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domingo, 31 de outubro de 2021
PEQUENA META CUMPRIDA
sábado, 30 de outubro de 2021
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
Encontro da APCG : Vocês não imaginam o prazer de estar de volta aos estudos genéticos
Eu realmente gosto muito de estar nos congressos de Crítica Genética, esse ano estive em um organizado pelos geneticistas do Piauí, que acompanhei com paixão, assistindo a tudo, se não estivesse em casa (minha mãe estava fazendo exames pré cirurgicos), acompanhava via celular, não perdi nada, como comento aqui.
Sendo assim, foi com muita alegria que escrevi o resumo expandido para participar deste pequeno encontro virtual nos dias 28 e 29 de outubro, como uma introdução para o encontro presencial planejado para outubro de 2022 em La Paz. É sempre ótimo estar entre pesquisadores discutindo sobre literatura.
Entretanto agora estou em um outro momento, voltando a treinar, estou no período de três meses de retorno, tentando não faltar, o que me deixa sempre muito ocupada e cansada. Na manhã do dia da apresentação eu ainda fui treinar antes de almoçar, quando começamos a mesa, confesso, queria mesmo estar descansando, mas foi só começar que voltei a ficar animada. Mas não tanto para apresentar, como fui a primeira, não teve aquecimento, demorei para engrenar, mas foi um prazer.
Como aqui o resumo expandido aprovado da minha apresentação:
FUNDO JGR: UM PROJETO LITERÁRIO, UMA PROPOSTA DE BRASIL
Camila Rodrigues
Doutora História FFLCH/USP
Para problematizar o papel do arquivo literário como espaço de trabalho de pesquisadores, não apenas da Crítica Genética (PINO; ZULAR, 2007), mas também de outras humanidades, apontamos que o material ali contido nos permite esboçar propostas de Brasil, materializadas em literatura, o que tomamos como autêntica zona de reflexão e intervenção dos escritores. No início do século XXI o historiador Carlo Ginzburg (2002, p. 114) propôs que, para abordar as relações entre História e Literatura no novo século, caberia ao pesquisador deixar a análise do produto literário final, para concentrar-se em suas fases preparatórias, o que legitimou metodologicamente a consulta a esse tipo de acervo por historiadores afim de problematizar tempo e narrativa. Seguindo esta aborgem foi desenvolvido em extenso estudo (RODRIGUES 2009;2014) em História Cultural (HUNT,1995) tomando como fontes documentos disponíveis no Acervo de João Guimarães Rosa, o Fundo JGR, disponível no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), com aproximadamente 20.000 documentos sobre as funções deste autor na vida pública, como literato e diplomata (LANNA et al. (org.), 2010). Deste montante, centramo-nos na análise de um recorte de cerca de 3987 documentos que correspondem ao seu meticuloso trabalho de criação literária, através de correspondências, anotações, diários, cadernos, cadernetas, pastas com folhas avulsas, entre outros; a partir dos quais adentramos os “bastidores daquela criação”(WILLEMART,1999) , para ver esboçadas as linhas de força do projeto literário das"estórias" (ROSA,1962 ; 1967). Sob este viés, foi feita uma consulta aos seus Cadernos de Estudos, nos quais o tema oralidade destacou-se nos registros de elocuções, pausas (M%) e ritmos (RODRIGUES, 2014); conforme foi apresentado em 2013, no XI Congresso Internacional da APCG (RODRIGUES, 2015). Dando continuidade a esse estudo, em 2021, trazemos uma face complementar, com alguns textos de recepção dos livros, selecionados e arquivados pelo próprio autor, e que mostram resultados daquele projeto literário, nos quais a escrita x oralidade é discutida por críticos literários e formadores de opinião e escritores como Josué Montelo (1962),que observou nas estórias a marca da crise da linguagem;Tristão de Ataíde (1967), que destacou que tanto valor ao que se ouve poderia causar estranheza no leitor; ou mesmo Carlos Osmar (1962), que comemorou a utilização de novos sons e a busca de “melodias verbais” e por fim Paulo Mercadante (1967), que esboçou um histórico da separação entre fala e escrita na literatura brasileira à época, mostrando como tais obras contribuiram para a História da Literarura e das ideias de seu tempo. Dialogando com o crescente interesse pela análise dos Fundos Pessoais como espaço de debate sobre os Estudos Brasileiros (UMATTI; NICODEMO,2018) e novas possibilidades de escrita da História do Brasil, salientamos que nesta seleta crítica também encontramos posicionamentos de intelectuais como Temistocles Linhares (1963),observando que, para além do trabalho com a linguagem, a narrativa das estórias mostra a vida de outro ângulo; já Carlos Lacerda (1967) lamenta que a linguagem aprimorada poderia esconder “o movimentos da vida”nas estórias; enquanto Léo Gilson Ribeiro (1962) comemora o advento da produção escrita de Guimarães Rosa, que resgata séculos de cultura oral e Antonio Olinto (1967) conclui que “fazendo em sons e sentindos”, Rosa também “faz um Brasil que é palavra e coisa”. Resgatar estas fontes nos mostra que, mesmo em seu lançamento, as estórias rosianas foram enxergadas e discutidas como uma proposta de Brasil e resgatar tal debate faz emergir face do meio intelectual brasileiro na década de 1960 a partir daquela literatura fincada na escuta e na inventividade.
