domingo, 29 de junho de 2025

FIANDEIROS DO TEMPO

 


No dia 29 de junho eu fui ao teatro,num dia frio de sol  fui toda trabalhada nos tons de marrom 

Podia ter posto uma cor nesse look

É que eu estava num dia melancólico,mas nunca deixo o romantismo de lado

Ai de mim que sou romântica 😍 


Mas o importante é que tive  a oportunidade de assistir ao espetáculo "Fiandeiros do tempo" , a partir da iniciativa do projeto  "Palco Giratório", que é  uma ação nacional do Sesc voltada para o intercâmbio eca difusão da artes cênicas, uma iniciativa que busca a descentralização e democratização do acesso à produção cultural brasileira.
        

A peça escolhida veio do coletivo acreano Iluminar e conta a história de um ribeirinho e sua cultura às margens dos rios da Amazônia,interpretada pelo ator Vitor Onofre e músico Marcos Antonio no violão.


Enorme é a contribuição desse tipo de pesquisa para os estudos da cultura brasileira, especialmente os dedicados à história oral.


Candidata à foto do ano
Com instrumento tradicional 


Durante o espetáculo é apresentado "espanta-cão",um instrumento musical Popular do Acre. Vitor criado pelos seringueiros do Acre
Vitor Onofre nos conta que durante o ciclo da borracha,nas primeiras décadas do século XXI, a região da Amazônia ficou muito rica e procurou no nordeste mão de obra barata para trabalhar nos seringais.
Quando chegaram ao Norte, se sobreviveram a viagem violenta, os nordestinos quiseram logo tocar o seu forró. Não tendo um instrumento que proporcionasse o ritmo,criaram artesanalmente o espanta-cão com pau e cajado em firma de cruz e um ralador de milho. Atualmente esse instrumento já não é quase mais usado, mas por peças como está, não está esquecido.


Algumas fotos do espetáculo 
Vitor Onofre atuando 

Violão de Marcos Antonio

Em cena 

Espanta-cão atuahdo

Patrimônio imaterial do Acre 

Amor à sua terra

Com essa luz, toda foto fica linda

Detalhe vermelho 


Que maravilha junho me deixou antes de partir !





quinta-feira, 26 de junho de 2025

O prazer de uma companhia , por Gabriel Garcia Garcia Márquez

CAPA "A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada "

Tenho esse livro de contos há anos e apesar de gostar muito do Gabo ,nunca tinha lido por completo. Chegou o momento. Gostei, claro,mas não é de longe meu favorito.

Para um registro, comento um pouco mais o meu conto preferido dessa antologia.


Ilustração de Carybé para 
"A morte constante para lá do amor"


 CÂNDIDA ERÊNDIRA : Neste livro de Contos fantásticos de Gabriel Garcia Márquez, o texto  que mais gostei foi "Morte Constante para lá do Amor"(1970).

Conta a história do Senador Onésimo Sanchez, um homem poderoso,  casado, pai e aparentemente feliz, mas que na intimidade mostra-se um libriano e solitário. Já na primeira frase do conto, ficamos sabendo que morrerá em seis meses, mas antes conhecerá a mulher de sua vida e o conto é sobre esse encontro. Envolvido em trambiques políticos, Onésimo recebe do contrabandista Nelson Farina  o pedido de obter documentos falsos, o que é negado. Até que Nelson lhe manda de "presente" a sua filha, Laura Farina, certamente a mulher mais bonita do mundo, como paga pelo favor que ele não poderá mais negar. O senador estranha e repudia essa atitude , mas sabe que pelos acertos políticos, vai ter que aceitar a oferenda, mas não lhe atrai, acha que ela é uma criança,ao até a moça revida dizendo ter quase dezenove anos. Logo ao tocá-la,  percebe  que a Laura  veio vestida com  um cadeado prendendo as partes e a chave só virá quando o favor for garantido ao seu pai! Onésimo então , "fechou os olhos para relaxar e se encontrou na escuridão... 
-Esqueça-se da chave - disse-lhe e durma um pouco comigo. É bom ter alguém quando se está só.
Ela então o deitou no seu ombro, o senador a abraçou pela cintura, escondeu o rosto na sua axila de animal selvagem e sucumbiu ao terror. Seis meses e onze dias depois morreria na mesma posição, desmoralizado e repudiado pelo escândalo público de Laura Farina, e chorando de raiva por morrer sem ela."

