domingo, 29 de dezembro de 2019

Art Popular - Agamamou (ft. Jorge Ben Jor)


Eu tinha o áudio, mas agora temos o vídeo, com Jorge Ben dando uma canja no show do Art Popular: AMO MUITO TUDO ISSO! (coloquei as duas versãoes, em MP4 e em link do Youtube, para nunca perdemos essa relíquia!
#OMelhorDoBrasilÉJorgeBen



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sábado, 28 de dezembro de 2019

PRESENTES DE NATAL PARA CAMILA

capas

Porque eu passei  minutos  na loja do  Sesc Bom Retiro ontem, acabei me encantando com as coisas que eles vendem ali e isso  me levou aos dois presentes de natal mais legais para mim. Escolhi dois CD's que sabia serem completamente a minha cara e que estavam muito baratos, saindo R$ 10 e R$ 13.
O primeiro deles é  "Um gosto e Sol" (2011),  onde  Maria Eugênia Melo e Castro interpreta Clube da Esquina.

O disco da fadista  é graficamente uma obra de arte, com relevos e cores inspiradores realçados pelo projeto gráfico  assinado por Rodrigo Guimarães e explica porque, às vezes, é fundamental  ter o CD físico. A escolha das doze faixas  é muito boa :

Um Gosto de Sol
1-"Um gosto de Sol";
2- "Luz e Mistério";
3. "Fruta Boa";
 4-"Sol de Primavera";
5- "Tarde"; 
6-"Cais"; 
7-"Vaga no Azul"; 
8-"Fogo de Palha;
9-"O Cerco";
10-"Dança da Lua"
11-"Maldição"
12- "Vinheta do Bituca"




É  emocionante observar o resumo da percepção de Maria Eugênia a respeito do cancioneiro mineiro,  especialmente as canções eternizadas pelo Beto Guedes e a grande homenagem ao Bituca, o gênio. A voz de Maria Eugênia é doce, ao cantar docemente essas canções da minha vida, me emocionou demais, especialmente quando ela recita o excerto "A Hora Absurda" de Fernando Pessoa ao fim da canção "Cais". Ao fundo, a voz divina de Bituca pontua o CD e fica algo celestial.  Mas apesar de lindo, confesso que  o disco não ficou tão bom de se ouvir, especialmente de você é louco pelas versões mineiras, pois se sente a falta  de um pouco mais do frescor juvenil das versões originais. Mas é preciso entender que estamos diante de uma  homenagem que propõe um filtro fadista àquelas músicas, fica bonito, mas triste demais. 

Já o outro  disco/presente não tem nada de tristeza, é um desbunde musical e também  uma volta ao meu interesse em música instrumental, que andava meio esquecido,  trata-se do álbum  "Duo+Dois" (2019), do  quarteto   formado pelos violonistas do Duofel - Fernando Melo e Luiz Bueno - o percussionista do Clube da Esquina Robertinho Silva e o mestre dos sopros Carlos Malta. Como todo disco de  conjunto instrumental, estamos falando do som mais elegante produzido pelo homem! Nesse caso, as faixas dão um baile ao trazer canções deliciosas do cancioneiro brasileiro, como os afro sambas;Tom Jobim; Edu Lobo; Milton Nascimento; Ronaldo Bastos; Dorival Caymmi; João Donato...   que na interpretação desses mestres, brilham mais: 
Duo+Dois

"Canto de Yemanjá"
"Casa Forte"
"Upa Neguinho
"Ponteio"
"Águá de beber"
"Dindi"
"Cais"
"Marcangalha"
"Medley Emoriô/Bananeira"
"Medley Consolação/ Berimbau"
"Canto de Xangô"


Bom, se tem afro sambas, já bate um orgulho de ser brasileira, com mais Tom Jobim e Clube da Esquina, nem comento. Não paro de ouvir o  disco completo e quero repetir e repetir, o que comprova a veracidade do que diz o crítico musical e autor do blog Alma Negra, Carlos Calado, no encarte do CD:
"Depois de escutar este disco outras vezes, tenho certeza de que a alegria, a liberdade criativa e a fina musicalidade que o quarteto  "Duo+Dois" transmite nessas gravações também vai contagiar muitos ouvintes"
A mim contagiou e muito... parece um show do Instrumental Sesc Brasil, amei!

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Relembrando 2019 : Faces de Camila em 2019


Relembrando 2019 : Balanço das Metas 2019



Terminando a série “relembramento” do ano e antes de traçar as metas para 2020, tenho que fazer um balanço das metas que tinha traçado para 2019, mesmo em meio à tanta instabilidade, sabendo que o Brasil caminhava rumo a um cenário catastrófico, tracei poucas metas. Será que consegui alcançar alguma?


1-CONTINUAR VIVA: SIM, ESSA CONSEGUI COM LOUVOR, mesmo vivendo num país que está sob um governo que gostaria de exterminar o que eu sou - mulher, negra, historiadora -, e que tantos dos meus tenham sido exterminados esse ano, eu consegui sobreviver e até mesmo consegui  viver, me divertir o um pouco, apesar dos cortes e de tudo de ruim, novamente a retrospectiva do ano foi melhor do que eu esperava ser. Gratidão a Deus, aos Orixás e ao Universo!

