sexta-feira, 24 de abril de 2020

Mais do que anedotas infantis: Pedro Bloch e os escritos que contam uma História da Criança

Minha pequena biblioteca de
de Robert Darnton


Solicitaram-me um texto sobre "Escritos e impressos: Literatura e historicidade" para ser entregue daqui poucas semanas, como está tudo fechado na quarentena, inclusive as bibliotecas, tive que me voltar ao material que tenho: As edições de Pedro Bloch e o universo da minha pesquisa de pós-doutorado. Para mim ficou claro e espero ter conseguido demonstrar, que no campo da “história intelectual”, a atuação bloquiana com a meninada (de ouvir as crianças, transcrever seus ditos, publicar em livros e revistas, divulgar e incentivar que outros artistas, escritores,jornalistas, etc., também o fizessem no século XX) estava diretamente ligada ao moderno ideário iluminista, pois nosso autor seria propriamente o que o historiador do século XVIII francês Robert Darnton chamou de “homem de letras”, os debatedores e divulgadores de ideias. Embora Darnton tivesse sido sempre uma referência para meus estudos em História Cultural, lia muito os exemplares da biblioteca, então minha biblioteca pessoal desse autor não é muito grande, pois só fui conviver mais com suas ideias sobre história editorial mais diretamente no pós doc, para entender a que tradição  qual poderia estar  ligada a prática de Pedro Bloch, e isso foi ótimo.

No relatório final da minha pesquisa de pós-doc concluí que esse tipo de atuação nos abria caminho para um trabalho histórico diferente do que vinha sendo executado pelos historiadores da infância (que se dedicam a estudar história da relação da sociedade e da cultura com as crianças), já que  a partir deste material temos o contrário, pois ainda que de forma humorística, as publicações bloquianas nos mostram flashs reveladores da percepção de como os próprios pequenos percebem o mundo que os cerca (eu escrevi sobre isso na página 8 do artigo sobre os dicionários infantis de Pedro Bloch, disponível neste link ).
Retomando essas ideias, só posso aplaudir os livros de Pedro Bloch como minhas fontes de pesquisa, porque elas me permitiram e ainda me permitem, fazer pura História do jeito que eu mais gosto!  

sábado, 18 de abril de 2020

Pagode na livraria

Mas a literatura universal até que tentou mostrar essas verdades

A Livraria Leonardo da Vinci  no Rio de Janeiro costuma deixar post its com recados divertidos nas capas dos livros em exposição na loja. Agora, na época do fique em casa, divulgaram essa série divertidíssima, colando trechos do pagode "Cigana", de Gabu (João Carlos da Silva),  nas redes sociais. Simplesmente morri de rir porque cada trechinho "conversa" bem com o conteúdo do livro, é legal tentar fazer a relação e dar muitas risadas! Muito divertido!




sexta-feira, 17 de abril de 2020

"A rejeição mais coletiva da morte já registrada na história" - Julián Fuks


Colo aqui um dos textos mais bonitos que li sobre a epidemia.