Achei lindo 😍 
Como é importante uma cia para um solitário!
Mais um texto de Gabo envolvendo um homem, uma mulher e o  sono 😴

Também destaquei, em uma publicação à parte, uma belíssima descrição de Laura Farina:

"Laura Farina sentou-se como numa carteira escolar. Tinha a pele lisa e tensa, com a mesma cor e a mesma densidade solar do petróleo cru, e seus olhos imensos eram mais claros que a luz." Gabriel Garcia Márquez "Morte constante para lá do amor", p.65 

Qual é a cor e a densidade do petróleo cru?



 
Literatura: muitos caminhos...


quarta-feira, 25 de junho de 2025

Noite de São João no instrumental: rabequeiro Filpo Ribeiro


 Era um dia gelado e corrido, tinha alguns exames para fazer na região da Paulista, muito colado ao horário da terapia, não sabia se ia dar tempo, mas deu, devido à maravilhosa invenção da humanidade que torna possível viver em uma metrópole imensa como São Paulo : o metrô!

Era dia da São João e também de Xangô 


Eu saí pedindo humildemente misericórdia e agradecendo à


Na terapia tive uma consulta ok, falei bastante sobre como, no meio do ano, constatei como  2025, ano de xangô e Iansã, me surpreendeu positivamente e tanta coisa mudou! Até inacreditavelmente eu me  sinto muito melhor do que no ano passado!

No Sesc não tomei sopinha, mas chocolate quente com torta de espinafre com ricota, empada integral de palmito e bolo de amendoim, paçoca e pipoca (era noite de São João).


No show um som nordestino, que você pode conferir aqui 


No comentário breve, escrito posteriormente:

INSTRUMENTAL ONTEM: Ouvimos o delicioso show "Arribação, com o rabequeiro e multiinstrumentista Filpo Ribeiro. Sempre a música popular nordestina (ainda mais numa noite de 24 de junho, dia de São João)é um diferencial salutar aos ouvidos, ainda mais quando temos convidados nobres como zabumbeiro  e flautista  Zé Pitoco e um músico que faz canções e instrumentos como o próprio Filpo Ribeiro, que faz deu próprio Marimbau (instrumenta artesanal com panela e pau). Além de convidar Alexandre Rodrigues para tocar pífano e oferecer os que fabrica. Foi um show muito alegre e musicalmente rico. Algumas fotos 






Até o próximo show 😄 





segunda-feira, 23 de junho de 2025

Relendo "Alice e Ulisses", de Ana Maria Machado

 

 

Depois que reli "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", de Clarice Lispector, aquela leitura forte e cheia de esperanças que se faz aos vinte anos e percebi que o que realmente me importava eram mesmo aquiles trechos dos quais  me lembrava, não achei nada além daquilo e fiquei um pouco decepcionada com a RELEITURA.

Era questão de honra reler "Alice e Ulisses", que para a leitora que era , na época, tinha relação muito direta com o livro de Clarice, muito além de serem livros sobre um amor entre professoras primárias e um Ulisses. Teria mesmo? Fui reler.

Assim como o livro de Clarice, o  grosso do prazer da leitura já habitava minha memória, mas nesse caso ainda consegui outras impressões novas, como quando me encantei com o prólogo cheio de brincadeiras com as palavras e significados de Alice e Ulisses...

Em geral, acabei afastando maiores proximidades entre os livros. Se aquele é uma jornada de aprendizado, construção de amor e fenomenologia, este é a história de uma louca paixão, banhada nos textos clássicos da Odisséia de Ulisses e da Alice de Carroll.

Primeira edição, 1983. Minha edição.


Vejamos algumas poucas publicações que resgatei no processo de releitura:

9 junho

ALICE E ULISSES : Terminada a releitura de "Uma aprendizagem..." da Clarice, senti vontade de reler "Alice e Ulisses" da Ana Maria Machado (uma das minhas autoras favoritas na infância). Quando li esse livro adulto dela, publicado nos anos 80, eu tinha meus vinte e poucos anos e estava ainda muito impactada com a leitura de "uma aprendizagem", tanto que não passou pela minha cabeça que não fosse uma referência direta e ele: dois romances sobre a busca de um encontro erótico/amoroso entre Ulisses com  uma professora primária! Só isso já me bastava para ligar as duas obras. Mas será mesmo que existem mais ligações entre os dois livros? Só relendo pra saber. Vou devorar o livrinho (amo a escrita de Machado), depois lhes conto 😍


10 junho 

ALICE E ULISSES:  Como um cineasta ouve o "canto de sereia"?