2 - ACHAR UM MOZÃO : Meta da vida! Não foi alcançada esse ano, ainda, aliás em 2019 eu estava o tempo todo com o corpo fechado, não tinha condições para me abrir para amores. Em 2020 eu pretendo abrir mais meu coração, mas peço aos pretos que também me ajudem e : MELHOREM!

3- ENCONTRAR OCUPAÇÕES: Por incrível que pareça, esta meta também cumprida. Não da maneira que eu esperava no começo do ano (trabalhando, estudando, escrevendo ou palestrando), mas estive muito ocupada dando um suporte para a minha mãe em seu tratamento de saúde. Só tenho a agradecer pela bênção de terminar mais um ano ao lado de mamãe.

4- AMPARAR MINHA MÃE: Vejam que interessante, quem poderia imaginar que a terceira e a quarta meta iriam se fundir e ambas seriam plenamente cumpridas em um dos maiores desafios que já passei na vida, mas que cumpri junto com ela, com a bênção de Deus e de todos os Orixás!

5- TREINAR BASTANTE: Outra meta cumprida, claro que não como eu imaginei quando tracei essa para o ano, pois nunca imaginava que iria estar tão ocupada, indo em consultas e hospitais o tempo todo, o que me deixava exausta e me fez até engordar um pouquinho pela falta de regras, mas mesmo assim é preciso destacar que não parei de treinar, nenhum momento, mesmo que não tivesse mais aquele pique, ao menos o mínimo para me manter saudável, consegui fazer. Num ano pesado como esse, com tanto hospital envolvido, tenho muito a agradecer por não ter tido nenhum problema com a EM.

Viram só? Não foi tão ruim, na verdade, não mesmo. Bora pensar em quais serão as metas para 2020, em alguns dias !



domingo, 22 de dezembro de 2019

Relembrando 2019: Os melhores do ano de Camila


Tirando leite de pedra de 2019, vamos ver o que consegui destacar de melhor nesse ano que podia nem ter existido:


1 ROLÊ – Esse ano foi o dos roles diferentões, com o final do Todo Domingo Musical na Casa das Caldeiras em maio, eu tive que circular pela cidade atrás daquelas mesmas festas que aconteciam todo domingo aqui no quintal de casa. O Samba do Sol , por ser gratuito, foi muito meu foco e graças a ele conheci o  Espaço Mangaba na Augusta e o Estrella Galicia Estação Rio Verde na Vila Madalena, que por ser perto de casa, virou um  lugar que muito frequentei e onde aprendi me divertir. Mais no final do ano, fui às rodas de samba mesmo na Comunidade do Samba Maria Zélia, no metrô Belém, lugar onde também fui muito feliz, mas de todas as festas, a melhor de 2019 aconteceu mesmo no domingo, 17 de fevereiro de 2019, na Casa das Caldeiras, com o Ensaio pré carnaval do Bloco Lua Vai, organizada pelo coletivo Pardieiro e, gente, o que aquilo? Muito pagode anos 90, muito coração carente, muito calor e ninguém aguentava mais de saudade do carnaval! Que festa inesquecível!

2 MÚSICA - Para ganhar esse prêmio eu tenho que ter ouvido muito essa música durante o ano OU ela, de alguma forma, representasse algo que eu vivi o ano todo. Atendendo a esses dois  critérios teria tido um empate, porque a música que mais ouvi em 2019, em oportunidades distintas (até sonhei com essa música) foi  Temporal Arte Popular, a ela dedico o prêmio de menção honrosa, reforçando que 2019 foi o ano do Pagode 90 na minha vida.  Outra que ouvi e dancei muito nos rolês, nas Caldeiras e também no Rio Verde e que  resumiu minha vida pessoal de 2019, ano em que eu só me defendi dos "boys lixo", foi  CorpoFechado, do  Johnny Hooker (part. Gaby Amarantos). Só esse trechinho define minha postura em 2019:
"Nem vem com esse papo, que eu sei bem quem tu és!
Tu já levou farelo, chora nos meus pés
Tô pouco me lixando em te ver correndo atrás
Não te faz de doido, só te digo vai
Vai me ver dançando
Vai me ver amando
Vai cair pra trás"  

3 LIVRO - Li bastante esse ano. De de Saramago, com o esquisito O homem Duplicado ,à belíssima biografia,do Marinho da Vila Reflexos no Espelho,  mas não tenho como não dar esse prêmio a algum dos romances de  Milton Hatoum , o autor no ano, que me levou tantas vezes à Manaus em diversos tempos e que preencheu meu ano. Poderia dizer que vai ser difícil escolher um deles e  tal, mas não é verdade, apesar de Relado de um certo oriente ter sido um livro que perturbou muito (ainda não consigo entender porque ela enlouqueceu e eu não), Cinzas do Norte ser um baita romance bem estruturado, propriamente dito e até mesmo o mais fraquinho,  Orfãos do Eldorado tenha me deixado saudades, o vencedor é mesmo o romance Dois irmãos, livro excelente, perturbador, cheio de sensações, odores, poesia sobre o qual comentei aqui ... uma história da gente, humanos e suas famílias e  loucuras.

