quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
A RETROSPECTIVA 2009
DEZEMBRO - Redescobri, enfim, o prazer de estar estudando e de decodificar linguagens, fui aos shows do Karnak e do Funk como le gusta e como diz um amigo meu "sai do corpo", descobri o significado da frase do Caetano "Tarado ni você" e isso me ajudou a destrinchar o "Discurso Caetano", estive muito ligada nas crianças e seu mundo...
NOVEMBRO - Mês muito tenso: Fiquei muito brava com o caso da moça da UNIBAN (que absurdo!), muito preocupada com dois garotos que desapareceram, contra a arbitrária eleição do novo reitor... mas também tivemos coisas boas: Dia da consciência negra, sai com um bombadinho sensível rsrsrs, assisti ao sarau com Claudio Willer (suspiros) e fiquei feliz pelo ano, enfim, estar acabando
OUTUBRO - Muita emoção nesse mês... Chorei muito ao conhecer a história do menino abandonado pelos pais Julio César Santos,fiquei triste com a morte de Mercedes Sosa, fiquei sem palavras com as ações do MST e os laranjais, fiquei apreensiva mas feliz com o Nobel do Obama e, enfim, completei trita anos comendo doces e ganhei um presente lindo,a lembrança doce de uma aluna que tive na oficina de Guimarães Rosa que me deu a noção de que tenho que fazer doutorado mesmo! ,
SETEMBRO - Teve Show do Roberto Carlos -que momento!- descobri e publiquei aqui um dos textos mais lindos que eu encontrei no doutorado até agora, é a introdução de Sebastião Salgado sobre os retratos das crianças do Êxodo, soube da partitura que os pássaros compõem na cidade, Me envolvi demais com o curso do Tatit e com a invasão evangélica no imaginário das crianças de hoje em dia...
AGOSTO -Não blogueei muito, mas caetaneei pacas, experimentei o Twitter e não gostei, fiquei sem palavras com o sumiço do Belchior e quis também dar uma sumidinha do mapa (rs)
JULHO - Entrei no doutorado: Que susto! Li a reportagem sobre o Lado B da adoção, comecei o blog Vamo comê
JUNHO - Assisti ao show de Naná Vasconcelos e Virginia Rodrigues (emoção), senti uma fiquei tristeza de morte quando assisti a invasão da PM no campus da USP
MAIO - Descobri a voz (e a loucura) de Amy Winnerhouse, Fui ao show de Tom Zé na Virada Cultural e me comuniquei pacas com ele, só isso, acho que estava cansando
ABRIL - Assisti ao concerto de Paulo Marteli, vivi a dor do fim do meu mestrado, li o "Curioso caso de Bejamin Button", fiquei péssima na Páscoa, assisti ao show Estudando a Bossa, comemorei o aniversário da Revolução dos Cravos, estava sobrevivendo.
MARÇO - Defendi meu mestrado e comemorei na esteira porque o vazio me dominava, assisti a defesa de uma amiga sobre sexualidade árabe, e minha angustia estava em completo desenvolvimento, vi "Quem quer ser um milionário", e dei fim para minhas ilusões amorosas... fiquei no vazio.
FEVEREIRO - Eu estava ainda muito sonhadora achando que ia conseguir um emprego como professora, comemorei o centenário de Carmen Miranda e o começo da Era de Aquário, fiz uma lista de tudo o que eu não queria... e eram muitas coisas, vi e me emocionei muito com a titulação do meu orientador e vi que eu o seguia muito mesmo sem saber que o fazia, relembrei a morte de Dorot Stang, redescobri os caminhos da minha formação,
JANEIRO - Comecei o ano destruindo o blog Tutaméia e passando definitivamente para esse aqui, devorava o livro do Saramago A Viagem do Elefante" e estudei muito porque achava que ia dar aula, o Serra começou o ano fazendo asneiras na OSESP, sofria muito com a separação e relia direto "O amor nos Temos do cólera".. o ano não is ser moleza!
Vamos ver se ano que vem teremos mais...
