sábado, 28 de abril de 2012

O andar do bêbado e como o ACASO determina nossas pesquisas em história!


Em 2010, ainda no início do doutorado, eu recebi uma bolsa para ser monitora na disciplina  Teoria da História II da graduação em História do DH/FFLCH/USP. Foi uma experiência interessante assistir novamente aquelas aulas depois de anos, desta vez não mais como graduanda, e poder perceber como o professor (que agora é também meu orientador ) comentava o tempo todo a bibliografia mais  recente sobre o tema! Uma das recomendações mais enfáticas foi a deste livrinho de nome divertido ai. Espero que outros alunos (ainda na graduação) não tenham recebido a recomendação de forma tão descomprometida como eu recebi: Só recentemente eu comprei o volume e estou adorando! Para os que estão se propondo a contar histórias é tão fundamental lembrar que a história - assim como a vida- se desenvolve em vários sentidos, inclusive os aleatórios como o andar de um bêbado e por isso devemos seguir procurando interpretá-los, assim como fazem as crianças  quando ainda não se formataram completamente a perspectivas lineares determinadas pelos adultos  e ainda podem desfrutar da pura vivência.
RECOMENDO MUITÍSSIMO!
"O título 'O andar do bêbado' vem de uma analogia que descreve o movimento aleatório, como os trajetos seguidos por moléculas ao flutuarem pelo espaço, chocando-se incessantemente com suas moléculas irmãs. Isso pode servir como uma metáfora para a nossa vida, nosso caminho da faculdade para a carreira profissional, da vida de solteiro para a familiar, do primeiro ao último buraco de um campo de golfe. A surpresa é que também podemos empregar as ferramentas usadas na compreensão do andar do bêbado para entendermos os acontecimentos da vida diária. O objetivo deste livro é ilustrar o papel do acaso no mundo que nos cerca e mostrar de que modo podemos reconhecer sua atuação nas questões humanas. Espero que depois desta viagem pelo mundo da aleatoriedade, você, leitor, comece a ver a vida por um ângulo diferente, com uma compreensão mais profunda do mundo cotidiano. (...) O desenho de nossas vidas, como a chama da vela, é continuamente conduzido em novas direções por diversos eventos aleatórios que, juntamente com nossas reações a eles, determinam nosso destino. Como resultado, a vida é ao mesmo tempo difícil de prever e difícil de interpretar."
Leonard Mlodinow.O Andar do Bêbado : Como o acaso determina nossas vidas. Ed.Zahar,2011.p. 10-2

sábado, 21 de abril de 2012

Abaixo-assinado pró Guimarães Rosa nas escolas faz projeto cair

Era óbvio, mas ao ler esta reportagem como um pequeno histórico daquela ideia esdruxúla de qualquer maneira e a tentativa de torná-la lei, fica ainda mais flagrante seu conteúdo politiqueiro... repare que não foi que "o projeto caiu porque foi votado e não passou", mas por causa das assinaturas que fizeram com que seu "autor" voltar atrás e retirar  o projeto ... por que será, né?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Eu  pesquisei aqui e confirmo: aquele projeto de lei que proibe a divulgação em escolas (públicas ou privadas)  em Minas Gerais de textos  (mesmo os literários!) que não sigam estritamente a NORMA CULTA DA LÍNGUA existe sim, conforme consta no jornal "Diário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais". Caso queira conferir, você pode procurar por PROJETO DE LEI Nº 1.983/2011 nesta página http://www.almg.gov.br/opencms/export/sites/default/consulte/arquivo_diario_legislativo/pdfs/2011/06/L20110603.pdf.

Com isso temos a confirmação de que aquele abaixo assinado contrário a ele não é mais uma pegadinha da internet e se você também for contrário ao que define o projeto de lei, pode assinar nesta página : http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2012N23620, com eu fiz ...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Assine o abaixo assinado que proibe textos que não sigam a norma culta nas escolas