"Ulisses ouvia vagamente a história comprida que a moça contava em palavras que fluíam tranquilas e seguras em cima de um leito de hesitação.  Prestava atenção era na voz dela. O canto das sereias devia ser assim. Não era só um timbre agradável, uma modulação harmônica. Eram as qualidades não auditivas que o envolviam. Uma voz quente, macia, temperada. Dava vontade de pegar. De ver, filmar, fotografar. Tinha que conseguir um dia botar em imagens essa voz visual, plástica." (P.17-8)


Está aí um momento interessante do livro. Tal qual o da Odisseia, esse Ulisses também ouve o canto da sereia que pode matá-lo. Mas esse não resiste: acaba doente (de paixão)


17 junho

COMEÇA ASSIM: Primeiro livro para adultos de Ana Maria Machado (a dama da nossa literatura infantil), Alice e Ulisses (1983) começa com uma introdução muito saborosa, onde a autora vai mesclando as referências centrais : as personagens  Alice de Carroll  e Ulisses, de Homero. Ao mostrar que vai contar uma história de amor na mescla  desses dois universos (ALUCINADA LUCIDEZ), Machado começa trabalhando as palavras (destaquei algumas evidentes em caps), depois cita os universos de espelhos, maravilhas, a odisséia, o pathos e o logos,etc. Adorei a introdução, especialmente porque o livro não será todo escrito assim, o que acharia soberbo, tolo e desnecessário, mas a título de introdução  serve muito pra entrar no clima do romance. Vejamos:


"ALICIADA, ela foi, vá lá. Mas porque quis, das DELÍCIAS ao SUPLÍCIO. Vai ver que achou que tinha ALICERCE. E tanto tinha que não perdeu a ALUCINADA LUCIDEZ, nem mesmo na alegria inicial do cio, por mais variados que tenham sido os desvairados desvãos e os deslizantes desvios.

Claro,teve clima de vertigem, de JOGO DE ESPELHOS, cada um mergulhando no outro e se  reencontrando filtrado ao inverso. Explorando verso e reverso nas palavras tontas e nas levras tantas, pavanas livres ou nirvanas parvos, rolando na cama e fodendo feito sapo, como dizia, que dispara e não para mesmo que lhe curtem a perna. Descobrindo salgados garimpos do corpo e lambendo versos de Salinas no fundo do ouvido,resfolegados, entre um espasmo novo e um orgasmo seco.

Só que não dava mesmo. Ilícito e não solicitante não podia ser mesmo esquema de Ulisses, enredado na roda que se deslancha e retece, sem despachar ou retesar. Escolhendo o tear e encolhendo o tentar. Pré -ferindo, preferindo fugir espantado do "pathos" e se amparando no "logos" como desculpa para se paralisar. Fingindo razões éticas como ilusões óticas para não enxergar o mascar mesquinho da ruminante da ODISSÉIA, do ramerrão que rema para longe do PAÍS DAS MARAVILHAS, ou que teme a desarrumação do OUTRO LADO DO ESPELHO. Avesso que para Alice acabava sendo uma revelação, rebelde a cada novo véu, clareando a intriga, separando o trigo do jogo verbal."

   No final 

Agora encerrei o ciclo com os Ulisses.

Ao final, nem a narrativa amorosa  de Clarice, nem a  passional de Machado combinam com essa mulher de meus idade que sou hoje . Sou muito mais a menina de Felicidade Clandestina, meu livro favorito de Clarice.


FELICIDADE CLANDESTINA: Postei um registo da releitura de "Uma aprendizagem..." concluindo que, embora seja um livro bonito, ainda prefiro os contos de "Felicidade Clandestina". Quando li o romance aos vinte anos, comecinho da vida , é claro que eu acreditava que poderia  um dia viver aquela plenitude do amor à primeira vista e ao mesmo tempo aprendido de Lóri e Ulisses . Agora já não acho. Hoje já sei que sou uma leitora e meu melhor amante será sempre um livro, ainda que emprestado de biblioteca, ainda que seja de outra pessoa,  será meu e eu o lerei com "orgulho e pudor": 

"A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia."

Ave, Clarice ...