Feliz ano Novo e : tchau 2009!
domingo, 27 de dezembro de 2009
Caleidoscópio
"A gente bota essas experiências fortes de lado, mas elas ficam acontecidas dentro da gente; e os fragmentos delas formam um novo desenho lá no fundo do nosso caleidoscópio. Um caleidoscópio que o Tempo vai virando. Só que no nosso caleidoscópio as imagens viradas -mesmo parecendo que nunca mais vão voltar,acabam aparecendo de novo - porque a gente não deixa de se cada desenho que criou. "
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Meditações sobre um cavalinho de pau E.H. Gombrich
domingo, 20 de dezembro de 2009
Por ele ter existido, nós e todas as crianças temos coisas como isso:
sábado, 19 de dezembro de 2009
"BRINQUEDOS", BY ROLAND BARTHES
“ O adulto francês considera a criança como um outro eu; nada o prova melhor do que o brinquedo francês. Os brinquedos vulgares são assim, essencialmente, um microcosmo adulto; são reproduções em miniatura de objetos humanos, como se, para o público, a criança fosse apenas um homem pequeno, um homúnculo a quem só se pode dar objetos proporcionais ao seu tamanho.
As formas inventadas são muito raras; apenas algumas construções, baseadas na habilidade manual, propõem formas dinâmicas. Quanto ao restante, o brinquedo francês significa sempre alguma coisa, e esse alguma coisa é sempre inteiramente socializado, constituído pelos mitos ou pelas técnicas da vida moderna adulta: o Exército, a Rádio, o Correio, a Medicina (estojo miniatura de instrumentos médicos, sala de operação para bonecas), a Escola, o Penteado Artístico (secadores, bobes), a Aviação (pára-quedistas), os Transportes (trens, citroens, lambretas, vespas, postos de gasolina), a Ciência (brinquedos marcianos).
O fato de os brinquedos franceses prefigurarem literalmente o universo das funções adultas só pode evidentemente preparar a criança a aceitá-las todas, construindo para ela, antes mesmo que possa refletir , o álibi de uma natureza que, desde que o mundo é mundo, criou soldados, empregados do Correio, e vespas. O brinquedo fornece-nos assim o catálogo de tudo aquilo que não espanta o adulto: a guerra, a burocracia, a fealdade, os macianos, etc. Alias, na realidade, não é tanto a imitação que constituí o signo da abdicação, mas sim a literalidade dessa imitação: o brinquedo francês é, em suma, uma cabeça mirrada de índios Jivaro – onde se reencontram numa cabeça com proporções de uma maçã, as rugas e os cabelos adulto. Existem, por exemplo, bonecas que urinam : possuem um esôfago, e se lhes dá mamadeira, molham as fraldas; sem dúvida, brevemente, o leite transformar-se -á em água, em seus ventres. Pode-se, desta forma, preparar a menininha para a causalidade doméstica, “ condicioná-la” para a sua futura função de mãe. Simplesmente, perante este universo de objetos fiéis e complicados, a criança só pode assumir o papel de proprietário, do utente, e nunca, o do criador; ela não inventa o mundo, utiliza-o : os adultos preparam-lhe gestos sem aventura,sem espanto, e sem alegria. Transformam-na num pequeno proprietário aburguesado que nem sequer tem de inventar os mecanismos de causalidade adulta, pois já lhes são fornecidos prontos: ela só tem de utilizá-los, nunca há nenhum caminho a percorrer. Qualquer jogo de construção, se não for demasiado sofisticado, implica um aprendizado de um mundo bem diferente: com ele a criança não cria nunca objetos significativos; pouco lhes importa se eles têm um nome adulto: o que ele exerce não é uma utilização, é uma demiurgia: cria formas que andam, que rodam, cria uma vida e não uma propriedade; os objetos conduzem-se a si próprios, já não são uma matéria inerte e complicada na concha da mão. Mas trata-se de um caso raro: o brinquedo francês,de um modo geral, é um brinquedo de imitação, pretende formar crianças-utentes e não crianças criadoras.
