quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Sobre Oxum , por Van Sena Omoloji



Oxum "Òsun òyéyéni mò" (Oxum é cheia de compreensão).

Oxum, cortadora de cabeças

Oxum assumiu na diáspora o papel da mãezinha cuidadora pela necessidade dos pretos órfãos buscarem em seu colo o acolhimento necessário para sobreviver às violências da escravidão. ⠀⠀
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Sim, ela cuidava das suas subjetividades, das suas emoções enxugava as suas lágrimas. Oxum, entretanto, não é apenas sensibilidade e delicadeza. Quando ela traz a espada, a guerra se enche d’água que afoga. ⠀⠀
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Não existe homem capaz de vencer a sua lâmina afiada. Estrategista, ela vê o inimigo com olhar da paixão. O encanta. Seu feitiço entra pelos olhos. O que ela deseja, no entanto, é saber seu ponto vital. ⠀⠀
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Oxum não derruba para desequilibrar apenas. Em guerra, Oxum é a potência feminina que dar a rasteira e o homem caído jamais conseguirá se levantar. ⠀⠀
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A Oxum acolhedora traz o rio na espada. Defende seus filhos como leoa faminta. Ela não mais perguntará, pois já fez todas as perguntas antes e as corujas de olhos grandes lhe trouxeram as respostas. A verdade é o seu julgamento. ⠀⠀
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Quando toma seu inimigo não tem pena. A força da guerreira sai do fundo do seu útero. Ela elimina uma comunidade de aborós agressores de mulheres pela espada. ⠀⠀
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Montada em seu cavalo, afia sua lâmina em água corrente, brava e forte. Manda chuva, alaga a aldeia, os homens correm, e com espada em punhos, Oxum elimina um a um. Decepa suas cabeças, traz para os pés das iyabás e anuncia ao mundo o seu poder cuidador e mortal. ⠀⠀
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Assim, Oxum mostra que não existe uma dicotomia entre o ser sensível e o ser da guerra. Que o feminino não representa apenas sensibilidade e delicadeza, mas também é vigor, estratégia e luta. Oxum é a água doce que gera a vida e também é a água límpida que afoga e leva à morte.

Texto: Van Sena Omoloji - @nagoterapia ⠀

Imagem, Arte: Breno Loeser

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Acadêmicos do Baixo Augusta 2020: Viva a resistência !



Domingo, 16 de fevereiro,  pela décima primeira vez o Acadêmicos do Baixo Augusta, o  Bloco que apavora, mas não assusta. que  desceu a rua da Consolação com muito som, alegria e diversão. Nesse ano foi bastante especial, tanto que eu fiquei até o final, dançando sempre. Para comentar melhor, escolhi alguns temas :
NO CAMINHO : DONA IVE E O CARNAVAL DOS IDOSOS

Eu sai com uma hora de antecedencia, pois era só chegar na estação Paulista, e achei que não ia ter problemas porque não precisava chegar às 14 horas, sempre atrasa a saída  do bloco, mas não imaginava que teria um problema no ônibus, que demorou mais de uma hora para passar e enquanto isso a chuva começou. Eu estava junto com uma senhora,a dona Ive, toda uniformizada  de branco e carregando umas claves, que é um instrumento de percussão
 feito de madeira e é usado nos Afoxés (manifestação musical ligada à comunidade negra). Ela me contou que tocava no Afoxé que abre os desfiles das escolas de samba no sambódromo. há 20 anos e agora fazia parte do grupo de idosos do Afoxé e tinha aprendido a tocar todos os instrumentos para não faltar ninguém na hora. Ela estava indo fazer uma apresentação perto do metrô Luz e como  estava um pouco confusa porque estava acostumada a ir de metrô da Barra Funda até o Anhanbabaú e agora ia ter que fazer baldeação, mas ensinei direitinho como ela tinha que fazer e no fim disse que ela que era uma pena estar sem celular, pois adoraria ter tirado uma foto com ela, que é uma inspiração de vida para mim, pois espero ter a disposição dela de ir ao carnaval, mesmo que seja sozinha, ainda que seja uma idosa! Viva o carnaval!  

