terça-feira, 29 de janeiro de 2019

O Banquete de batuques de Michele Abu

Michele Abu em foto de divulgação 

O show do Instrumental dessa semana foi da percussionista Michele Abu, que é uma instrumentista muito foda... toca tudo que é percussão, de bateria, a atabaque, tambor, lata e também canta, toca chocalhos, flautas indígenas ... ao final a Patricia Palumbo perguntou "quantos instrumentos você acha que tocou hoje?" e ela disse, humildemente "nem contei" rs... 

Um momento do show de Michele Abu

Mas o som que ela faz não é apenas modal, aliás o show começa com um metal poderoso e ela na bateria, o rock vai dando a base sonora do show, com pontos de música  indígena, música eletrônica e a participação de  amigos musicistas que tocaram trompete, violoncelo, sanfona etc ... que BANQUETE MUSICAL! 
Um aperitivo do som, para se ter uma ideia, não é o melhor momento do show, mas foi quando eu lembrei de gravar, e mostra a Michele circulando entre os instrumentos 



Sobre os músicos, no panfleto do Instrumental constam: Michele Abu (bateria/percussão); Rovilson Pascoal (guitarra/microcorg/volões);Ricardo Prado (teclado/sanfona);Fábio Sá (baixo) ... mas ela trouxe alguns amigos, tocando outros insturmentos, dos quais não me lembro o nome. Um deles é esse de cabelo black power, que é muito simpático e  é um músico erudito, formado... apesar de não parecer. Segundo ele próprio, ele atrapalhou tanto as orquestras com seu black, pq ninguém enxergava o músico da frente , que migrou pra musica popular 😂
Bom mesmo foi ter estado lá, sentido a energia detox, mas vale lembrar que em um momento ela começa uma música, bem metal, com o canto de Oxum : "Eu vi mamãe Oxum na cachoeira, sentada na beira do rio..." nunca tinha imaginado nada assim antes... foi maravilhoso! No debate final alguém perguntou sobre influências e ela disse nomes que eu conheço e admiro, como Walter Smetak, Sandra Peres e  Paulo Tatit) (Palavra Cantada),Uakiti, Frederico Poppi e etc,  o que não me espantou o fato de eu ter gostado tanto de seu som

domingo, 27 de janeiro de 2019

Musa do carnaval 2019

Foi agora, em agosto, que descobri que no dia 27 de janeiro de 2019  o fotógrafo Marcelo Justo/UOL me fez  musa do esquenta do Carnaval , até com reportagem do UOL e tudo mais 
Aquele dia o Samba do Sol na Casa das Caldeiras estava delicioso e eu e minha amiga Carol caímos mesmo no samba. 

Momentos para guardar na memória, para sempre !

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Frederico Puppi no Instrumental SESC Brasil : Sons e palavras de um viajante

Frederico Puppi e o violoncelo tradicional, foto de divulgação 

No Instrumental de ontem tivemos a oportunidade de ouvir Frederico Puppi, com seu violoncelo moderninho, misturado  às inserções eletrônicas e foi como viajar com um viajante.
Se na  semana passada tivemos aquele repertório todo eletrônico, desta vez tivemos um músico mais tradicional, mas com fundamentais inserções eletrônicas e confesso que agradou meus ouvidos do início ao fim, pensei e senti o tempo todo : Vim aqui para isso.

A apresentação foi voltada ao seu disco Marinheiro de Terra Firme, e é mesmo como ele disse ser : o som dos náufragos que sobrevivem nas cidades do mundo. A primeira  referência bem leve que eu fiz o ouvir aquele som, foi a algumas sonoridades 'mouras' de João Bosco, especialmente no disco Bosco e  viagem paradisíaca que ele nos propõe , e talvez eu pudesse até ter comentado na conversa final, mas como o show foi tão intenso eu acabei me esquecendo e só voltei a fazer a referência agora, ouvindo o disco de Puppi. Ou seja, ainda que eu não saiba explicar, e que eu ache que o "marinheiro"  nem conhece esse disco,  ela existiu.

Para o público fiel do Instrumental, como eu, Puppi é um artista diferente porque ao contrário da maioria dos instrumentistas que falam apenas pela musicalidade, ele é quase teatral, expressa no corpo a mensagem que quer passar no violoncelo que ele mesmo criou (e explicou como criou) e especialmente é um  conversador, comenta com palavras, em um português perfeito, quase tanto quanto com sons o trabalho que fez. A gente adora, eu adoro.