4 FILME - Esse foi o quesito mais concorrido do ano, porque vi muitos filmes nesse ano estranho! Como frequentei muito o Cinesesc, acabei vendo filmes nacionais como Bacurau, Sócrates; A serpente.  E vi também filmes africanos, como os curtas da Mostra de Cinemas Africanos, que meio que mudaram minha vida na época, e depois o belo filme queniano Rafiki. Houve também os clássicos, filmes dos meus diretores, o maduro  Dor e Glória de Almodóvar e o divertido   Era uma vez m Hollywood, de Tarantino. Mas o incrível é que quem vai levar esse prêmio é um filme antigo, "Moonlight Sob a luz do luar"(2016), que fala de coisas tão diferentes da minha vida, mas que mesmo assim me arrebatou tanto, de tantas formas, especialmente pela estética blue/black. Eu sei o que é estar diante de uma pele negra,tão negra que fica azul e que parece que nem existe.Pelas luzes de Moonlight,ele foi o filme do ano.

 5 FOTO - Não teve nem concorrentes: foi essa linda foto minha,  tirada pelo fotógrafo Marcelo Justo/ UOL, num Samba do Sol nas Caldeiras. Eu amei ser a  MUSA DO SAMBA  <3 span="">


6 BEBIDA - Duas concorrente : água e água com gás. A que faz cosquinha na boca ganhou de lavada!

7 SHOW - Apesar do sonhado show do  Jorge Ben no Dia da Consciência Negra na Praça da República, o melhor show que assisti em 2019 foi  Ilê aiê convida Paula Lima e Elen Oléria na Virada Cultural 










8 ROUPAS E ACESSÓRIOS -  Muitos concorrentes. Começo com a menção honrosa ao gloss, que fez meus lábios brilharem muito

 Mas   vou escolher uma foto onde estou com a roupa e o acessório do ano : os brincos Viva o Samba que usei o ano inteiro em todos os sambas que fui, recebendo elogios e a  blusa de moletom Fun cinza, costurada pela amiga Andressa, que me aquececeu nos dias frios

9 CONQUISTA DO ANO  - Foi ter conseguido passar o ano todo ao lado da minha mãe no seu tratamento, que nunca foi fácil e mesmo eu  tendo ficado exausta, não deixei de estar presente,  não pude deixar de ir à academia, nem à terapia, nem aos rolês. Vencemos essa etapa e eu me sinto muito bem em poder dizer isso.
 

10  PRETO DO ANO  -Ao contrário dos anos passados, nesse ano, embora tenha conhecido alguns que me fizeram sentir uma princesa, uma mulher especial por alguns minutos,no final não era amor, era cilada, então esse ano não houve vencedor desta categoria. Eu tinha pensado em trocar por "Beijo do ano", ai sim teria concorrentes, pois mais de um boy me deu aquele beijo de posse pegando na nuca e que  ao final, eu só podia recitar  o verso de Hilda Hilst "dize de mim, és minha"  , mas não posso comunicar a nenhum deles o resultado, então deixei para lá. Em 2020: Pretos, melhorem!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

“Afro é todo o Brasil e está dentro da gente”: Os Afro sambas de Baden Powell (1990)


 “Afro é todo o Brasil e está dentro da gente”: Os Afro sambas de Baden Powell (1990)
Camila Rodrigues (publicado originalmente em 16.10.2018)

Conforme havíamos lembrado no final do texto sobre os Afro-Sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes, de 1966, em 1990,  dez anos depois da morte de Vinicius em 1980, Baden Powell regravou as oito faixas do álbum original e acrescentando mais três músicas ainda inéditas, inaugurando uma outra fase na história do disco. Inicialmente a ideia da nova gravação surgiu do convite de um banco a Baden Powell, pois  gostaria de presentear seus clientes com uma peça original e então gravada com toda sorte de tecnologia já disponível, coisa que falta na primeira gravação do álbum tido como dos mais importantes da história da música brasileira. Dois anos depois o disco foi lançado na França e posteriormente no Brasil pela gravadora Bicoito Fino.  Nesta continuação do legado dos Afro-sambas, além do violonista Baden Powell participando como compositor, arranjador, diretor musical e vocalista, o disco também contou com os vocais do Quarteto em Cy,  um time de músicos reconhecidos como Ernesto Gonçalves no contrabaixo;Paulo Guimães na flauta; Sutinho na bateria, tamborim e agogô; Flávio Neves no afoxé; Alfredo Bessa no ganzá, cuíca atabaque, tamborim  e berimbau; Flavio Neves no atabaque, no banzá, no surdo  no berimbau.