O aburguesamento do brinquedo não se reconhece só pelas suas formas,sempre funcionais, mas também pela sua substância. Os brinquedos vulgares são feitos de uma matéria ingrata, produtos de uma química, e não de uma natureza. Atualmente muitos são moldados em massas complicadas: a matéria plástica tem assim uma aparência simultaneamente grosseira e higiênica, ela mata o prazer, a suavidade, a humanidade do tato. Um signo espantoso é o desaparecimento progressivo da madeira, matéria um tanto ideal pela sua firmeza e brandura, pelo calor do seu contato; a madeira elimina, qualquer que seja a forma que sustente, o golpe de ângulos demasiado vivos, e o frio químico do metal: quando a criança manipula, ou bate com ela onde quer que seja a madeira não vibra e não range, produz um som simultaneamente surdo e nítido; é uma substância familiar e poética que deixa a criança permanecer numa continuidade de tato com a árvore a mesa, o soalho. A madeira não magoa, não se estraga também; não se parte,gasta-se, pode durar muito tempo, viver com a criança,modificar pouco a pouco as relações entre o objeto e a mão ; se morre, é diminuindo,e não inchando com esses brinquedos mecânicos que desaparecem sob a hérnia de uma mola quebrada. A madeira faz objetos essenciais, objetos de sempre. Ora,já praticamente não existem brinquedos de madeira, esses ‘redis dos Voges’ [1],só possível, é certo, numa época de artesanato. O brinquedo é doravante químico, de substância e de cor; a própria matéria- prima de que é construído leva a uma cenestesia da utilização e não do prazer. Estes brinquedos morrem, aliás, rapidamente,e , uma vez mortos, não têm para a criança nenhuma vida póstuma.”
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
'Tempo Rei' e Teoria da História
Eu acho que a gente estuda História (especialmente a Teoria da História) para levantar questionamentos assim : "Tempo Rei, Oh Tempo Rei!Transformai as velhas formas do viver ensinai-me Oh Pai! O que eu, ainda não sei"
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
SOBRE O ELOMAR FIGUEIRA MELLO E VER TUDO COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ
Tentemos algumas definições pessoais rasas para esses conceitos:
*A idéia de 'infância' pode ser facilmente relacionada à 'duração' - que seria a união das camadas de tempo - passado, presente e futuro- em um só momento...Isso está teorizado em Bergson e seu conceito de ‘Durée’ , e também está em Benjamin –sem tanta conceituação- que a explicou como sendo um relâmpago em uma noite escura que, por alguns segundos, ilumina tudo: o que veio o antes, o que está acontecendo agora e também o que virá depois... eis uma boa alegoria sobre a condensação das camadas temporais!
*A 'epifania' é um comportamento usual de crianças, pois seria o momento do contato com o divino, o superior que, em literatura, aparece sempre que se experimenta uma surpresa que funciona como alguma espécie de suplência...isso está em Rosa o tempo todo: a manifestação de algo divino é sempre uma suplência em relação ao mundo histórico, e essa mediação costuma ocorrer pelo uso de formas da cultura popular.Isso está em Bosi! Mas para a expressão da linguagem das crianças, podemos identificá-lo no uso recorrente da ‘palavra mágica’ , que é quando elas começam a perceber que falando sobre seus desejos, eles acontecem (de ter a mãe perto,de comer, de brincar...), como se fosse uma “encantação mágica”, como teorizou Todorov. Assim, para as crianças, as relações entre o vivido no tempo e o percebido por elas ultrapassam a simples ficcionalização da qual falou Costa Lima (e eu adoro)...
Na minha dissertação sobre Tutaméia, eu chamei o tempo problematizado dos textos de Rosa de "não-história": um momento do tempo onde o próprio tempo fica em suspenso. Tem muito pano pra manga nisso aqui... é um doutorado! (rs)
Certo, e o que isso tema ver com o Elomar?