Primeiro pensei que fosse medo da morte, e sim, ainda penso, é claro que era medo da morte. Um medo que surgiu num ponto ignorado de Wuhan e logo tomou conta de toda a cidade, afugentando seus habitantes e com eles se alastrando mundo afora. Não era um medo qualquer, me pareceu, tinha a sua peculiaridade. Era mais que medo: em sua expressão mais aguda veio a tornar-se uma inconformidade, uma inaceitação da finitude da vida, própria ou alheia, a rejeição mais coletiva e sumária da morte de que já se teve notícia. 
Nada poderia ser mais compreensível do que isso, pude ponderar. As circunstâncias eram mesmo dramáticas, e são cada vez mais. Havia algo de indecoroso na morte a um só tempo massiva e solitária, e sempre haverá. Não faltam os que definem a humanidade justamente por essa indignação, pela repulsa que nos provoca qualquer prenúncio do fim, que dirá de um fim trágico. E, no entanto, não, nem toda a história está atravessada por essa rejeição absoluta do desconhecido, do imensurável. Foi nos últimos séculos, nas últimas décadas, nos últimos anos, que acabamos nos tornando mais hostis à certeza da finitude, que decidimos prolongar ao máximo cada vida e lamentar cada perda como inaceitável.
A literatura, mesmo em sobrevoo, talvez possa dar pistas dessa progressiva mudança de perspectiva. Por milênios os escritores mataram os seus personagens livremente, nos beligerantes épicos gregos, nas tragédias, nos romances de cavalaria. Em algumas peças de Shakespeare, chegado o desfecho, ficamos nos perguntando se terá sobrado algum personagem vivo.
E então veio o romance realista, veio Flaubert com seu rigor científico, matando sua maior protagonista em páginas numerosas e lentas. Veio Tolstói e escreveu "A morte de Ivan Ilitch", uma das mais precisas tentativas de apreender o inapreensível, de entender a morte em sua concretude, em sua vertigem. Em suas páginas intuímos que não há morte dos outros, que toda morte é sempre, em alguma medida, do outro e de si. Se sofremos ao ler Tolstói, é pela percepção perturbadora de que naquela morte se inscreve a nossa, de que na morte de Ivan Ilitch morremos todos.
Em nosso tempo a morte se fez tabu, já não conseguimos sequer falar a palavra sem que a nossa boca se consuma em morbidade. Talvez não seja disparatado propor um estudo sobre a dificuldade que hoje acomete escritores de matar os seus personagens, de condená-los ao insólito fim. Não ouço falar dessa dificuldade, apenas desconfio que exista, e a sinto em minha própria escrita. Tão grandiosa se fez entre nós a ideia da morte que as páginas dos livros já não a comportam, não conseguem acomodá-la sem convocar um princípio de revolta, e a presumível acusação de extravagância, de arbitrariedade. Já não somos capazes de contemplar em imagens ou palavras o mais comum dos acontecimentos, , humanos ou não, o mais fatal.
Primeiro pensei que fosse medo da morte, eu disse. Agora penso que não, que é medo da morte e algo mais. Se entre tantos, tão coletivamente decidimos que estas específicas mortes são inaceitáveis, e decidimos que todo empenho é válido para impedi-las, para reduzir sua ocorrência ao mínimo que toleramos, talvez não seja só por esse medo da morte que há algum tempo nos tomou de assalto. O medo é quase sempre uma experiência solitária - algum grau de solidão talvez seja sua condição primordial. Suspeito que apenas o medo não seria capaz de gerar uma reação tão comunitária.
Nesta disposição nova que temos testemunhado, nesta grande pandemia do não, pode haver exatamente o contrário do medo, tenha isso o nome que tiver. Foi pelo medo e por um equivocado instinto de defesa que se alçou ao poder, em tantos lugares, a política da brutalidade, da indiferença, da perversidade - necropolítica é o nome que alguns têm lhe dado. Se é contra essa política que tantos agora se levantam, ou melhor, que tantos agora se recostam e permanecem em casa, fazendo-se ruidosos quando a noite cai, não será por medo da morte. Será, sim, por respeito à vida, por apreço a toda esta incerteza vital em que estamos imersos, feita de som e de fúria mas também de beleza, antes que se consume a certeza do fim. 



quinta-feira, 16 de abril de 2020

Leandro Karnal: a Pandemia é o momento ideal para se apostar na esperança

Aproveitando as páscoas judaica e cristã e com a erudição de sempre o historiador Leandro Karnal aponta que momentos como esta pandemia pela qual passamos, sempre foi  o ideal para apostar na ESPERANÇA.


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Morreu Rubem Fonseca, autor da minha juventude