O disco contém onze faixas, dez de autoria dividida entre Baden e Vinicius e uma canção que abre o trabalho, Abertura, apenas composta pelo violonista. Além das oito músicas já gravadas na primeira versão, agora dispostas em ordem diferente, a obra conta com as canções inéditas, a terceira faixa, Labareda, e Variações sobre Berimbau. Como já destacamos a herança afro do primeiro disco, aqui comentaremos brevemente uma ou outra alteração percebida na comparação entre as gravações originais e as novas, mas nos debruçaremos  sobre esta tríade de faixas inéditas, comentando mais detalhadamente suas ligações com o legado cultural afro.

As  regravações do primeiro álbum começam a partir da segunda faixa, com a canção sobre a peleja dos orixás contra a divindade das folhas no  Canto de Ossanha ,  na qual as cordas dos violão de Baden brilham na contestação “do homem que cai no canto de Ossanha traidor”, com o vocal de fundo do Quarteto em Cy. Na quarta faixa retomamos ao tema de Tristeza e Solidão de forma bastante melancólica e na quinta faixa, Canto de Pedra Preta, assim como na versão original, a entidade volta a ser louvada com uma marcação percussiva forte, remetendo ao Samba de Roda. Na sexta faixa retoma-se o sofrido  Canto de Xangô, com uma percussão bem marcada, mas unida ao som delicado das flautas  que combinam com o vocal do quarteto de vozes femininas que clamam ao orixá para, enfim, morrer de amar. Nas faixas seis e sete, Bocochê e Canto de Iemanjá, ouvimos com uma maior qualidade de gravação, os dois belos afro-sambas amplamente conhecidos. Na penúltima faixa do disco, Tempo de amor, destaca-se o ritmo mais acelerado da disputa entre o violão de Baden e a percussão fortemente marcada, que vem sempre pontuada pelo canto das Cys, no belo louvor contra o amor em paz. Mas a regravação que mais impressiona é mesmo a da última canção, o Lamento de Exu, que na versão original era uma peça instrumental, caracterizada como um lamento vocal, agora já  ressalta fortemente a percussão atuando junto ao violão de Baden, e mesmo continuando sem letra, a canção é pontuada com chamamento ao orixá iorubano Exu em suas diversas manifestações como Tiriri, Marabô, Lalu, e na sequencia o violão dá lugar a percussão, como se a divindade convocada já estivesse presente, ouvem-se palmas de louvor ao orixá mais conhecido e considerado como mais próximo do ser humano.

Sobre as três canções inéditas do álbum, a canção instrumental, Abertura, é o que poderíamos chamar de uma síntese sonora dos Afro-sambas, aquele samba mais nego sobre o qual falamos no texto sobre o primeiro disco, e não sendo nenhuma das cantigas conhecidas como Afro-Sambas, nos traz um um ambiente sonoro, legitimando os Afro como um estilo musical próprio. Nesse álbum tudo é muito melhor trabalhado, expondo aos nossos ouvidos a presença de outros instrumentos antes ocultados pelo protagonismo do sensacional violão de Baden. Na segunda música inédita, a terceira faixa Larareda, novamente um samba de roda tão utilizado em rituais religiosos afro-brasileiros,  surge uma figura feminina, remetendo a  entidade Pomba-Gira do mesmo nome que a canção e que, no afro samba,  é caracterizada assim:

Labareda
O teu nome é mulher
Quem te quer
Quer perder o coração
Rosa ardente
Bailarina da ilusão
Mata a gente
Mata de paixão

reforçando a educação sentimental de Vinicius de Moraes, na qual viver é amar e amar é sofrer. Como nos lembra o artigo de Ricardo de Paula, se nos terreiros, entre outras coisas, a figura da Pomba-Gira é a responsável por fornecer aconselhamentos de toda a ordem, mas especialmente nos assuntos afetivos, a presença desta canção no disco experimenta novamente a exposição do tema a partir do imaginário afro-religioso.

Na nona faixa do álbum, a inédita Variações sobre Berimbau, vamos encontrar uma ligação mais direta com a história do primeiro disco, quando nos deparamos com o resultado musical da influência sofrida por Baden Powell, depois de ouvir pela primeira vez na Bahia ainda na década de 1960, o som do instrumento de percussão chamado berimbau. Conforme nos conta o músico e pesquisador musical Carlos Sandroni,

O beribaum se tornou a principal referencia musical da capoeira, embora também fosse ‘usado pelos afro-brasileiros em suas festas e sobretudo no samba de roda, como até hoje ainda se vê, se bem que muito raro e como não deixa de alertar o historiador Mauricio de Barros Castro, em sua tese Rosa do mundo: Mestre João Grande: entre a Bahia e Nova York, o berimbau fazia parte da cultura baiana, tendo sido apropriado pela vadiação não apenas para cantar e tocar, mas também para avisar a chegada da polícia desde a época em que jogar capoeira era proibido, o que sublinha a importância desse som para a história do negro brasileiro. Ainda que já na década de 1950 o compositor baiano Oscar da Pena, O Batatinha, tivesse utilizado o repertório da capoeira em suas composições, foi mesmo com as canções de Baden e Vinicius da década seguinte que o tema ganhou notabilidade. Segundo depoimento do etnólogo baiano Waldeloir Rego sobre nosso compositor, em seu Capoeira Angola: Ensaio sócio-etnográfico :

Aproveitando sua estada na Bahia, tive a oportunidade de conhecê-lo e trocar ideias sobre a música popular brasileira no presente. Baden não perdeu um só instante,às voltas com o capoeirista Canjiquinha (Washington Bruno da Silva), de quem recolheu muitos toques de berimbau e suas respectivas cantigas .