Vejam se dá para levar a sério isso:
"Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais; Deputado Estadual Bruno Siqueira (PMDB); Deputado Estadual Adelmo Carneiro Leão (PT); Deputado Estadual Almir Paraca (PT); Deputado Estadual André Quintão (PT) O PROJETO DE LEI Nº 1.983/2011, protocolado na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais pelo deputado estadual Bruno Siqueira (PMDB), proíbe a distribuição na rede de ensino pública e privada do Estado de Minas Gerais de qualquer livro didático, paradidático ou literário com conteúdo contrário à norma culta da língua portuguesa ou que viole de alguma forma o ensino correto da gramática de nosso idioma nacional, bem como conteúdo que apresenta elevado teor sexual, com descrições de atos obscenos, erotismo e referências a incestos ou apologias e incentivos diretos ou indiretos à prática de atos criminosos. A justificativa de tal projeto encontra-se embasada numa concepção do ensino de Língua Portuguesa completamente defasada e obsoleta em relação ao conhecimento científico solidamente acumulado na área de Letras e Linguística. Além disto, caso o projeto seja aprovado, esta lei proibirá a distribuição, nas escolas mineiras, de praticamente todo o riquíssimo patrimônio literário brasileiro edificado no século XX, já que um traço comum à vasta e heterogênea produção literária nacional dos últimos cem anos é exatamente a subversão à norma culta padrão de nossa língua materna. Restaria proibida em nossas escolas a distribuição de livros da autoria de Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Mário de Andrade, para ficar em apenas três nomes de uma infindável lista de grandes autores que inclusive satirizaram o ensino da norma culta da língua, como Oswald de Andrade no poema “Pronominais”. Restaria proibida também a distribuição de livros de poetas como Gregório de Matos, que, no século XVII, embora escrevesse conforme a norma culta da língua, eventualmente, usava vocábulos de baixo calão e imagens eróticas em seus textos poéticos. Considerando que o ensino de Língua Portuguesa condizente com um Estado Democrático de Direito deve se pautar pela leitura crítica de textos de quaisquer gêneros discursivos, em vez de encontrar-se restringido por uma lei que representa indiscutivelmente um retrocesso aos regimes mais autoritários de nossa história (lembrando a censura executada pelo regime militar para proibir a circulação de diversas obras literárias acusadas de cometer as mesmas “violações” que o referido projeto menciona), manifestamo-nos contrários à aprovação do PROJETO DE LEI Nº 1.983/2011. "
Infelizmente isso é sério, sim...lembrem-se de que o conflito cultural entre letrados e não-letrados é um dos mais importantes da história do Brasil e cada vez mais determina graus de hierarquia social por aqui... pessoas que tentaram problematizar isso (ou mesmo ressignificar a questão como fez Rosa, mas não só ele ) são cada vez mais indesejáveis... viva a educação brasileira!
Eu só espero que a nossa presidente se lembre de seu "namoro' com o texto todo contra-normas de Rosa em seu discurso de posse...
Assine aqui, eu já assinei!

domingo, 15 de abril de 2012

Wisnik - Caetano- Rosa


"É preciso dizer que um dos encantamentos do conto (A Terceira margem do Rio, de Guimarães Rosa) está em decantar a experiência do luto-melancolia em estado puro, sem designar a morte que lhe corresponde, pois esta não se localiza num tempo (quando se deu?) nem num lugar (não tem margem), não é propriamente literal ne metafórica, e fica em suspensão, ressoando no símbolo imemorial da barca e da travessia do rio (como se Caronte se conduzisse a si próprio para lugar nenhum). A passagem para outra margem, que repetiria na tradição mitológica o território dos vivos e dos mortos em dois campos opostos e dualizados, não se dá aqui: o conto dissolve essa dualidade na alusão, que lhe dá nome, è terceira margem inominável (cf. Galvão, Ealnice Nogueira. Mitológicas rosianas, 1978. P. 37-40). Podemos dizer assim que a morte está, nesse conto, ao mesmo tempo recalcada (na relação das personagens com o pai ausente, sob o luto tácito e a melancolia) e surpreendida pela narrativa num estado de evidência insólita em que o silêncio ilumina aquilo que não pode ser dito, escapando na tangente da leitura alegórica, fantásstica ou mítica para confundir-se com o fluxo do rio que retorna, tautológico, perpétuo e provisório, sobre si mesmo. É desse lugar que o mineiro Milton Nascimento, silencioso, lança em música essa 'terceira margem' ao baiano Caetano Veloso, para que este dê nome - poético- ao enigma.
Esta é a letra da canção:
Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio riu, ri
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai
(...)
A singularidade da canção popular brasileira tem nesse exemplo a demonstração de uma de suas consequências inusitadas: em que cultura, ou em que país, pode-se perguntar, o cancionista popular chega a ser o sujeito de uma interpretação vertical do seu maior escritor? Nisso não vai apenas uma questão de competência específica e de arranjo original das especialidades, mas o índice de uma trama cultural em que a malha das permeabilidades é muito intrincada. Essa constatação não é. no entanto, apologética, mas problemática: permeabilidade e maleabilidade têm sido, nas várias interpretações do 'dilema brasileiro', o reverso da moeda da anomia, da irresponsabilidade e da incapacidade de sustentar projeto (traços recorrentes, por exemplo, em muitos dos protagonistas do romance brasileiro, emblematizados na ambiguidade do Macunaíma). (...)"