CONCENTRAÇÃO: CHUVA E QUERO É BOTAR MEU MEU BLOCO NA  RUA
Como disse, cheguei na concentração eram mais de 15 horas e chovia forte , tanto que tive que vestir a capa de chupa para sair do metrô. Quando me aproximei do carro de som tinha até um número considerável de pessoas, naquela chuva, que cantavam  com o  carro de som "eu quero é botar meu bloco na rua, brincar, botar pra gemer"... como a chuva era de verão, era intensa e ela logo passou, e quando o bloco enfim pode sair, já estava lotado e até fazendo sol! Viva o carnaval! 

BAIXO AUGUSTA 2020: CARNAVAL DA RESISTÊNCIA
O tema 2020 do bloco era  "resistência", eu nem imaginava o como eles iriam desenvolver esse tema, e fizeram de três formas principais : primeiro trazendo um protesto contra a aniquilação da amazônia (floresta e povos) através da fantasia da rainha do Bloco, Alessandra Negrini, que veio vestida e companhada por lindas mulheres Guajajaras
A rainha e as Guajajajaras - Foto CarnaUOL

Guajajajaras - Foto CarnaUOL
Guajajajaras - Foto CarnaUOL




FAFÁ DE BELÉM: TUDO OK? 
Fafá de Belém, convidada do Bloco - Foto CarnaUOL

Outra forma de abordar a resistência de forma ainda ligada ao norte do Brasil, foi trazida pela convidada Fafá de Belém, que, m referência ao funk "Tudo ok", um dos hits do verão 2020,  
entrou perguntando:
"A unha tá ok? Cabelo ok? Cidadania tá ok?"Levando a multidão à loucura e abrindo espaço para o tradicional "Hei Bolsonaro, VTNC", que o bloco adora! em seguida Fafá cantou seu hit "Vermelho",  canção composta para o Boi Garantido na festa de Parintins, mas que nesta cobertura  do UOL, aparece como sendo um  "hit esquerdista". Nenhum folião  Baixo Augusta vai reclamar disso, mas eu devo esclarecer que isso é uma  ignorância absoluta ou má fé, porque o vermelho em questão não se refere à política (aliás, a própria Fafá, pelo que dela se conhece, não me parece estar alinhada à um posicionamento de "esquerda", mas por causa desse tipo de má fé, hoje em dia, apenas falar de protesto já é considerado um posicionamento esquerdista. 
Painel "Elza 90", presente do  bloco Baixo Augusta - Foto CarnaUOL

Por último,mas nem por isso menos importante, o Baixo Augusta trouxe a que chamaram de Diva da Resistência, que é Elza Soares, que comemora seus 90 anos e para comemorar esse aniversário, o bloco deixou de presente para a cidade  de São Paulo um painel de 35 metros louvando Elza 90, um símbolo da resistência!  Elza aceitou  se apresentar no bloco, veio chantou (que voz!) as músicas "A Carne" e "Maria da Vila Matilde" (que ela chamou de "a música de todas as mulheres" . Eu estava coladinha ao carro de som, vi tudo de pertinho, menos a Elza, só sabia que ela estava lá porque conversava e reagia ao público. Eu achei que ela estivesse no bloco, mas do outro lado, mas agora li que talvez ela estivesse em alguma janela, mas acho que as pessoas não viram também, porque não apontavam para ela... enfim, o que importa é que foi uma participação emocionante! Viva Elza, símbolo da resistência da mulher (especialmente as negras).