Como eu jpa tinha escrito aqui, quando eu tinha treze anos (uma criança!), ouvi pela primeira vez a "cantiga de arrumação" e fiquei morrendo de medo daquela música! Era estranha, assustadora, rude...e eu queria ouvi-la mesmo assim, muitas vezes, ouvir a "música do feijão" - que era a única palavra que eu entendia na letra... Vamos ouvi-la novamente:
Hoje em dia, eu sempre estou dizendo e pensando que gostaria muito de ouvir essa música “como eu a ouvia das primeiras vezes”: com todo aquele ar de estranhamento, porque é ouvindo Elomar agora - quando eu conheço bem a canção e até consigo cantar-, sinto vontade de ouvi-la "como se fosse a primeira vez", que era como eu a ouvi quando criança.
Será que é essa a busca do adulto que se volta ao olhar infantil? Reencontrar essa sensação? Poxa, isso é deveras interessante, não acham?
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Castelos de Vento
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
ONDE ESTÁ ESTE ALGUÉM?
"Se alguém pudesse ser um siboney
Boiando à flor do sol
Se alguém, seu arquipélago, seu rei
Seu golfo e seu farol
Captasse a cor das cores da razão do sal da vida
Talvez chegasse a ler o que este amor tem como lei"
Eu sei onde ele não está: na academia, em baladas, em festas familiares, em shows e rock, em piadas...
Mas ele pode estar no SESC, na USP, no Reveillon da Paulista,nos shows do Tom Zé...
no neu cotidiano, onde existem muitos interditos ... vejam este vídeo :
domingo, 13 de dezembro de 2009
sábado, 5 de dezembro de 2009
LER O LIVRO DO MUNDO = DECODIFICAR LINGUAGENS
Caetano Veloso, nas suas palavras, lê processos de História do Brasil o tempo todo: somos um país mulato (cheio de “musas híbridas”, “pretas chiques”, “jaboticabas brancas”...), preso a uma mentalidade colonial (em pleno século XXI, somos apenas mulatos "natos no sentido lato mulato democrático do litoral: Sugar Cane Fields Forever) e embora estivermos cientes disso, ele alerta claramente:” E a crítica que não toque na poesia". Esse é Caetano pensador poeta. Isso é poesia.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
"Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo"
Mas que milagre duradouro, não?
Só sei que estou aqui aguradando alguma coisa acontecer, para que eu possa vizualizar o tal milagre.
Tá osso...
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Sobre a eleição do reitor na USP: EU NÃO ENGOLI!
Li um comentário crítico, seguido por uma entrevista com o candidato vencedor pelos votos das congregações, mas ARBITRARIAMENTE PRETERIDO PELO GOVERNADOR JOSÉ SERRA, apesar de indicar a referência aqui, colo-o completo- já que você já está aqui mesmo ... só devo salientar que, ao contrário do que pensa Oliva - o candidato preterido,EU PENSO,SIM QUE A DECISÃO DO SERRA TOCOU PROFUNDAMENTE A AUTONOMIA DA UNIVERSADE DE SÃO PAULO (AFINAL,EMBORA A ELEÇÃO NÃO TENHA MESMO, PROPRIAMENTE, DESREPEITADO O ESTADO DE DIREITO, MAS SE CONSIDERARMOS O CONTEXTO ATUAL DA UNIVERSIDADE, OBSERVAMOS QUE A AUTONOMIA VEM SOFRENDO CONSTANTE ENFRAQUECIMENTO, O QUE FOI MARCADO POR ATOS EXTREMOS COMO A ENTRADA DA PM NO CAMPUS E AGORA POR ESSA ELEIÇÃO AUTORITÁRIA, COMO ATÉ JÁ ESTAVAMOS ...)
" Terça, 17 de novembro de 2009, 08h57
Oliva: Ingerência política é incompatível com a USP
Eliano Jorge
Embora tenha vencido a eleição para reitor da Universidade de São Paulo (USP), Oliva acabou preterido pelo governador paulista José Serra, do PSDB, a quem coube a escolha a partir da lista de três nomes apontados pelas urnas. Nomeado sexta-feira, 13, João Grandino Rodas alcançou apenas o segundo lugar nas várias etapas do escrutínio.