Referências bibliográficas
GINZBURG, Carlo.Decifrar um espaço em branco.In: Relações de Força: História, retórica, Prova. Trad.Jonatas Batista Neto. São Paulo: Cia das Letras. 2002. Pp. 100-17.
HUNT, Lynn (org). A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
IUMATTI, Paulo Teixeira; NICODEMO, Thiago Lima. Arquivos pessoais e a escrita da história no Brasil: um balanço crítico.Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 38, nº 78,p.97- 120, 2018.
LANNA, Ana Lúcia Duarte; ROSSI, Fernanda da Silva Rodrigues ; RIBAS, Elisabete Marin (org.). Guia do IEB: o acervo do Instituto de Estudos Brasileiros. 2010. (Editoração/Catálogo).
PINO, Claudia Amigo & ZULAR, Roberto. Escrever sobre escrever – uma introdução à crítica ge nética.São Paulo: Martins Fontes, 2007.
RODRIGUES, Camila. A respeito dos Cadernos de Guimarães Rosa e o questionamento da Hisória.In: Romanelli, Sérgio. Compêndio de Crítica Genética: América Latina. Vinhedo, Editora Horizonte, 2015, p. 169-173.
_____. Escrevendo a lápis de cor: Infância e História na Escritura de Guimarães Rosa.Tese de dou toramento na área de História. USP, 2014.
_____.Mãos vazias e pássaros voando: Memória, invenção e não-história em “Tutaméia: Terceiras
estórias ”, de João Guimarães Rosa. Dissertação de mestrado na área de História. USP, 2009.
_____. Poemas para ouvir : Uma interpretação dos Cadernos de Estudos para a obra de Guimarães Rosa. Manuscrítica (São Paulo), v. 25, p. 95-106, 2013.
ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro. José Olympio Editora, 1962.
_____. Tutaméia: Terceiras Estórias.Rio de Janeiro. José Olympio Editora, 1967.
WILLEMART, Philippe. Bastidores da criação literária. São Paulo: Iluminuras, 1999.
Referências de Arquivo
ATHAÍDE, Tristão.Fabulógico Guimarães Rosa. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,19 de ago de 1967. (Arq.IEB/JGR R 12,3,40)
LACERDA, Carlos.Cartão de agradecimento por Tutaméia. Rio de Janeiro, 01 de ago de 1967. ( Arq.IEB/JGR R 12,3,37)
LINHARES, Temistocles. Significação do conto. O Estado de São Paulo, São Paulo, 26 de jan de 1963.(Arq.IEB/JGR R 7,38)
MERCADANTE, Paulo.Alivio/ Escrever bonito. Correio da manhã, Rio de Janeiro, 29 de julho de 1967. (Arq.IEB/JGR R 12,3,24)
MONTELO, Josué. Tendências atuais da prosa brasileira IV (trecho).Jornal do Comércio.[S.l.],6 de dez de 1962.(Arq.IEB/JGR 7,52)
OLINTO, Antonio. Tutameia, tutameemos. O Globo, Rio de Janeiro, 26 de ago de 1967. (Arq.IEB/JGR R12,03,041)
OSMAR, Carlos. Guimarães Rosa conta as suas ‘Primeiras estórias”. Gazeta de notícias.[S.l.],30 de set de 1962.(Arq.IEB/JGR R 7,121)
RIBEIRO, Léo Gilson (org).Panorama do mundo. Jornal de Letras.[S.l.],05 de out de 1962. (Arq.IEB/JGR R7,104)
No simpósio "Arquivos: práticas e perspectivas de um campo em expansão" eu dividi a mesa, organizada pelo Cléber Araújo Cabral, meu velho conhecido dos eventos na UFMG, com mais três pesquisadores, um é o Lueldo Teixeira, conhecido geneticista do Piauí que pesquisa o arquivo do piauiense Fontes Ibiapina; o outro é o erudito pesquisador Jonatas Guimarães, que pesquisa o arquivo de Autran Dourado; a quarta participante é a jovem Ana Beatriz Teixeira, que participa de um interessante projeto de tradução de uma peça do irlandês W. B. Yeats.