 Foto: Divulgação in O Globo

Na tarde  15 de abril de 2020 morreu por um infarto aos 94 anos o escritor Rubem Fonseca.
Fonseca foi o grande autor da minha adolescência, li muito Fonseca, ainda muito jovem, depois não li mais, embora continue achando que ele foi um dos grandes autores brasileiros, o nosso maior contista. Por conta disso reservo em minha estante minha pequena coleção de seus livros, que nunca mais reli, mas guardo como tesouro:
Meus velhos livros de Rubem Fonseca
Na minha coleção temos da esquerda para a direita, os seguintes livro "Vastas emoções e pensamentos imperfeitos"; Contos reunidos"; "Agosto"; "Bufo e Spallanzani"; Caso Morel", "Lúcia McCartney", "O Buraco na parede", "E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto"; "História de Amor"; "O Selvagem da ópera"; "A Grande arte". Ou seja, são onze volumes, destacando que no conteúdo de "Contos reunidos" temos outros seis livros de contos  mais famosos de Fonseca ("Os Prisioneiros"; A Coleira do cão"; "Lúcia McCartney"; "Feliz Ano Novo"; "O Cobrador" e "Romance Negro", além de dois contos inéditos "O anão" e "Placebo".
Como podem ver,  li muito Fonseca muito jovem... Amava! Meus favoritos são os contos de O Cobrador, Feliz Ano novo, "Lúcia McCartney"(enquanto conto experimental, tem um sabor especial). Nunca esqueci e mesmo não tendo relido, sempre lembrava quando assistia a algum filme do Tarantino, por exemplo.  Mas as  obras mais recentes não conheço.
Bravo meu contista favorito! Obrigada por tudo! 👏🏾👏🏾

segunda-feira, 13 de abril de 2020

O cordel da Quarentena e o adeus ao Moraes Moreira


Em 13 de abril de 2020 nos deixou Moraes Moreira (72). Ainda não foi divulgado as causas da morte, apenas que morreu dormindo (por isso suponho que não tenha sido devido a Covid19, que ocasiona uma angustiante morte por falta de ar).


Sempre antento ao seu tempo, segundo esta reportagem, Moraes tinha composto um cordel sobre um assunto do momento,  a quarentena deviso ao vírus:


QUARENTENA (Moraes Moreira) 
Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida

Assombra-me a Pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo

Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito

De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não violência
Toda noite e todo dia

Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
 As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido

Até aceito a Policia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta

Com tanta coisa inda cismo...
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia

As coisas já foram postas
Mas prevalecem os reles
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres

O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não Tem tempo, nem idade

Fica em paz  e obrigada Moraes Moreira

terça-feira, 7 de abril de 2020

ARQUITETURA DO SORRISO

Atriz Carolina Ferraz sorri usando máscara
Escrevi e postei no Facebook, como ficou bonito registro aqui:


Hoje tive que "quebrar a quarentena" e ir buscar remédio na farmácia do HC, compromisso que, por medo de ser contaminada, adiava desde o dia 25 de março. Fui com medo de não me entregarem porque passei do prazo, de enfrentar aglomerações, de me expor de verdade na cidade da pandemia depois de mais de 20 dia reclusa, mas tinha que ir. Fui de UBER, com meu álcool em gel 70 e,assim como a maioria das poucas pessoas com quem trombei, eu também usava máscara. Não é agradável estar de máscara, no começo é pior, tudo incomoda, mas logo a gente se acostuma e chega uma hora que nem se lembra dela. Mas a gente vê as outras pessoas mascaradas e foi lindo perceber que, a coisa mais bonita que podemos encontrar num ser humano é o seu sorriso. Mesmo que a máscara esconda os dentes, a arquitetura do sorriso é mais do que isso, o sorriso é uma expressão fácil agradável que envolve vários lugares do rosto; é uma abertura; um presente para o outro e, sobretudo, uma vontade de sorrir. O ser humano fica sempre mais bonito quando sorri, até mesmo de máscara.O motorista do uber, com quem fui e depois voltei, comentou comigo que, quando veio me buscar em casa e me viu de máscara, não reconheceu a garota sorridente do perfil do aplicativo e até pensou em cancelar a viagem, mas ai lembrou que ele também estava de máscara , portanto não tão igual à foto do perfil. Nessa hora eu abri um sorriso para ele, bem parecido com esse da Carolina Ferraz: Tão sincero, um sorriso que saia pelo olhar e era inegável, ainda que os dentes estivessem escondidos.
Por uma quarentena cheia de sorrisos mascarados, para que em breve possamos sorrir por completo de novo.




segunda-feira, 6 de abril de 2020

Grande Sertão , por Maria Bethânia


Na primeira exposição do antigo Museu da Língua portuguesa, o tema era Grande Sertão: Veredas. 
Essa leitura de Maria Bethânia podia ser ouvida...
Um dos trechos mais lindos , o fim da história. Que não é o fim do livro.