Algumas dessas cantigas são entoadas por Baden na faixa nove do disco, como:

menino quem foi teu mestre?
Meu mestre foi Salomão
A ele eu devo dinheiro, saber e obrigação
Quando  o segredo de São Cosme quem sabe é São Damião
Ê ê Camará
Paranauê, paranauê Camará

ou assumindo a alusão ao mundo da capoeira: “Capoeira é pra valer/Joga bonito que eu quero aprender”.    Segundo a tese de Mauricio B. Castro citada acima,  embora pouco se fale disso, em meados do século XX a capoeira, “não apenas sua temática, mas também sua musicalidade e linguagem” foram absorvidas por uma geração de  compositores brasileiros. Musicalmente esta influência estava sintetizada no som do berimbau, que além da capoeira, também fazia referência  e nesse contexto que ela contribui na composição nos Afro-sambas pois,segundo Castro,em 1963, um ano antes do golpe militar, Baden Powell e Vinicius de Morais lançaram a primeira música de uma série de Afro-sambas,como ficariam conhecidas as canções da dupla que remetiam à cultura afro-brasileira. A música se chamava Berimbau, instrumento de capoeirista que Baden imitava ao violão.

Sobre os afro-sambas, é preciso lembrar um acontecimento posterior a sua última gravação , já perto de sua morte em 2000 Baden se converte ao  culto evangélico, este que costuma considerar como errados posicionamentos diferentes ao seu, e passa a repreendê-los  duramente,  o que o levou nosso compositor  a renegar alguns afro-sambas, como podemos ler em entrevista dada em 1999, na qual afirma que:

Afro é todo o Brasil. Está dentro da gente. Eu e Vinicius gostávamos.(…)  Os caras pensam que fizemos música para macumba, candomblé. Não tem nada disso, não. É coisa de cultura.(…) Sou evangélico. Minha religião é Cristo. A briga dos evangélicos é com o Candomblé mesmo, não com a música. Você pode tocar o que quiser.(…) Não posso louvar, mas posso falar sobre o caso e tudo. Está entendido? “Berimbau” e “Consolação” são afro-sambas, posso fazer. “Canto de Iemanjá”, não, estaria contribuindo para uma coisa errada. A música, se existe, ela existe, não tem problema. Posso tocar no violão, mas não é o caso. Não é proibido, interditado, nada disso. Posso até falar muito bem, mas não louvo.

Independente do posicionamento evangélico extremista de Baden, sobrevoamos os afro-sambas em busca de marcas da herança africana naquelas composições, as encontramos bem fortes, tanto no registro da década de 1960 quanto no da década de 1990, lembrando que, ainda tenhamos esporádicas tentativas anteriores, de fato foi com esse álbum que se deu a popularização do uso dos elementos da cultura e religião afro na canção brasileira, e até hoje, ao ouvi-lo, os negros brasileiros saúdam uma identificação ali presente, como podemos observar nesse interessante comentário de Izaías de Oliveira no vídeo do disco de Baden no Youtube :

“Toda vez que escuto este disco tenho a certeza que DEUS me fez negro por um motivo ser melhor! (sem ofensa racista), Toda melodia deste maravilhoso disco foi baseado na cultura, etnia e religião africana. Baden Powell usou de toda sua performance de excelente violonista e musico para esta que uma obra de inspiração única!”

Encantados, nos despedimos dos afro-sambas, destacando tantas questões por eles levantadas que foram e ainda não importantes para se pensar a presença da cultura afro na música nacional e, mais uma vez, convidamos os leitores a para compartilhar e comentar estes discos sensacionais, bem como as questões por eles levantadas.

Refências

POWELL, Baden. Os Afro Sambas . Rio de Janeiro (Acesso 29 jul 2018)
BESOURO Anêmico (blog). Os Afro-sambas de Baden Powell (1990). 10 de agosto de 2015.
Os Afro-sambas (1990).