Se for do seu interesse, assista a mesa:
Vocês não imaginam o prazer de estar de volta aos estudos genéticos !
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terça-feira, 26 de outubro de 2021
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
"Antes do baile verde", de Lygia Fagundes Telles e meu amadurecimento como leitora
Edição Cia das Letras 2009. Capa detalhe de "O menino com tambor", de Beatriz Milhazes |
1 Os Objetos - Uma ótima introdução ao ambiente da maioria dos contos: um momento do cotidiano de um casal em crise, com um deles com problemas de saúde, conversam sobre relações sentimentais. Um belo trecho é quando Miguel, desconfiando que Lorena está com ele por pena, tenta explicar seu posicionamento:
"Quando olhamos para as coisas, quando tocamos nelas é que começam a viver como nós, muito mais importantes do que nós, porque continuam.(...)Veja, Lorena, veja… Os objetos só têm sentido quando têm sentido, fora disso… Eles precisam ser olhados, manuseados. Como nós. Se ninguém me ama, viro uma coisa ainda mais triste do que essas, porque ando, falo, indo e vindo como uma sombra, vazio, vazio." (p.12/13)
Como é comum nos contos lygianos, a narrativa é um destaque de uma história maior (a impressão é que poderiam ser parte de um romance, ou não ...), e os finais ficam em aberto, o mais incrível é como ela, mesmo assim, constrói personagens conta uma história que mexe com a gente.
2 Verde Lagarto Amarelo - É um dos contos que eu já conhecia e amava. No conflito velado e lambuzado de amor, recordações e ressentimento, entre os irmãos Rodolfo e Eduardo, é bem desagradável se identificar com Rodolfo, mas é também inevitável. Tantas outras vezes no livro isso acontece: não é uma leitura para fracos. Um trecho lindo é quando Rodolfo, o escritor, pondera:
"—Já é tempo de uvas?—perguntei colhendo um bago. Era enjoativo de tão doce mas se eu rompesse a polpa cerrada e densa sentiria seu gosto verdadeiro. Com a ponta da língua pude sentir a semente apontando sob a polpa. Varei-a. O sumo ácido inundou-me a boca. Cuspi a semente: assim queria escrever, indo ao âmago do âmago até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto" (p.20)
3 Apenas um Saxofone - É um dos conto bem fechado em si mesmo (depois tem piores), precisei ler mais de uma vez, porque ainda queria entender a narrativa, com o tempo fui aprendendo a ouvir a dicção de Lygia, mais vale apreender o que primeiro chama a atenção, porque o mais importante não é dito, às vezes nem mostrado! Essa prostituta, apelidada Luisiana (berço do jazz) por seu antigo amante Xenofonte, o moço que era jazzista e tocava saxofone, do qual ela sentia tanta falta... mas onde estaria ele?
4 Helga - Desse todo mundo gosta, porque tem um narrador auto crítico, quase um Rodrigo S.M. da Clarice, e engana a gente com uma base histórica, fala de um descendente de alemães que cresceu passando férias com a juventude nazista, mas isso, claro, não é o mais importante, eu gostei, achei um bom conto, envolvente, mas tem melhores no livro.
5 O Moço do Saxofone - Esse, sim, é um baita conto. Novamente a imagem fálica do saxofone. No meio das coisas bizarras que se conta (pra nos distrair), há a voz de um som, a música, que o tempo todo está competindo a narração com o narrador, fazendo acontecer outro enredo dentro da trama. CARAMBA: ISSO É UM CONTO! É certo que os contos desse livro têm algumas constantes (tipo o verde sempre aparece, menos nesse), e já é a segunda vez, até agora, que Lygia nos faz ouvir o som de saxofone, mas nesse conto, esse som, talvez mais do que o saxofonista do título, é o ponto chave do conto. Lygia é a escritora da sugestão!