domingo, 5 de abril de 2020

QUARENTENA E A EMPATIA

A Era da Empatia , 2010

Durante minha pesquisa de doutoramento em História Social (2009-2014), como eu e meu grupo na FFLCH sempre acreditamos na interdisciplinaridade eu li trabalhos de diversas áreas, inclusive as das ciências médicas ou naturais. Um deles me ocorre agora foi o livro "A Era da Empatia : lições da natureza para uma sociedade mais gentil" (o meu exemplar foi adquirido com fundo de pesquisa e depois doado para a biblioteca Florestan Fernandes na USP e deve estar disponível lá para depois da quarentena), do primatólogo de Harvard Franz de Wall. Na minha tese eu usei a seguinte citação direta da obra:
"Faz parte de uma herança tão antiga quanto a própria linhagem mamífera. Ela mobiliza regiões do cérebro que existem há mais de cem milhões de anos. A capacidade de sentir empatia pelo outro emergiu num passado extremamente longínquo, com o mimetismo e o contágio emocional. Depois disso, a evolução foi acrescentando camada após camada, até que nossos ancestrais se tornassem capazes não apenas de sentir o que os outros sentem, mas também de compreender os desejos e as necessidades de seus semelhantes. A empatia tem a forma de uma boneca russa. No seu núcleo interno encontra-se um processo automático partilhado por um grande número de espécies, e esse núcleo é rodeado por camadas externas que regulam a finalidade e o alcance da empatia." Frans de Wall. "(A era da empatia : Lições da natureza para uma sociedade mais gentil."São Paulo: Cia das Letras, 2010p. 294-5) 
Tratamos aqui  de História natural clara e interessante: não somos os únicos a desenvolver empatia, inclusive é possível que isso também tenhamos herdado dos primatas essa característica que torna, sim, o mundo melhor. Nesse momento em que mais da metade do mundo está isolado em casa, em quarentena por conta do Corona Vírus, pensando sim no bem estar do outro além do seu próprio, não tenho como não achar que os primatas agradecem todos nós termos aprendido a lição, mesmo sem saber.

Para o canal do Youtube de Carlos Cassau, a redescoberta da empatia é um dos pilares da nova socidade humana, pós Corona Virus, como ele deixa claro neste vídeo:

Sigamos, empáticos!

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Obaluaê tem feridas transformadas em pipocas por Iansã, por Reginaldo Prandi

Ilustração de Pedro Rafael 



Chegando de viagem à aldeia onde nascera,
Obaluaê viu que estava acontecendo
uma festa com a presença de todos os orixás.
Obaluaê não podia entrar na festa,
devido à sua medonha aparência.
Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, ao perceber a angustia do orixá,
cobriu-o com uma roupa de palha que ocultava sua cabeça
e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de  envergonhado,Obaluaê entrou,
mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com rabo do olho.
Ela compreendia a triste situação de Omulu
e dele se compadecia.

Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do barracão.
O xirê[1]  estava animado.
Os orixás dançavam alegremente com suas equedes[2].
Iansã chegou então bem perto dele
e soprou suas roupas de mariô[3],
levantando as palhas que cobriam sua pestilência.
Nesse momento de encanto  e ventania,
as feridas de Obaluaê pularam para o alto,
transformadas numa chuva de pipocas,
que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos
e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos,
partilhando o poder único de abrir e interromper
as demandas dos mortos sobre os homens.
(Reginaldo Prandi. Miltologia dos Orixás, p. 206-7)



[1] Xirê:  brincar no candomblé, ritual em que os filhos e filhas-de-santo cantam e dançam numa roda para todos os orixás.
[2] Equede: literalmente, segunda (pessoa); na África, cargo sacerdotal do rei, que só estava abaixo do orixá daquela cidade, de quem se acreditava que o rei descendia diretamente; no Brasil,  iniciada no candomblé para cuidar dos orixás, vesti-los e dançar com eles.
[3] Mariô : folha nova da palmeira de dendê.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

DESDE QUE O SAMBA É SAMBA É ASSIM



DESDE QUE O SAMBA É SAMBA É ASSIM – Minha mãe não gosta que eu fale nas redes sociais que estou sentindo muita saudades do samba nessa quarentena por causa da pandemia pelo Corona Vírus, ela acha que deveria dizer apenas que quero que a epidemia passe, nada de samba.