"É evidente que eu tinha toda a expectativa de que ele me indicaria porque tinha obtido o apoio explícito da comunidade universitária, numa campanha em que pautei exclusivamente - e talvez esta tenha sido minha falha - sobre a construção de um grande projeto e sobre o convencimento da comunidade universitária. Eu não tinha um viés político, grandes nomes secundando com carta de apoio, nenhuma manifestação política, caciques, ex-reitores", comentou Oliva, em conversa com Terra Magazine.
Ele se queixou da falta de análises mais profundas dos projetos por parte de Serra. A opção foi respeitada, mas não foi engolida a justificativa pela comparação de experiência e carreira dos candidatos: "Acho que ele não olhou direito os currículos. Não me pareceu convincente".
Tendo sempre Rodas na sua escolta, Oliva venceu as três votações do segundo turno, com diferença de 46, 56 e depois 57 votos entre eles. Nesta etapa, houve 85% de comparecimento às urnas, correspondentes a 274 membros do Conselho Universitário e dos Conselhos Centrais - de Graduação, Pós-Graduação, Pesquisa e Cultura e Extensão Universitária.
"O resultado no colegiado menor traçou a mesma vontade da comunidade expandida", concluiu a reitora Suely Vilela, em declaração reproduzida no site oficial da USP.
"Se, de fato, a decisão (do governador) teve uma origem política, é um pouco ruim, né? Porque a universidade deve ser regida por princípios acadêmicos, e não necessariamente ingerências políticas de qualquer sorte, me parecem incompatíveis com o princípio universitário", observou Oliva. "Se você tenta contaminar eleições acadêmicas e técnicas com preferências políticas, isso é terrível", acrescentou.
Atual diretor da Faculdade de Direito da USP, João Grandino Rodas comandou o Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico (Cade) entre 2000 e 2004, nomeado pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula. A partir do dia 26, será o 25º reitor de uma das mais conceituadas universidades do País.
Confira a entrevista com Glaucius Oliva.
Terra Magazine - Como o senhor começa a semana depois do processo eleitoral? Já não está mais ligando para isso?Glaucius Oliva - O fato é que terminou, acabou o processo, nós temos um novo reitor. Portanto, eu tenho que retomar minhas atividades normais, de pesquisa, ensino, as atividades administrativas como diretor do Insituto de Física. E continuar trabalhando pela Universidade de São Paulo.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
SOBRE O NOVO REITOR DA USP
VISÕES DE SEXO POR HILDA HILST; MENINA DE 18 ANOS E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, DESENHO DE MILTON DACOSTA
Colada à tua boca a minha desordem
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer." HILDA HILST
Âmanga
Vou te dar meu âmago
Como fosse manga rosa
Para você provar minha carne
como fosse a polpa
para você beber meu gozo
como fosse o sumo
para você morder meu osso
como fosse o caroço MENINA DE 18 ANOS
Sugar e ser sugado pelo amor
Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua." DRUMMOND
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Desemprego e racismo
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, DIA DOS BRASILEIROS!
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Encontrei minhas origens
Oliveira Silveira (*)
Encontrei minhas origens
Em velhos arquivos
Livros
Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas
Encontrei minhas origens
No leste
No mar em imundos tumbeiros
Encontrei
Em doces palavras
Cantos
Em furiosos tambores
Ritos
Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma
Em mim
Em minha gente escura
Em meus heróis altivos
Encontrei
Encontrei-as, enfim
Me encontrei.
(*) O professor, poeta e pesquisador gaúcho Oliveira Ferreira da Silveira foi o idealizador do Dia da Consciência Negra.
domingo, 15 de novembro de 2009
Filipe e Gustavo - Desaparecidos
As fotos deles:
Segregação da mulher: A nova velha história...