6 Antes do Baile Verde - Esse eu li muitas vezes na vida, amo de paixão. Na trama entre a "jovem" Tatisa e sua empregada, a "mulher" Lu é genialmente construída para nos angustiar, a insistência de Lu em abrir os olhos de Tatisa para o fato de que seu pai estava morrendo, a negação incessante da moça, toda representada pelas lantejoulas da fantasia, que não se prendem. Quando Tatisa enfim fecha a porta contra a dura realidade e vai ao baile, deixa cair algumas lantejoulas verdes da sua fantasia, como se a seguissem, como se perguntassem mais uma vez se ela tem certeza de que vai mesmo... Mas ela vai. Que decisão difícil entre a morte e a vida. Eu tenho me acostumado a ouvir o questionamento das lantejoulas, não me arrependo, mas como me esgota. Isso é fato.
7 A Caçada - Um dos contos que mais me impactou, sem dúvidas. Esse eu não conhecia, mas cara, o que é aquilo? A história de um homem que se sente arrebatado por uma tapeçaria que retrata uma caça num antiquário, que admira, observa ,se reconhece participando na cena, sofre com ela, se pergunta qual papel é a ele destinado ali ... Assim como é com um leitor passional como eu, se eu não embarco no livro, não me vale a leitura.
Tapeçaria representando o conto aqui |
8 A Chave - Um conto ótimo, a gente vai pela cabeça de Tom, o senhor que não está mais conseguindo acompanhar a jovialidade de sua esposa. O personagem "velho" diz insistentemente a esposa mais jovem que se prepara para sair, que precisa dormir, dormir, dormir... Chega a sonhar:
"Se pudesse dormir ao menos aquela noite, enfiar-se na cama com uma botija, uma delícia de botija, criando assim aquela atmosfera terna entre seu corpo e as cobertas... Ô! A melhor coisa do mundo era mesmo dormir, afundar com uma âncora na escuridão, afundar até ser a proporia escuridão, mais nada."
Nunca me identifiquei tanto!
11 Um Chá Bem Forte e Três Xícaras- Um dos contos mais bonitos do livro. Como uma rainha, Maria Camila aguarda as 17 horas para o chá que marcou com uma visitante. Em cia da empregada Matilde, conversam sobre a convidada, jovem estagiária de seu marido Augusto, que Matilde conhece porque é ela às vezes telefona para ele. Maria Camila, na iminência de receber uma concorrente ao seu posto, passa todo o tempo observando a natureza no meio da tarde - hora em que "tudo vai ficando rosado" -, procurando não perder sua majestade, em trechos sublimes como este:
"Maria Camila voltou-se para a janela. Estava sentada numa cadeira de vime, entre os dois canteiros do jardim. No céu azul-claro, as nuvens iam tomando uma coloração rosada. Havia uma poeira de ouro em suspensão no ar." (p. 99-100)
Na verdade ela sabia que estava prestes a entrar numa briga que poderia ser feroz, não sabia bem o que fazer, dirigindo-se às rosas , intimamente, suplicava:
"Eu gostaria que você me dissesse o que é que eu devo fazer!…” Apoiou a nuca no espaldar da cadeira. “Augusto, Augusto, me diga depressa o que é que eu faço! Me diga!…”(p.103)
Nem a rosa, nem Augusto lhe responderam nada, ela então percebe que vai ter que lutar com suas próprias armas, sozinha:
"Expôs a face à luz incendiada do crepúsculo. E riu de repente: — Acho a vida tão maravilhosa!(...)
— Assim que a moça chegar, sirva o chá aqui mesmo, faça um chá bem forte. E traga três xícaras.
— Mas se é só a senhora e ela…
— O doutor pode aparecer de surpresa, é quase certo que ele apareça — acrescentou a mulher limpando do vestido os pedaços da pétala dilacerada que ficara por entre as pregas da saia. Levantou-se. Respirava ofegante. — Quero os guardanapos novos, não vá esquecer, hein? Os novos." (p.104)
Que personagem! Quando, ao final, ela ouve passos na calçada, "levantou a cabeça. E caminhou decidida em direção ao portão" (p.104). Em seu reino, nada deveria temer!