Momentos...

domingo, 22 de junho de 2025

"Meu amor", Beatriz Bracher


 


 


Entre maio e junho de 2025 eu emprestei da biblioteca do SESC Pompéia e arrisquei ler a coletânea de contos curtíssimos "Meu amor", da roteirista e escritora Beatriz Bracher. Não se trata de uma reunião de textos românticos como poderia sugerir o titulo, pois o amor aparece ali de diferenciadas formas,tantas vezes em suas complicações. Sendo textos enxutos e muitas vezes desafiadores dos quais,  em geral,  eu gostei bastante e destaco que são muito bem escritos: uma prosa  contemporânea e ágil que está o tempo todo dialogando com o audiovisual, telejornal, programas de auditório, cinema , jogos de cena (autora roteirista) e referências literárias... Bem interessante . Se eu fui arrastando a leitura do livro curtíssimo, confesso que fui, não foi porque não gostei, mas porque achei que ia chegar uma hora em que poderia dar aos textos a atenção que merecem. Isso não aconteceu e, infelizmente,  terminei a leitura sem muito aprofundamento, mas  satisfeita com a autora nova. Alguém leu esse livro? Conhece a autora?

Vejamos algumas poucas postagens que fiz nas redes durante a leitura



12 junho 
"Desde pequena sou devota de Sant'Anna, por ela ser uma avó que cria e porque ensinou Maria a ler e aceitou com carinho o neto sem pai. Ela é nossa padroeira, foi no dia da sua festa que nós, os negros de Campo Redondo, nos libertamos, muitos anos atrás, e voltamos a ser gente a céu aberto, com o primeiro Benedito à frente de nosso povo. Essa é nossa história, não o que aconteceu. A revolta foi marcada para acontecer no dia de Sant'Anna, mas Benedito, ancestral de todos nós, foi traído e, bem antes do dia 27, muitos de seus companheiros já tinham sido presos ou mortos. Benedito fugiu com os camaradas leais que sobraram, e a história não sabe mais seu rumo. Sant'Anna não pôde proteger sua revolta,o seu dia ainda não tinha chegado. Aqui em casa todos são filhos do primeiro Benedito e sabem que ele era um príncipe. No dia de Sant'Anna cantamos e dançamos a liberdade e nossa realeza negra, parida em vilas africanas de duas casas - o senhor e seu súdito -, e ficamos a cada ano, com a graça de Sant'Anna,mais acorrentados do que fomos um dia."("Zezé  Sussuarana", p.100)

13 junho 

DIAS DIFÍCEIS: Disse que eu ia ler Alice e Ulisses, mas antes achei melhor terminar o "Meu amor", livrinho que venho arrastando desde maio e agora só faltam algumas páginas para terminar. Nesse fim de semana, se for gelado, eu termino. Se não fossem os livros, o que seria de mim?🤔

14 junho
AUTORES JAPONESES: Estou a cerca de vinte páginas de concluir a leitura do breve  "Meu amor", de Beatriz  Bracher, livro de micro contos,  cuja  leitura venho arrastando desde o mês passado. Arrastei não porque achei ruim, longe disso, mas talvez porque essa narrativa  tão minimalista exija de mim muita atenção e, como vale a pena, quero dar mais atenção, daí vou deixando pra mais tarde, quando tiver mais tempo, mais foco... Enfim. Agora vou terminar mesmo. E em um dos continhos finais, uma narradora fez algo que eu amo, citou um autor  japonês! Kenzaburo Oe. Esse eu não conhecia, depois  soube que seus temas não são lá muito leves e que ganhou o Nobel de Literatura nos anos 1990. Pronto, agora quero ler, especialmente os contos (melhor jeito de me aproximar dos autores), mas vai ser difícil... Não achei em bibliotecas acessíveis. Ainda vou procurar  algum conto em PDF para  provar dessa escrita. Como é difícil encontrar literatura japonesa acessível. Nem um Nobel?😱



sábado, 14 de junho de 2025

Exposição Monet Ecológico no Masp

 

No dia 10 de junho eu tive a oportunidade de reencontrar minha amiga Rosane e fomos ao MASP, ver a exposição Monet ecológico.

Foi uma experiência singular voltar ao MASP para a exposição maravilhosa do Monet  💗

Estava muito frio e eu toda encapuzada 



Comecei com registros do vão livre do Masp, lugar onde fui muito feliz na vida





Na exposição, não fizemos muitos registros, afinal nenhuma foto capta o impacto da exposição e das obras, mas tentei dar um gostinho

CORES DE MONET : Como a maioria de nós aprendeu na escola, nós também sabíamos que um dos segredos da genialidade dele está no uso das cores, a relação com a luz ou sombra,etc.  

