca, segundo a qual se poderia inferir que o Cosmos teria sido "concebido" sob o signo indelével da brasilidade: "O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada".

Instrumentais ou com letra, os nove temas que compõem os 42 minutos de trilha estabelecem uma sucessão de diálogos rítmicos, melódicos e poéticos em torno das "cenas de origem" eleitas por seus criadores e do sentimento de desamparo inerente à condição humana.

Na coreografia criada por Rodrigo Pederneiras, verticalidade e horizontalidade, caos e ordenação, brusquidez e brandura, volume e escassez se contrapõem e se superpõem, em consonância (e, eventualmente, em dissonância) com a trilha musical, desvelando significados, melodias e ritmos que subjazem ao estímulo sonoro.

Urdida com tiras de borracha cor de grafite, a cenografia de Paulo Pederneiras funda um espaço cênico côncavo que sugere tanto um recorte do globo terrestre com seus meridianos quanto um oco, um buraco negro, o nada ou a anterioridade de tudo. Com todos os refletores fixados na estrutura metálica que sustenta a fileira de tiras, a luz projetada por Paulo Pederneiras imprime na cena uma iluminação que remete à dos estádios de futebol.

A figurinista Freusa Zechmeister transforma os bailarinos em uma massa anônima que se funde (e se confunde) com o espaço cênico, permitindo deste modo que coreografia e cenário exerçam plenamente sua tridimensionalidade.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

"Guimarães é um dos grandes intérpretes do Brasil, da realidade brasileira, e faz isso a partir justamente da literatura, a partir de uma discussão da história ideologicamente orientada, faz isso a partir de uma construção ficcional, então a história se constrói e se exprime através da ficção e isso é o grande experimento e o grande merecimento de Guimarães Rosa : ter encontrado um modo par...a falar não historicamente da história, talvez se escondendo através da imagem da anedota... escondendo não é a palavra certa, mas utilizando a anedota como via de acesso a uma verdade história que não é "A História", é já uma interpretação da história, esse é um grande achado de Guimarães Rosa no sentido de que a história pode ser lida não de forma direta, mas nas entrelinhas..."
Ettore Finazzi Agrò no debate posterior a palestra em 10/10/2011