Bibliografia

BARROS, Mariana Leal de. Labareda, teu nome é mulher: análise etnopsicológica do feminino à luz de pombagiras.392 f. Tese (Doutorado em Psicologia)- Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2010
CASTRO, Mauricio Barros de. Rosa do mundo: Mestre João Grande: entre a Bahia e Nova Yourk. 2010. 277 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo.
PAULA, Ricardo de. A figura da pomba-gira. In: Blog Loja Axé.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
REGO, Vandeloir. Capoeira Angola: Ensaio sócio-etnográfico. Editora Itapuã, 1968
SANCHES, Pedro Alexandre. Evangélico, músico não diz mais “saravá”.In:  Folha de São Paulo, São Paulo 13 de julho de 1999.
SANDRONI, Carlos. ANDRONI, Carlos. Adeus à MPB. In: Berenice Cavalcanti; Heloísa Starling; José Eisenberg. (Org.). Decantando a República: inventário histórico e político da canção popular moderna brasileira. v. 1 Outras conversas sobre os jeitos dacanção. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004, p. 23-35.
SILVA, Isabela Martins de Morais. É,não sou : Ensaios sobre os afro-sambas no tempo e no espaço.2013. 290f.Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual Paulista, Araraquara.
Versão recente melhora clássico de Baden. Folha de São Paulo. 29 fevereiro, 2008. Disponível em : (Acesso 29 jul 2018).

Um samba mais negro : Os Afro Sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes (1966)



Um samba mais negro : Os Afro Sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes (1966)
Camila Rodrigues (publicado originalmente em 5 de outubro de 2018)
“Tem sete cores sua cor
Sete dias para a gente amar”
(Canto de Xangô – Baden Powell e Vinicius de Moraes)

Ainda que já tenhamos abordado outros artistas na coluna História Cultural, é neste texto que trataremos daquele que é reconhecido oficialmente na história da canção brasileira como o álbum que introduziu a cultura negra na canção nacional, que é o disco ”Afro-Sambas”, do violonista Baden Powell e do poeta e diplomata  Vinicius de Moraes, primeiro gravado em 1966. Desde o início a ideia dos compositores  era a de gravarem um álbum conceitual, ou seja, que se propusesse a ser mais do que um simples  disco  musical, pois também abordaria, de forma bastante clara, pela sonoridade, o que  Isabela Silva (UNESP) chamou de questões “poético-políticas” importantes : o conteúdo conceitual dos Afro-Sambas versava sobre a  questão racial.

Mesmo que as historinhas sobre o nascimento deste álbum sejam marcadas por uma zona de penumbra, é o próprio Baden Powell quem, na entrevista para o programa Ensaio (TV Cultura), nos conta que seu encontro com Vinicius de Moraes se deu em meados da década de 1950, quando ele trabalhava como músico em uma boate  em Copacabana (RJ) e esta era frequentada por artistas como Vinicius de Moraes e seu então parceiro musical da Bossa Nova Tom Jobim, que estavam compondo para a  trilha sonora da peça teatral  Orfeu da Conceição (1954), escrita por Vinicius, o que faz desta peça um pano de fundo  para a própria ideia dos Afro Sambas.

Nesta peça, Vinicius transpõe a tragédia passional  grega de Orfeu à realidade das favelas cariocas. Segundo o blog Efemérides do éfemello, que apresenta algumas imagens de época, durante a exibição uma declaração de Vinicius era exposta ao público :

            Esta peça é, pois, uma homenagem do seu autor e    empresário, e de cada um dos      elementos que a          montaram, ao negro brasileiro, pelo muito que já     deu ao Brasil mesmo         dentro das condições mais     precárias de existência.– Vinicius de Moraes.”

Embora pouco conhecido atualmente, cabe lembrar que aquele espetáculo marcou a primeira vez que  todo o elenco de uma peça teatral, que era composto em sua totalidade de atores negros, pisava no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, causando reações encantadas mas também polêmicas por conta do racismo.  Vinicius parecia querer enfrentar a controvérsia usando a favor disso toda a visibilidade que seu nome de poeta e compositor lhe garantiam. Em 1959  a peça teatral, que Vinicius demorou doze anos para concluir, inspirou o francês Marcel Camus para escrever o roteiro de seu filme Orfeu Negro, que foi gravado no Brasil, contendo apenas atores negros e que depois ganhou uma série de prêmios como a Palma de Ouro e o Oscar de melhor filme estrangeiro. Em 2018, quando a questão da representatividade negra virou assunto capital pelo sucesso do filme de herói da Marvel, Pantera Negra, com seu elenco todo negro,  é interessante resgatar e problematizar a antiga película que conta a história de Orfeu nos morros cariocas .  Dizemos isso porque, ainda que estivesse ciente de que seu olhar para o negro residente no morro era externo, nos conta  Marina Malka, que  o próprio Vinicius, só assistiu ao filme de Camus quando ele estava pronto e o detestou por completo, alegando que o filme mostrava uma imagem estereotipada do brasileiro  como pobre alegre e alienado, o que não se encontraria em sua peça, ou seja, não bastava apresentar os negros, era preciso atentar para a forma como os representava. Trazemos tudo isso para começar a sublinhar o interesse de Vinicius na cultura negra e, consequentemente, em sua musicalidade.