Na exposição em cartaz no MASP (imagem que abre o post) eu e Rosane Pavam   observamos isso com muita força nas mais de trinta telas vindas de diversas partes do mundo. Nos pareceu que o uso das cores  determinam  a presença ou ausência do movimento nas telas. E tantas vezes as cores são inesperadas ... Por exemplo,na mata fechada do detalhe que é a entrada da exposição, ao longe, só se vê o preto, é preciso se aproximar para, gradualmente, perceber que é um verde escuro e  ,escondido nele, cores mais claras , pontadas de amarelo, de vermelho (cor muito presente), que na primeira olhada são imperceptíveis. Por outro lado, algumas telas a gente vê melhor, na exuberância das cores,só de longe.
Ah pronto, agora já quero ir de novo 🤣😂





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sexta-feira, 13 de junho de 2025

Relendo "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", Clarice Lispector

 

Minha edição antiga e toda comentada. 
Na releitura eu não li nenhum comentário
dos 20 anos

Depois de inúmeras tentativas, entre o fim de maio e início de junho de 2025 eu finalmente reli "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", da Clarice Lispector, que tinha lido e adorado aos vinte anos e,  durante toda a vida, nunca saiu da minha mente em alguns de seus pontos principais 

No entanto, reler na íntegra, não consegui mais, nem mesmo na pandemia tive paciência para toda aquela fenomenologia.

Acontece que esse ano eu concluí a leitura. É um livro bonito. Talvez o mais belo de Clarice, mas eu confesso que esperava mais. Da leitura e geral, gostei mesmo dos trechos que nunca esqueci (a oração de Lory, a redenção de Ulisses...).

Não gosto de dizer isso, mas embora eu tenha gostado da releitura, ao final conclui que  podia ter ficado sem essa releitura, porque na memória intensa do frescor  dos vinte anos, o livro brilhava mais...

Vamos ver registros da releitura:

27 de maio

UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES : 

"...faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate,e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta  falar a verdade de pedra opaca para que contratasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade..."( Clarice Lispector, 'Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres', p. 20-1)

1 de junho 

UMA APRENDIZAGEM: "E agora era ela quem sentia a vontade de ficar sem Ulisses,durante um tempo, para aprender sozinha a ser . Já a duas semanas se haviam passado e Lóri sentia às vezes uma saudade tão grande que era como uma fome. Só passaria quando ela comesse a presença de Ulisses. Mas às vezes a saudade era tão profunda que a presença, calculava ela, seria pouco; ela queria absorver Ulisses todo. Essa vontade de ela ser de Ulisses e de Ulisses ser dela para uma unificação inteira era um dos sentimentos mais urgentes que tiveram na vida. Ela se controlava, feliz em poder sentir." P.140-1

2 de junho

Capa mais bonita 
A flor que cresce a partir de si mesmos, como Lóri 

RELENDO "UMA APRENDIZAGEM...":  É um livro estranho, mesmo para os moldes lispectorianos. Fala de dor, de amor, de "o Deus", de desejo e de um descobrir-se mulher através do filtro de um homem sabichão, mas que também descobre o segredo sagrado de uma mulher junto com ela própria. Estou gostando de reler. Essa capa é a mais representativa de Lóri: a flor que se permite crescer a partir de dentro de si própria, quando, em um mergulho no mar ,descobre :

"Era isso o que estava lhe faltando: o mar por dentro como o líquido expresso de um homem." (P.93)

Estou gostando de reler


3 de junho

A foto do trecho


UMA APRENDIZAGEM: COM SPOILER 

Nem transcrevi o trecho, fotografei mesmo porque é um dos pontos altos de "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres". Ainda que, solto assim, possa parecer um pouco dramático, para quem veio acompanhando a travessia do aprendizado de si mesmos de Lóri e Ulisses , faz muito sentido. E é bonito. 

Me desculpem o spoiler ,mesmo sabendo que ,para livros da Clarice, spoiler não contam. Mas se ainda não leu o romance, pule esse POST.

4 de junho 

UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES : Terminei de ler. Talvez o livro mais bonito da Clarice, mas não o meu favorito dela. Como ele trata de amor e  prazeres, ao concluir a primeira coisa que pensei foi "amor pela ótica da fenomenologia" ? 

Talvez. Gostei, claro, mas achei que gostaria muito mais dessa releitura, tinha minhas expectativas, mas foi bom clarear alguns pontos. Clarice é autora tão necessária, e esse livro é lindo 😍


Foi bom ter relido esse belo romance, mas da Clarice, ainda prefiro os contos de Felicidade Clandestina 😍

domingo, 1 de junho de 2025

Passeio na biblioteca

 Eu tive que dar uma corrida no Sesc Pompéia para resolver problemas na Biblioteca. Foi uma delícia ! Fiz alguns stories lindos . Ficam os registros