Em suas  pequenas narrativas eu mergulhei no O Narrador de Walter Benjamin: falamos dele, que é um músico italiano, nascido nos alpes, e que se tornou um viajante, que já não sabe exatamente onde mora nesse mundão e vem contando histórias "das alpes" ("onde  se ouve o mais profundo silêncio nas iluminadas manhã, depois de uma noite de nevasca"), do sertão ("chão laranja e céu azul, a perder de vista", dois lugares com "pessoas com casca por fora, mas com coração gentil dentro, de onde sai música modal", propriamente dita, nada tonal soa ali, dai a aproximação com a sonoridade oriental), do sul da Itália e sua alegre  Tarantela ... tantas histórias e muita simpatia! 

O público do instrumental ontem estava mais normal, não estava tão lotado como se fosse um  festival, como na semana passada, mas cheio, só que sentei perto de pessoas desrespeitosas com o músico, que falavam o tempo todo, bem desagradável... 
Nas inserções eletrônicas, para o show, Puppi fez comentários sonoros e políticos (nunca politiqueiros) e o público acolheu e respondeu : tocou uma versão de Bella Ciao, o que até poderia não ser um comentário tão político em relação à situação brasileira e do mundo que flerta com fascismo, já que ele inseriu bastante som italiano nos samples, mas a seguir não deixou dúvidas inserindo, em alto  bom som, aquele trecho magnifico do discurso de Marielle Franco no qual ela diz que não ia permitir que interrompam a fala de uma mulher eleita! Foi de arrepiar e, ao fundo da platéia, uma mulher gritou "Marielle vive" e foi aplaudida!
Por último, há que se comentar que além de ter tocado  a delicada útima faixa do disco, Pequena Música Para Um Grande Momento, onde são sampleados sons de crianças brincando, surgiram as crianças outras no show : Anita, a sobrinha de dois anos de Puppi, que mora na Irlanda e que inspirou uma das canções mais criativas do disco e que leva o seu nome e também uma garotinha de tranças, com uns 7 ou 8 anos, sentada com os pais na minha frente,  e cujas reações à música foram de se fazer notar: se era triste, ela ficava apenas ouvindo, mas se tinha ritmo e animava, batia palmas, fazia gestos com as mãos, mostrando que, talvez, estivesse aproveitando e se divertindo mais do que todo mundo. 
 Pelo telão, em vídeo, uma amiga de Puppi , da qual infelizmente não me lembro o nome, comentou que o som dele lhe parecia coisa de criança, no sentindo mesmo de CRIAR ... e não é que é mesmo?
Adorei!
UM PLUS: Um dos sonhos do espetacular  Puppi, segundo ele próprio, é conhecer pessoalmente o Jaques Morelenbaum . Meu também, nego, mas pra você deixo até minha senha que peguei há anos, porque sei que desse encontro de vocês deve sair um som MUITO MARAVILHOSO! 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Bonecas Makena e a identidade negra


"EU GOSTARIA QUE TODAS AS CRIANÇAS NEGRAS TIVESSEM UMA BONECA NEGRA PORQUE É MUITO IMPORTANTE PARA A IDENTIDADE" Lucia Makena (professora, arte educadora e bonequeira)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Primeiro Sesc Instrumental 2019: Carlos Trilha!

chamada pro show de Carlos Trilha

Assim como no ano passado, comecei janeiro feliz e contente,  planejando ir ao instrumental toda segunda feira... sabendo que, nos dias de calor de janeiro,  o ar condicionado trabalha contra mim, fui de regata e coletinho. Fazia muito tempo que não vinha ao Instrumental... o cenário está diferente,  mas os cinegrafistas, que tinham sumido, retornaram, já tocados pelos dados do tempo...como acontecia tantas vezes antes, eu nem olhei quem se apresentaria, queria mesmo é ouvir  a diversidade da música instrumental, porque quase sempre, me agradou muito. A música instrumental é tão surpreendente, tão sensacional, ouvir semanalmente, como um ritual, sem preconceitos, me ensinou muito e apurou demais  meus ouvidos! Hoje foi uma experiência nova, inédita para mim, ouvimos Carlos Trilha e sua música eletrônica, muitos samples, sintetizadores, sequencers e drum machines etc... o teatro estava lotado, uma beleza essa viagem diferente, meio  pop, meio  rock progressivo, bem bonito. No começo confesso que estranhei bastante, mas como ele é uma simpatia, não pude não querer tentar ouvir direito, com mais calma.Antes da metade do concerto eu estava totalmente imersa na música, como é frequente no instrumental.Quando sai fiquei pensando que  eu tinha vivido uma das melhores experiências que o Instrumental pode me oferecer: me apresentou um som completamente  novo, que nunca ouviria em outra ocasião, me desvirginou para  esse som e foi muito bom. No debate final, um dos mais concorridos que eu vi, logo saquei que os músicos aos quais se referiam, os equipamentos (eles chamam de instrumentos) e até a linguagem mesma era outra: eu estava em outro mundo, num país musical estrangeiro... adoro visitar esses lugares sonoros!
Semana que vem vamos de novo com música eletrônica com Frederico Luppi, quero ver porque é de graça, porque é um curso e  quem sabe eu até não aprenda um pouco essa linguagem? Bora lá!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Infância da minha mãe (década de 1940)