Foi neste contexto que ocorreu a aproximação entre os parceiros musicais Vinicius e Baden, o que o instrumentista  explica  em um depoimento disponível no Youtube:

 (certa vez) nós conversamos sobre a Bahia, que eu também já conhecia e um pouco essa coisa de Candomblé, Vinicius também,  e eu por outro lado tinha mais acesso a isso porque eu era do subúrbio, Vinicius era diplomata e eu sabia dos negócios de Candomblé, essas coisas.

Conta-se que a dupla de músicos ficou internada no apartamento de Vinicius no Rio  por cerca de três meses até terminarem de compor as faixas que seriam gravadas de forma ainda muito rudimentar pelo Selo Forma, de Roberto Quatin resultando em uma sonoridade  cheia de ruídos para nossos ouvidos no seculo XXI.

O disco contém oito faixas em LP e por isso dividido em duas partes, ou lados, com quatro músicas cada um e embora não  possamos  recriar exatamente o impacto daquele álbum para um ouvinte na década de 1960,  na leitura do álbum  feita por Isabela  Silva (UNESP), considerar a  divisão dos dois lados pode nos ajudar a sintetizar e conceber uma opinião geral sobre o disco. Segundo ela o lado A nos apresentaria uma sonoridade muito ligada a referências e musicalidades mais baianas e o lado B mais cariocas.

O disco começa com “Canto de Ossanha”, sua faixa mais famosa, regravada por outros interpretes e bastante conhecida , sua letra  faz referência a lendas do orixá Ossanha,  que segundo a Mitologia dos Orixás, era  invejado por conhecer todos os segredos das folhas e que no samba  aparece como alguém cujo canto se deve temer :

Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha, traidor
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor

Na faixa seguinte, “Canto de Xangô”, ouvimos uma das mais fortes representações de negro na canção popular,aquele  que carrega em si uma rica ancestralidade:

Eu vim de bem longe
Eu vim, nem sei mais de onde é que eu vim
Sou filho de Rei
Muito lutei pra ser o que eu sou
Eu sou negro de cor
Mas tudo é só amor em mim

Também nesta canção somos introduzidos à ideia que vai sustentar as letras dos Afro-sambas em geral, a de que a vida é amar e  amar é sofrer :

Mas amar é sofrer
Mas amar é morrer de dor

Nas duas últimas canções do primeiro lado do LP entramos diretamente nas referências ao tema marítimo do cancioneiro de Dorival Caymmi, mais especialmente o desenvolvido em seu álbum Canções Praieiras (1954), no qual Caymmi revoluciona a forma de tocar violão pela influência sutil de formas refinadas da musicalidade popular como o jazz, aliada a canções inspiradas nas cantigas de trabalho dos pescadores baianos, que certamente influenciaram muito nosso violonista fluminense. Porém cabe lembrar que, apesar de reconhecido como grande músico popular brasileiro, Baden Powell estudou muito os compositores clássicos e esse tema era um dos que o uniu  a Vinicius de Moraes, conforme ele mesmo conta na sua entrevista para o programa Ensaio. Mas no que se refere ao repertório popular, um diálogo com o imaginário marítimo da Bahia de Caymmi nas Canções Praieiras se faz presente ali. No belo tema “Bocochê”, sofrendo de amor, uma moça busca reencontrar  seu perdido amado, nos braços da morte, no fundo do mar:

Menina bonita, pra onde é “qu’ocê” vai
Menina bonita, pra onde é “qu’ocê” vai
Vou procurar o meu lindo amor
No fundo do mar

Podendo responder diretamente à narrativa de tantas letras do disco Canções Praieiras (1954) de Caymmi, nas quais muitas vezes se narra o desaparecimento  de pescadores no fundo do mar. Na canção dos  Afro-sambas, além da letra, também a melodia nos leva ao fundo do mar quando entoa :

nhem nhem nhem
é a onda que vai
nhem nhem nhem
é a onda que vem,

remetendo ao vai e vem das ondas do mar. Como já estávamos no fundo do mar , a última canção do lado A é o belo  “Canto de Iemanjá”, um lamento de amor e morte:

Se você quiser amar
Se você quiser amor
Vem comigo a Salvador
Para ouvir lemanjá
A cantar, na maré que vai
E na maré que vem
Do fim, mais do fim, do mar/
Bem mais além
Do que o fim do mar
Bem mais além

Mas para além das influências baianas e considerando que todo samba tem em si uma raiz afro, é preciso destacar que o som que Baden estava instituindo ali era um tipo que ele chamou de “afro-brasileiros” e que, em depoimento disponível no Youtube,  assumiu ter sido ele  quem começou  a criar, numa interpretação de fora a respeito da cultura do negro:

fui até eu que dei uma levantada no tipo de samba, porque tem um samba mais escuro, mais negro, que tem raízes mais negras. Tem um tipo de samba que é assim, é um samba lamento, esse samba é que tem as raízes mais próximas ao afro.

E reforçando que estava falando de negros brasileiros, conclui com uma referência a História do Brasil ao afirmar que o afro samba é um lamento especial devido ao estilo do cântico, que vem dos cantos gregorianos, que quem trouxe para o Brasil foi os Jesuítas, quando vieram catequizar os índios aqui. Tudo isso tem uma ligação.