12 O Jardim Selvagem - Uma história de suspense. A jovem Ducha narra a história do tio Ed e da Tia Daniela, sua esposa diferentona, que nadava nua, sabia atirar e nunca tirava a luva da mão direita. Conto divertido.
13 Natal na Barca -É um dos contos que eu já conhecia. Muito triste e bonito... um tanto onírico, muitas tragédias sendo contadas calmamente, na força da fé na noite de Natal.
14 A Ceia - Conto impactante. Em seu desespero de mulher trocada por outra, Alice insistia em reencontrar Eduardo, seu ex, sempre jurando que "desta vez" não vai fazer escândalo. Mas é mais forte do que ela. Que pena, gostaria de abraçá-la. E ele também, que pagou a conta, disponibilizou o táxi quando ela preferiu ficar sozinha: como lidar com uma situação tão constrangedora? No fim, restou a ela o isqueiro de Eduardo e suas belas chamas!
15 Venha Ver o Pôr do Sol - Um dos contos mais famosos da Lygia, outra narrativa de suspense e mistério, bem mórbida, narra a história de Ricardo, que convida sua ex Raquel, para um último encontro de despedida, no qual poderão apreciar o mais belo por do sol da cidade. Como é uma trama de vingança, na verdade ele deseja atraí-la para um cemitério abandonado pelos vivos e pelos mortos, para trancafiá-la numa masmorra. Muito influenciado pelo fantástico "Um barril de Amontilhado", de Poe, mas com um triste traço brasileiro : a assassinada é uma mulher!
16 Eu Era Mudo e Só - Achei um conto difícil de ler, a história de Manuel e sua esposa exemplar e rica Fernanda e da filha Gisela, que é toda narrada a partir dos pensamentos de Manuel. A família ideal, a mulher que ele ama, mas que o deixa deslocado. Quando ele cita o verso "eu era mudo e só na rocha de granito", do poeta português Guerra Junqueira, para explicar como se sente, Fernanda o repreende dizendo que aquele poema era uma coisa ridícula. Restou a Manuel imaginar como seria lindo se transformasse sua bela família em um postal, não precisando conviver com ela!
17 As Pérolas - Após o incômodo (ao ponto de mal conseguir ler com atenção) "Eu era mudo e só", achei as pérolas mais bonito, gostei das imagens: As pérolas "rosadas e falsas" de Lavínia (cujo "entrechocar das contas produzia um som semelhante a uma risada", a varanda, o "Chopin de bairro", a lembrança da mãe de "olhos poderosos", que sempre já sabia de tudo e o ciúme doentio de Tomás, que justifica o clima de falsificação da trama (nossa única certeza está nas coisas assumidamente falsas, o resto pode ser suposição de uma mente ciumenta. Sim, há fortes referências ao Dom Casmurro, embora para mim Lygia seja mais palatável, então eu só posso aplaudir mais uma vez nossa grande Dama Lygia.
18 O Menino - Um belo conto sobre o amadurecimento do menino, que na ida ao cinema com a idealizada mãe, realiza o cenário de traição em que sua família vive. Dói muito crescer e para ele não foi diferente. Belo final de um livro incrível, que marcou meu crescimento como leitora! obrigada Lygia!
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
segunda-feira, 11 de outubro de 2021
ROMANCE E ADAPTAÇÕES
Com o termino da Mostra de Cinemas Africanos ontem, já comecei a cumprir minha promessa de retornar ao Ojuobá. Assisti a todos os vídeos da série "Tenda dos Milagres" (1985) disponíveis no Youtube e achei bem bonito, claro. Muitos atores negros e "mestiços" (Nelson Xavier, Milton Gonçalves, Chica Xavier, Gracindo Júnior, Antônio Pompeo, Solange Couto, Joel Silva, Antônio Pitanga, Tony Tornado, Tânia Alves, Dhu Moraes.etc) se saindo muito bem e essa trilha sonora é da gente levar pra vida:
01. MILAGRES DO POVO – Caetano Veloso
02. LIVRE – Beth Bruno
03. OLHOS DE XANGÔ (AFOXÉ) – Moraes Moreira
04. É D’OXUM – MPB 4
05. ELOIÁ – Dudu Moraes
06. FLOR DA BAHIA – Nana Caymmi
07. OIÁ – Danilo Caymmi
08. AMOR DE MATAR – Tânia Alves
09. AFOXÉ – Dorival Caymmi
10. MALUCO PRA TE VER – Wálter Queiróz
Produção musical: Guto Graça Mello
Não sei se alguma dessas canções foi composta para a série, sei que o tema de Caetano foi uma homenagem ao Jorge Amado, que teria dito em entrevista, a maravilhosa frase que abre a canção "quem é ateu e viu milagres como eu ", o que é a cara de Jorge e a alma do romance Tenda dos Milagres!