Wisnk, José Miguel. A Gaia Ciência - Literatura e música popular no Brasil. In: Ao Encontro da palavra cantada: pesia, música e voz. p. 193-96)

TURMA DA MONICA E NEYMAR!


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Poema gera poema?

Bom dia aos que acordaram de madrugada para trabalhar, como eu! Comecemos o dia de trabalho com um poema de Eduardo Prado Vieira, composto por inspiração da primeira leitura do livro Primeiras Estórias, em dezembro de 1962:
INTERROGAR - Eduardo Prado Vieira

A coisa quieta
Que descansa no retrato, na lâmpada
Ou na pedra de gelo.A coisa real
Que está ali, existe, mas é vazia, falsa
E incapaz.Incomunicável, o retrato se mostra.
Incomunicável, a lâmpada acende o que dela nem sabe.
Incomunicável, o gelo é a água polida, pele toda, carne só, de repente sem exterior.
E eu. Que vejo e calo,
Como um sábio de coisas incolores,
Aprendiz de outras fluindo.
Meu suave Guimarães Rosa:
Por que existe algo em lugar de nada? (Revista Leitura - Rio de Janeiro)

O QUE ACHARAM DELE?

domingo, 8 de abril de 2012

Os três dedos de Adão

Esse livro é uma maravilha! Comprei para minha pesquisa, com a reserva técnica, mas vou querer um pra mim, como não podia deixar de ser: Quando quis estudar história (tipo, quando prestei FUVEST) queria estudar medieval (desta forma que aparece nesse livro, só que não tive a chance de fazer isso na graduação). Depois tudo parecia ter se modificado nos meus desejos em história e tal, mas estudos sobre a Idade Média sempre tiveram um gosto especial para mim, de alguma forma. Só que hoje eu percebo que talvez não que eu quisesse fazer um estudo sobre a Idade Média como esse, porque meu maior interesse, talvez, nem seja por causa do tema em si, mas muito mais pelas questões de método: como contar uma história que, com o passar dos séculos, acabou quase sem registros materiais tradicionalmente fundamentados? Lá vieram os historiadores medievalistas virando as metodologias de ponta cabeça e suas "invenções" passaram a ser um ponto sério a ser discutido... Dai para falar de infância através da narrativa literária de Guimarães Rosa, que toca o mundo do sertão - uma sociedade contemporânea , mas com traços fortes de cultura oral, mais ou menos como era a medieval - e produzir literatura, Rosa teve que tocar muitas destas esferas, ao menos passar por elas... super genial.
Ai quando eu leio Hilário Franco Jr e, além do arcabouço imagético, ele coloca na roda de observação os historiadores que me escoram até hoje, eu morro:

"A imagem em questão (a de Adão engasgado, colocando a mão na garganta utilizando somente seus 3 primeiros dedos, não os 5, como era habitual na iconografia do pecado original,em San Juan de La Peña no séc. XII) é única porque indicaria uma situação particular, exprimiria um estadom de espírito específico à comunidade monástica de San Juan.
Tal hipótese é difícil de ser testada, porque o mosteiro foi vítima de incêndios (no séc. X em 1494,1675 e 1809) que destruíram grande parte de seus fundos documentais, tanto textuais como iconográficos (inclusive, mais da metade dos capitéis do clausto). Diante disso, devemos recorrer a HIPÓTESES DE TRABALHO NÃO FUNDAMENTADAS SOBRE 'PROVAS' E SIM SOBRE UM 'CONHECIMENTO POR TRAÇOS' BASEADO NAQUILO QUE OS TEXTOS - E AS IMAGENS - NOS DIZEM 'SEM TER DESEJADO DIZER', COMO SUGERE MARC BLOCH. Mais recentemente
Carlo Ginzbug prosseguiu nessa linha linha (que também é a de Arnold Hauser, Edgar Wind e Enrico Castelnuovo), chamando atenção para o 'paradigma indiciário' nas ciências sociais, inclusive na história, cujo conhecimento é 'indireto, indiciário e conjectural'. Dito de outra forma, o trabalho do historiador pede,com as precauções necessárias, raciocínio indutivo: passar 'do melhor ou do menos mal conhecido ao mais obscuro' , 'aplicar um método regressivo. (...)