CARTAZES  E FANTASIAS : Como disse, não levei celular, então só posso mostrar o que a imprensa quis fotografar, mas eu achei legal colocar algumas coisas que foram registradas pelo CarnaUOL em outros carnavais, mas que apareceram lá também.

evangélicos aparecem para protestar
(essa foto é do cordão da Bola Preta 2018, mas apareceu de novo)
críticas  políticas
resistência


REPERTÓRIO : "Eu falei Faraó"

Emanuelle Araújo, no desfile do Baixo Augusta 2020

REPERTÓRIO :  O repertório do Baixo Augusta costuma ser bem diversificado. Esse ano, em epecial, apostaram muito no repertório de samba de enredo, sambas clássicos ("Não deixe o samba morrer", homenagem ao Almir Guineto, à Clara Nunes), pagode 90 (com meu tema "Temporal") e ainda no clima 90, Mamonas Assassinas,  fazendo todo mundo dançar muito, eu realmente adorei. Como tem muitos convidados, alguns eu nem sei quem são, muita diversidade passou por ali. As  cantoras  Mariana Aydar e  a Preta Ferreira fizeam uma base para segurar a festa até o final. A  banda  Nação Zumbi encerrou o desfile fazendo todo mundo reagir muito bem. No entanto, foi a "de casa" Emanelle Araújo a  responsavel pelo momento mais momorárvel do desfile: colocou todo mundo para cantar : "Eu falei Faraó" por vários minutos ! Viva o Carnaval!

No fim eu acabei ficando no bloco até o final pela primeira vez, pois descobri porque esse é considerado o maior bloco do Carnaval de São Paulo, maravilhoso! Para encerrar, o bloco divulgou uma foto e um  comentário :
Acadêmicos do Baixo Augista 2020. Foto: @flavio.florido / ABA


"Um milhão de pessoas.Um milhão de pessoas, de vozes e de sorrisos.
Um milhão de pessoas contra a homofobia, o machismo, o racismo, o obscurantismo, a intolerância e todos os tipos de preconceito.Um milhão de pessoas a favor da liberdade, da diversidade, da cidade e da igualdade.
Um milhão de pessoas sem violência.
Obrigadx a cada um de vocês que fizeram esse um milhão existir.
Vocês são o nosso país Acadêmicos do Baixo Augusta". ♥️
💀🥁💥🤙🏾" 


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

"Dois", poema de James Ribeiro


Dois
E quando em nudez, em pé,
Na sua frente,
Levemente puxou os cabelos.
E beijou com gosto.
A transou no beijo,
Mordeu o lábio inferior.
E tratou de descer
Cheirando todo seu corpo,
Instintivamente.
E quando chegou,
Passou a língua,
Sentiu o calor que extrapolava
E sentiu DE-MO-RA-DA-MEN-TE...
Era como se permitir voar
Em chão, e não estar preso,
A não ser pelas mãos.
Que ao acariciar seus cabelos,
Se fez rebolar vagarosamente.
Amoleceu as pernas, babeou.
E ofereceu de dentro
De seu tesão,
Seu delírio em líquido.
Em penugem eriçada
E unhas arranhando
Tudo que fosse pele.
Sugada. Escorrida pela perna.
Sorria.
James Ribeiro

CORDÃO DE GIRASSOL


Como portadora, eu  só tenho a agradecer porque desde 2006 não tenho crise e levo vida normal, mas quando estava em crise, nem tinha força ou  equilíbrio para andar sozinha, ai ficaria aparente. Mas não é porque não estou em crise que deixei de ser portadora de Esclerose Múltipla, significa apenas que ela está controlada. Só quero compartilhar sobre o Cordão Girassol para que as pessoas deixem de julgar os outros apenas pela aparência, sem conhecimento de causa. Informam-se :
INFORMAÇÃO :
As medidas de segurança nos aeroportos são muito rígidas. Mas aqueles que trabalham nesses estabelecimentos geralmente conhecem os trâmites burocráticos e sabem o que é possível fazer para facilitar a vida de passageiros com necessidades especiais, como pessoas com problemas de saúde e idosos com dificuldade de locomoção. Nesse sentido, uma história mostra que, com medidas simples e bom senso, é possível ajudar essas pessoas em ambientes movimentados e que geram tensões e nervosismo, como é o caso dos aeroportos. Compartilhe

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Pré Carnaval 1 : Bloco Lua Vai na Casa das Caldeiras

