O filme começa com belas imagens de uma festa, com várias mulheres vestidas de amarelo, muita música e alegria:
Festa das mulheres de amarelo |
protagonista:
Mas logo somos inseridos na trama desta mãe e do bebê, pois ouvimos ouvimos um tiros disparados dentro da casa de Madame Brouette e de lá sai um homem de vestido vermelho ferido, que vai morrer na porta. Isso dá inicio às especulações, chega a imprensa para recolher depoimentos sobre a Madame e também o grupo de cantadores para cantar a história de Madame, e essa cantata teatralizada do próprio drama do filme, nunca antes observada nos cinemas africanos, fez com que esse filme ficasse famoso pelo aspecto musical. Esse fim trágico que dá inicio ao filme com as questões colocadas: Teria sido ela quem matou o marido? Por qual motivo?
cantadores
Este é mais um filme africano que ressalta a força e o poder da mulher para ganhar a vida (AMO)! Miti (Rokhaya Niang) é uma bela senegalesa divorciada, que jura não querer mais saber de homens em sua vida e que vive com a filha pequena, ganhando a vida empurrando seu carrinho “Madame Bourett” pelas ruas de Dakar e sonhando um dia ter sua lanchonete.
carrinho de Miti |
Miti acolhe a mulher agredia na rua
Por ser um filme senegalês, fui preparada para me deparar com realidades muito diferentes, mas não foi que senti que o Senegal e sua cultura não está mais tão longe da Camila e do Brasil como já esteve? De algum jeito que não sei qual, senti o Senegal quase familiar. Apenas quase. A cena das mulheres comendo no mesmo prato, como demarcando um forte laço entre elas, eu também já vivi aqui em São Paulo, com um senegaleses. Para mim ficou claro o laço
O prato compartilhado : Só quem provou, sabe o significado |
Estava
indo tudo caminhando em paz com Miti e seu carrinho, ela estava quase criando uma
comunidade onde as mulheres poderiam viver longe da violência masculina, até
que um dia, na rua, conhece o belo policial e se apaixona. Como é uma mulher
dona da sua vida, Miti se permite, inclusive, a dar uma chance ao amor, pois o
homem trata muito bem ela e sua filha, por que não acreditar que ela também
pode viver um romance?
Um homem bonito |
E
vive mesmo alguns momentos lindos de amor entre o belo casal, ele vai a casa de
seu pai, pede permissão para cortejá-la, e
oferece dinheiro a ela, pois sabe como é difícil a vida no Senegal, ela
, como tem poder sobre si mesma, responde: “fiquei contigo porque queria, não pelo dinheiro”. estava tudo muito lindo até
que, na festa da virada do ano, ela foi a rainha da beleza, de vestido rosa, sendo trazida por outros baços até seu homem de bordô, deixando todos extasiados com sua elegância
rainha da festa de ano novo |
Naquela mesma noite os dois se deitam em uma
bela cena de desejo e amor, mas o homem, que não era exatamente um príncipe
encantado, paquera outras mulheres e articula seus planos financeiros às
escondidas de Miti. A questão foi que aquela noite rendeu frutos e Miti
engravidou. Seguindo a tradição senegalesa, acabou sendo expulsa de casa por
seu pai. Na cena da expulsão, Miti brilha altiva contra a postura machista do
próprio pai que tem a coragem de expulsar a filha grávida e a neta de sua casa
para atender às expectativas da
sociedade.
Enfrentando os pais |
Muito
desta força de reação surgiu porque Miti acreditava que poderia contar com o
apoio do pai do seu filho, mas logo descobriu que não era bem assim. De
qualquer forma, ela não esmoreceu, enfrenta todos os desafios como uma heroína!
A cena do parto é uma das mais bonitas do filme: “o
nascimento de um príncipe africano para combater o mal”, como diz a música de
Jorge Ben
Nascimento do bebê (cena linda) |
Mas o filme não deixa apenas uma imagem
negativa do relacionamento homem e mulher, pois a filha de Miti, ainda criança,
encontra seu namorado, um garotinho Samba, que promete protegê-la sempre e
realmente “cumpre” esse papel, justamente quando o namorado de sua mãe não
estava mais à disposição para isso. Eis um amor puro
Amor puro |
Nesta fantástica entrevista com o diretor Moussa Sene Absa , entre tantas outras coisas sobre cinema, África, mulheres, ele conta que é leitor de Jorge Amado e quando esteve no Brasil. uma Frag vestida de vermelho o abraçou e, certamente essa vivência o influenciou na criação da cena do marido de Miti, voltando do tajabóne (festa tradicional, onde homens e vestem de mulher e mulheres de homem, como o carnaval no Brasil) usando um vestido vermelho.
Moussa Sene Absa |
Realmente esta cena do filme
remete muito a cena inicial de “Dona Flor e seus dois maridos”, com Vadinho morrendo
vestido de mulher, no meio do carnaval!
Adoro a interação África/Brasil.
Vindo do Tajábone |
Grande filme! Amei! Encerro com uma imagem do baile de ano novo: reparem nas cores: Como a África é linda
Festa colorida no Senegal |