FRANCO JR, Hilário. Os Três dedos de adão. p. 375-6

sexta-feira, 6 de abril de 2012

As coisas incríveis de dentro de um lápis!


Toda coisa tem seu nome - Cocoricó



Toda Coisa Tem Um Nome - Júlio e Sua Turma

Toda coisa tem um nome
Todo nome uma coisa
Outra coisa outro nome
Outro nome outra coisa

Uma coisa é uma coisa
Outra coisa é outra coisa
Quanta coisa tem no mundo
Que coisa eu me confundo

E para falar coisa com coisa
O homen em cada coisa, pois um nome
'Cê que vê'

O nome dessa coisa é microfone
Mas se derepende ele some
Pra descubrir aonde esta
Eu tenho que saber seu nome

Cadê meu microfone ?
Ta aqui

O nome dessa coisa é panetone
Mas se derepente alguém come
Pra matar a minha fome
Eu tenho que saber seu nome

Quem pegou meu panetone?
Fui eu

Eu e quando agente não sabe o nome
De uma coisa
A gente tem que se virar
Eu chamo de treco
Eu chamo troço
Baguio ,traquitana , geringonça
Eu sei lá

Toda coisa tem um nome
Todo nome uma coisa
Outra coisa outro nome
Outro nome outra coisa

Uma coisa é uma coisa
Outra coisa é outra coisa
Quanta coisa tem no mundo
Que coisa eu me confundo

E para falar coisa com coisa
O homen em cada coisa, pois um nome
'Cê que vê'

O nome dessa coisa é telefone
Mas se derepende ele toca
E pra saber quem é que me ligou
Eu tenho que saber seu nome

Alô quem fala ?
É o Júlio

O nome dessa coisa é violão
O nome dessa coisa é chilofone
Pra fazer essa linda canção
Cada instrumento tem um nome

Olha a gaita do Júlio

Eu e quando agente não sabe o nome
De uma coisa
A gente tem que se virar
Eu chamo de treco
Eu chamo troço
Baguio ,traquitana , geringonça
Eu sei lá

Cadeira , boneca , chiclete , caminhão, mamadeira,
Peteca, cotonete , macarrão, minhoca, alicate,
Penico, Guarda-sol ,Paçoca ,abacate, tico-tico e paiol

Toda coisa tem um nome
Todo nome uma coisa
Outra coisa outro nome
Outro nome outra coisa


ADORO COCORICÓ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Estranhamento

"Que interesse isso (Estranhamento) pode ter - alguém poderia perguntar- para historiadores, para os estudiosos às voltas com documentos de arquivo, com atos notariais, e assim por diante? Por que deveriam perder tempo com o estranhamento e com conceitos semelhantes elaborados pelos teóricos da literatura? (...) Parece-me que o estranhamento é um antídoto eficaz contra o risco a que todos nós estamos expostos : o de banalzar a realidade (inclusive nós mesmos). As implicações antipositivistas dessa observação são óbvias. Mas salientar as implicações cognitivas do estranhamento, eu gostaria também de me opor com máxima clareza possível às teorias da moda que tendem a esfumar, até torná-los indistintos, os limites entre história e ficção. Essa confusão teria sido repelida pelo próprio Proust. Quando dizia que a guerra pode ser contada como um romance, Proust não pretendia de modo algum exaltar o romance histórico; ao contrário, queria sugerir que tanto historiadores como os romancistas (ou pintores) estão irmanados num fim cognitivo. É um ponto de vista que compartilho plenamente. Para descrever o projeto historiográfico em que pessoalmente me reconheço, utilizaria, com pequena modificação, uma frase de Proust :'mesmo supondo-se que a história seja científica, ainda assim seria preciso pintá-la como Elstir pintava o mar, ao revés."
Carlo Ginzburg. O Estranhamento. In: Olhos de Madeira. p. 39-41