Acho que até entendo o modo de pensar dela, mas não compartilho.
 É que ela não sabe que  “o samba é pai do prazer, o samba é filho da dor, o grande poder tranforma a dor”, como diz a canção de Caetano e Gil,  não sabe a sofrida história de  perseguição do samba, nem dos brasileiros  afro sambas de Baden e Vinicius, aquele samba mais negro , que nas palavras de Baden é  “um samba mais escuro, um samba lamento”.

Sobretudo ela não sabe o quanto o samba foi e  é,  para mim,  uma forma de sobrevivência emocional. E ai, lembrando as palavras de Luiz Carlos da Vila “Depois que inventaram a roda, a roda de samba é a maior invenção", afinal ela propõe todo mundo junto, vibrando no ritmo do samba, o que transforma a dor em alegria.

Sabemos que para sobrevivermos em tempo de Corona Vírus, precisamos estar em isolamento social e isso é a própria doença, o maior sofrimento possível para o ser humano,  pois, como diz o neurologista Fabio Moulin,  aqui: 

“um dos maiores alimentos ao cérebro é outra pessoa, o outro é essencial para nós, nós precisamos deste outro.”

Na quarentena tenho tido muito cuidado para tentar lidar bem com o isolamento social sem depressão. Tenho muito medo de tropeçar nisso, porque eu sofro de uma doença autoimune,  sei o quanto essa luta é minha, faz tanto tempo. Não é à toa que todos os finais de semana eu fazia um esforço e saia, ia conviver com os outros e (que ousadia!), até me divertir.

 Nesse momento em que todos morremos de medo da infecção da Covid19, sei que o remédio mais barato e eficaz  para regular  o sistema imunológico é tentar manter a alegria. Mas agora só vemos tristeza no mundo “tudo demorando em ser tão ruim”,  nem podemos estar juntos presencialmente, só nos resta mesmo sonhar com um tempo  em que o  samba volte a fazer a mágica e transformar a dor em prazer.

   


QUEM TRAZ A CURA PARA A PESTE É OMULU : LENDA DE OBALUAIÊ


Em época de Pandemia de Corona Vírus, a época é comer pipocas e pedir a cura ao velho Omulu, que se transformou no orixá 
Oba/ Lu/ Aiê: O curandeiro senhor da Terra

Atotô Obaluaê!

quarta-feira, 1 de abril de 2020

CIÊNCIA NA QUARENTENA



Quando entrei em quarentena, há 21 dias, pensei que ia estudar o filósofo Peter Sloterdijk que discute coisas bastante interessantes sobre a intervenção social nas dinâmicas da história natural.Comprei até um livro sobre, mas é um tema muito cascudo para uma leiga em filosofia estudar sozinha em tempos sombrios. O que eu não sabia é que, em meio a tanta turbulência, eu ia precisar admitir que, como pesquisadora, estou adorando acompanhar o trabalho do mundo todo em pesquisas sobre o corona vírus. 

Átila Iamarino
Aqui no Brasil, por enquanto, destacamos o biólogo Átila Iamarino da USP que tem um pós doutorado em virologia e que, por isso, está bastante antenado sobre o tema e isso é o que o Brasil precisa saber agora.Para melhorar, ele tem facilidade em divulgar seu conhecimento em seu canal no Youtube, popularizando a ciência, o que eu acho absolutamente lindo. Mas ele não é a única voz, muitos o contestam, formando uma esfera de discussão cientifica que, por um momento único , tem se popularizado. 
Além desta discussão especifica, só o Youtube nos alimenta com muitas outras visões mundo afora. 

vídeos da BBC News Brasil

O canal de informação científica que eu tenho acompanhado todos os dias, o dia todo, é o da BBC News Brasil, onde ouvi tantas possibilidades trazidas por pesquisadores do mundo todo sobre o tema que não dá para não pensar que não tem jeito, algum resultado ainda encontraremos.

O bichinho da ciência me mordeu faz tempo e poder reavivar isso é um presente que a vida está me dando para compensar tantos domingos sem samba 🤩