"pessoas reais,- quando não as inseriu com os próprios nomes em suas obras. O rábula João Romão foi baseado em Cosme de Farias - um célebre defensor dos pobres em Salvador. O professor Silva Virajá era o médico também célebre Pirajá da Silva. O delegado Pedrito Gordo era o chefe de polícia Pedrito Gordilho, famoso por perseguir o candomblé e os capoeiristas.Até o personagem principal, Pedro Archanjo, foi inspirado numa pessoa real, o negro Manuel Querino. Como no livro de Jorge Amado, Manuel Querino notabilizou-se por escrever vários livros de caráter antropológicos e étnicos (um deles sobre a culinária baiana e um outro, considerado muito importante, que traça a genealogia da elite branca de Salvador, mostrando a sua miscigenação com a raça negra). O adversário intelectual de Pedro Arcanjo é Nilo Argolo, provavelmente inspirado na figura do médico e antropólogo brasileiro Nina Rodrigues que ficou conhecido por suas afinidades com as teorias racistas de Lombroso e outros." Tenda dos Milagres
Sobre o filme (1977) de Nelson Pereira dos Santos, ele é mais fiel à história original, começa com a redescoberta de Pedro Arcanjo, Ana Mercedes, namorada do Fauto Pena , no papel que lhe é devido, e ao redor do professor James Dean Leverson. Mas é bem ambientado nos anos 70, mostra o conflito sugerido no livro de Amado, mas no filme aparecem outras coisas como comícios, onde Arcanjo morre, inclusive. discute-o, mas a questão teórica fica à parte e nisso é bem ao contrário da adaptação da Globo, que é esteticamente mais bonita. No filme eu destaco apenas lindíssima cena (no livro está na p.200-2) na qual o professor Fraga Neto e Pedro Arcanjo discutem sobre a legitimidade de um cientista frequentar o Candomblé e Pedro argumenta que é possível para ele, que é mestiço e tem o objetivo compreender a cultura do Brasil, nem de branco nem de negro, mas mestiça, para a qual não basta apenas ser materialista, é preciso conciliar teoria e vida para o bem do povo e a clareza e confiança de Arcanjo vai golpeando o professor amigo com palavras, que ao final conclui que ele tem razão e deveria estar em uma cátedra na Universidade e Pedro responde que não quer subir, que anda é para frente, no filme a cena vai de (1 hora :44 minutos a 1 hora : 48 minutos).esta peleja, que sintetiza a obra, vale pelo filme todo.
domingo, 10 de outubro de 2021
A Garota do Moletom Amarelo, Uganda | 2020, dir. Loukman Ali
As fotos
A garota do moletom amarelo |
Amuleto |
Desenho ilustrativo da Bladda: personagens com as roupas do policial e do carona |
Vou matar o cartunista sem graça |
Preso pela garota do moletom amarelo |
Infância do policial nos anos 80 |
Esse cara aparece às vezes, explicando referências |
Enterrando vivo |
Pedindo carona |
Uganda |
Cartunista |
Vista de quem está sendo enterrado vivo |
História da África colonial |
Refém |
Mulher brava |
Esse moletom amarelo |
Desenho ofensivo do cartunista |
Se desmontando |
Briga física |
Neurocientista, autor de "Um lugar feliz" |
Policial parou para comprar peixes? |
Pausa na disputa? |
Flagra |
Era para olhar para outro lado,mas na janela só víamos a propaganda do livro "Um lugar feliz" |
o Velhinho com a pochete |
Mão pregada |
Renda-se |
Me pegou |
Só queria ir embora |
Memórias dos anos 80 |
Narrativas em animação |
Velhinho só observa |
Linda Uganda |