Maria Regina Moreno, 2 anos, década de 1940

MÃE NA INFÂNCIA - Um registro de infância na década de 1940. Segundo ela própria:
 "...minha madrinha mandou fazer quando eu tinha 2 anos. Assim minha mãe me falava. Bonita, né? A mesma carinha (risos)" D. REGINA

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O Mito - Augusto de Campos

Poema de "O Mito", de Augusto de Campos, jan, 2019

Oxum Ijimú

Oxum Ijimú

OSUN IJIMÚ.
Ijimú é ligada a Nanã e por esse fato não se deve iniciar em homens, pois Nanã estará sempre muito perto de Ijimú.
Se conta que Ijumú é uma "Osô", ou seja: UMA BRUXA!

Todas as Osôs tem cabaças miraculosas que ganharam de Orunmilá (inclusive as OsoRongá também possuem cabaças).

Ogun e Nanã sempre foram desafetos e se desprezavam, mas Ogun declarou guerra a aldeia de Nanã. 

Nanã não tinha medo de lutar e nem de morrer, mas ela temia por suas crianças. Nanã tinha filhos e netos a sua aldeia era formada por sua família e ela sabia que se perdesse a guerra Ogun mataria suas crianças ou os venderia como escravos.

Nanã se desesperou e então sem ter alternativa ela pediu ajuda a feiticeira Ijimú que morava no fundo do rio Osun. 
Osun Ijimú se dispôs a ajudar Nanã a salvar as crianças, ela usou sua cabaça e a fez ficar gigantesca, assim colocou toda a família de Nanã ali dentro e então fez a cabaça ficar pequena novamente e a escondeu no fundo do rio prometendo a Nanã que se ela perdesse e Guerra Ijimun cuidaria de seus filhos.
Quando Ogun chegou na aldeia de Nanã ele encontrou Nanã sozinha e então eles pelejaram por dias, até que Nanã venceu a Batalha e expulsou o cruel Ogun Onirê de suas terras, onde nunca mais pode entrar.
Nanã nunca se esqueceu da grande ajuda de Ijimun e então decidiu lhe dar um presente, Nanã não usa e nem gosta de metal então fez um Abebé para Ijimum de madeira e em forma de boneca, lhe deu também o direito de se ornar com os Kawuris (búzios, Nanã é a dona dos Búzios) e com palha e para sempre foram amigas.

Nanã é de poucos amigos, mas ela tem muita gratidão a Ijimú e a Asesun que são suas grandes amigas.
Ijimú é a Osun que foi bem recebida na família da Palha, desde então caminha com Nanã e todos os seus filhos e amigos, por isso vemos iniciadas a Osumarê e Osun, Osun e Obaluaie, Yewa e Osun, Osayn e Osun, e muitos outros afetos de Nanã que saúdam Ijimú pelo seu bom coração.
Além de Nanã, ela sempre anda com Osun Yabotô e as demais

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

NARRATIVAS E A AUTO DEFESA


Reportagem de época

O que eu mais amo em História são as narrativas. Depois de um dia infernal na vida pública como ontem, quando recebemos drops do autoritarismo que está se instaurando e as minhas queridas narrativas musicais do Clube da Esquina nunca fizeram tanto sentido de realidade, antes de dormir, lembrei de uma aula de História da professora Maria Aparecida de Aquino (essas que nunca saem da minha memória e estão na base da minha formação como historiadora). Ela, pesquisadora da ditadura civil militar iniciada em 1964, começou a contar mais ou menos assim : "Lembro perfeitamente do dia 13 de dezembro de 1968, quando assisti pela televisão o anuncio do Ato Institucional número 5, o AI 5, fechando o congresso e restringindo drasticamente os direitos de cidadania no Brasil..."
Depois disso ela continuou a aula, mas, por uma auto defesa instintiva, eu não estava mais ouvindo, estava pensando em como deve ter sido terrível receber uma notícias daquela pela TV! Daí, eu ali no início dos anos 2000, fiquei aliviada ao concluir que ainda bem que aquilo fazia parte de um passado distante. Não é mais assim. Algo bem mais semelhante do que eu gostaria ou poderia supor que acontecesse na minha vida de quase 40 anos de democracia, tinha começado a acontecer naquele dia e eu não pude mais usar a capa do esquecimento para me proteger, porque agora não era mais só a narrativa, era a realidade e eu fazia parte dela, nós fazemos. Além do mais, é claro para mim que o dia de ontem foi apenas o começo de algo que sei que não é mais uma revivência do golpe de 64, apesar das semelhanças iniciais. O que vivemos tem outras características novas e complexas, com as quais vamos ter que aprender a lidar, e sabemos que "é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte" .