Musicalmente, além de Caymmi, os compositores dos Afro-Sambas também foram diretamente afetados pelo LP  Sambas de Roda e Candomblés da Bahia (196?), que hoje está disponível na íntegra no Youtube, e que na época Vinicius havia ganho de um amigo baiano  e mostrou a Baden, encantando- o com a beleza da sonoridade daquele som tão próximo ao que se ouve em rituais e festas do Candomblé e também da Umbanda.

Como já apontamos, nas faixas do lado B vemos aparecer mais referências  ligadas ao cenário afro-brasileiro do Rio de Janeiro. Na primeira faixa temos uma das mais sofridas canções do álbum, “Tempo de amor”, onde ressurge a ideia de que amar é sofrer, que perpassa todo o álbum, e aqui ressurge com toda força:

Ah, bem melhor seria
Poder viver em paz
Sem ter que sofrer
Sem ter que chorar
Sem ter que querer
Sem ter que se dar
Mas tem que sofrer
Mas tem que chorar
Mas tem que querer
Pra poder amar
Ah, mundo enganador
Paz não quer mais dizer amor

Para o professor de literatura José Miguel Wisnik (USP), na década de 1960 o então poeta de livro Vinicius de Moraes devassou a fronteira entre a poesia escrita e a cantada, gerando gerações de poetas letrista.  Nós lembramos que este compositor também inaugurou uma espécie de educação sentimental que aposta na vida como uma experiência de amor e paixão, com suas alegrias e sofrimentos, o que é uma característica das composições populares de Vinicius de Moraes e certamente conversava bastante com o ideário poético de autores como o  poeta chileno Pablo Neruda, que era seu amigo.

A segunda música do lado B, “Canto do Caboclo Pedra Preta” traz à tona uma experiência que teria sido recolhida num terreiro carioca, cujo pai de santo era o polêmico Joãozinho da Goméia, sendo o Pedra Preta a entidade que este incorporava. Segundo a leitura de Isabela Silva (UNESP),

A canção começa com a voz de Vinicius de Moraes cantando solo “Olô Pandeiro”, e então ouvimos o soar dos atabaques, e então “Olô Viola”, quando ouvimos o dedilhar do violão de Baden, numa relação direta entre a evocação do instrumento percussivo e som do atabaque, e do instrumento de cordas, e o violão de Baden,

remetendo a todo um imaginário musical popular brasileiro. Segundo levantamento do IPHAN lembrado por Silva, o samba de roda e também  a viola são muito utilizados nos cultos aos caboclos de todo o Brasil. Na terceira faixa deste lado, “Tristeza e Solidão” canta-se:

Sou da linha de umbanda
Vou  no babalaô
Para pedir pra ela voltar pra mim
Porque assim eu sei que vou morrer de dor,

retomamos à temática do viver é sofrer por amor, mas dessa vez citando a “linha de Umbanda”, que pode ser a própria  religião afro brasileira  ou mesmo o Candomblé nação Angola, que também cultua entidades como os caboclos.

Por último temos o belo e triste “Lamento de Exu”, uma peça instrumental, pontuada por lamentações vocálicas, abrindo os caminhos de saída deste  álbum,  que desde o início procurou desvendar as sete cores contidas na pele negra, o que na década de 1960 era, e ainda é, uma questão política séria a ser abordada.

Porque este disco é tão importante,  lembramos que na década de 1990 Baden Powell regravou a obra, iniciando uma nova fase para o projeto e sobre isso trataremos em um próximo texto. Por hora deixamos o convite para você compartilhar e comentar este post sobre um disco tão sensacional como é este.

Refências

Filme, discos e vídeos

CAYMMI, Dorival. Canções praieiras Odeon, 1954.
Orfeu (Filme) Direção: Marcel Camus. Produção Sacha Gordine. França, Itália e Espanha , 1959.
Bibliografia

MÁXIMO, João. A reinvenção de dois mestres do Afro samba. Rio de Janeiro, O Globo, 07 out, 2016.
NERUDA, Pablo. Cem sonetos de amor. Trad. Carlos Nejar – Porto Alegre (RS) : L & PM, 2007.
OS AFRO-SAMBAS DE BADEN E VINÍCIUS. Revista Piauí, 18 de mar 2015. 
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
SÁ, Elvis de. Muito além da representatividade, Pantera Negra é histórico. SILVA, Isabela Martins de Morais. É,não sou : Ensaios sobre os afro-sambas no tempo e no espaço.2013. 290f.Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual Paulista, Araraquara.
TORRES, Roberto. Sambas de Roda e Candomblés da Bahia – O disco que inspirou os Afro Sambas em Baden e Vinicius. In Jornal A Tarde, de Salvador, Bahia, em 06/12/2003.
WISNIK, José Miguel. A Gaia ciência – Literatura e música popular no Brasil. In: MATOS, C. N.; MEDEIROS,F.T e TRAVASSOS, E. (org). Ao Encontro da palavra Cantada: poesia, música e voz. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2001.