Cartaz do rolê 
´
Se no ano passado o pré carnaval com o Bloco Lua Vai  na  Casa das Caldeiras  acabou sendo o melhor rolê do ano, a expectativa desta festa não era pequena, mas é lembrar que embora as festas das Caldeiras continuem sendo as melhores, como são pagas, alguma coisa sempre muda, especialmente no perfil do público (que deixou de variar apenas pela festa, mas agora  está mais restrito a gente de rolezinho classe média mesmo) . Eu gostava mais de quando era livre, podia entrar todo mundo e  parecia mais com o carnaval de rua, enfim.
Mas como a festa foi paga, tínhamos aceso a uma programação, para podermos nos preparar, eu por exemplo cheguei depois das 16 horas, deu para curtir até o fim do bloco de pé. 
Salão Principal:
15h - Brenda Ramos
16:30h Lia Macedo ( Proprietária da empresa brasilidades)
18h - Bloco Agora Vai ♥ ♥ ♥
19h Leandro Pardí
20:30h Show- Bloco Lua Vai!
Subsolo:
Karaokê Grátis!
Quintal je TREME mon amour!
Com Djs Madruga e Tide - sonidos amazônicos, bregas marcantes, arrochas, lambadas francesas e muito mais sem vergonha regados a muitas borrifadas da famosa cachaça de jambu.

Nem sempre essa programação divulgada estava sendo cumprida a risca, mesmo em festas pagas,  e como tem chovido muito neste verão, as pistas são sempre em área coberta (desta vez não teve quintal, porque ali tem alagamento), mas com as adaptações necessárias foi tudo perfeito e eu pude curtir demais como eu quis.  nesse dia foi tudo muito perfito, deu para curtir as brasilidades da Lia Macedo das 16:30  as 18, com muito som anos 90 com Milla do Netinho (até gravei um pouco, mas o vídeo ficou muito ruim); depois um pouco de hits verão 2020 como Duda Beats e a Pabllo no "je treme "e 20:30  e subir para o Lua Vai.
Bloco Lua Vai

O Bloco Lua Vai foi a maior perfeição, duas horas de pagode anos 90, cremosinho, bem gostoso, só aquecendo e dando mais vontade de curtir o cortejo oficial na segunda feira de Carnaval. Eu sei que os vídeos que gravo ficam ruins, cheios de ruídos, mas vale o registro, esse é de Temporal, do Art Popular.

Desta vez, depois de anos, pude curtir um pouquinho com a Eriane a Casa das Caldeiras, como nos velhos tempos
Eu e Eriane no carnaval
A gente curtiu até esse bloquinho tipo carnaval tradicional :

Ganhei até um Lambe Lambre com uma das músicas que mais animam o povo 
"Pelourinho
Uma pequena comunidade
Que porém Olodum unira
Em laço de confraternidade
Despertai-vos para a cultura Egípcia no Brasil
Em vez de cabelos trançados
Veremos turbantes de Tutancâmon
E nas cabeças, enchem-se de liberdade
O povo negro pede igualdade
deixando de lado as separações:
Eu falei Faraó ó ó ó ó!" 


amo muito tudo isso! 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

DJ Killa: um presente de verão !


Na Casa das Caldeiras tem sempre tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que a gente sabe que, por mais que a gente aproveite, perdeu mais da metade do que aconteceu ali. No cado do DJ Killa, esse boy novinho acima (parece um dos garotos da minha aula de hip hop), só fui parar para ouvi-lo (deixando Desculpa qualquer coisa e funk lá embaixo) quando começou a tocar uma seleção só de  Jorge Ben, adorei ... nem deu pra gravar muito , dancei demais 



 Claro que aquilo foi só uma introdução, mas o Killa  é  DJ do Rap e Hip Hop, pincelado com o melhor do suingue da música brasileira, ele tocou muito, muito tempo, adorei tudo. Tocou Stive Wonder. Sabotage, Mano Brown, Bob Marley, Sean Paul, Dawn Penn,mil coisas ... queria mesmo ter trazido pra casa para tocar só para mim!