"Olá Tom Zé,
Aqui que escreve é uma fã de muito tempo, a última vez que te escrevi, foi sobre seu show no Teatro Municipal de São Paulo, durante a Virada Cultural... pois então, assisti sua participação no Raul Gil e achei fenomenal (como sempre), as idéias libertárias ainda são estranhas para as mulheres tão acostumadas a serem reprimidas, você sabe.
Uma vez você autografou meu CD Estudando o Pagode,e eu te disse que aquele disco deveria ser distribuído a todas as mulheres, porque nele as suas letras dizem coisas que eu sempre achei, mas nunca tinha tido coragem de falar (como o fato dos homens quererem sempre transar "uma boneca de pau", e muito mais...)
Mas acho, Tom Zé, que está claro o motivo pelo qual as mulheres, quase nunca, se mostrarem como mandam seus desejos: Ainda não existe lugar para que elas façam isso. Falo do exemplo da estudante da UNIBAN. Ao ouvir a notícia e ver as imagens pela Internet, coloquei seu disco para tocar, claro. Queria ler o que você pensa sobre isso, apesar de suspeitar que já sei mais ou menos, mas ao visitar seu blog agora, vi que estás viajando para Irará e tal, desejo ótima viagem, mas estarei aguardando suas palavras sobre a moça e também sobre aquela instituição medieval - a UNIBAN- que expulsou a mulher porque ela se mostrou mulher e os homens não se seguraram (como se fossem estupradores, quando dizem que a mulher que "provocou".. absurdos!)
É, Tom Zé, apesar de ganharmos algumas lutas importantes (como quando você falou da liberdade sexual da mulher no programa Raul Gil!), esta guerra ainda longe de terminar.. contamos sempre com você e com a Neusa!
Grande abraço a vocês
Ca"
Sarau na Casa das Rosas, com Claudio Willer e a planta dos pés...
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
GUIMARÃES ROSA POR GUIMARÃES ROSA
Trancrevo aqui um trecho que achei interessantíssimo :
"Quase todas as expressões empregadas no Primeiras Estórias não são tiradas da linguagem comum, mas sim criadas por mim, de toutes pièces -de modo que,também para oleitor brasileiro elas soam novas,estranhas, completamente inéditas. Por isso mesmo, e se tratando de estórias muito curtas, essas tournures nãopoderiam ser omitidas (nem vertidas para fórmulas usuais do outro idioma) sem prejuízo,tudopodendo resultar em mole, frouxo, incolor, sem valer a pena. (...) "
"Parabéns pela 9a netinha: que todas as gentis Fadas rodeiemo berço da pequena Sophie! A vida tem horas bonitas,e cheias de compensações."
Rio de Janeiro, 1964
domingo, 1 de novembro de 2009
IGNORÂNCIA E MACHISMO
Se não vira, procurem no Youtube!
Eu soube e achei muito triste e preocupante!
O nome daquilo não é outro a não ser MACHISMO extremo!
Aquilo foi um triste exemplo de como, ainda hoje,os homens pode se sentirem poderosos e com direitos sobre a mulher. Afinal, caso algum daqueles moços encontrasse a menina numa festa, com certeza não a agrediria...
Esses homens das cavernas estão por fora!
DESCRIÇÃO GEOGRÁFICA DO BRASIL
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
SEMÂNTICA E SEMIÓTICA: QUE LOUCURA!
SEMIÓTICA FÁCIL
4. SEMÂNTICAS
A semântica que conhecemos é simplesmente aquela parte da gramática que abrange os significados das palavras. Em semiótica, semântica é aquela dimensão do entendimento que nos dá conta dos significados de todo e qualquer signo ou de toda e qualquer composição sígnica ou proposição. A semântica, em semiótica, diz respeito a todo tipo de signo, e não somente das palavras escritas ou faladas e dá conta da compreensão também de imagens e sons e toda e qualquer informação que nos chega pelos sentidos e pela elaboração mental.
Quando queremos saber o significado usual, costumeiro, de uma palavra, recorremos, sem hesitar, ao dicionário. Entretanto, nem sempre o dicionário informa sobre os sentidos derivados em que as palavras são empregadas, como nas metáforas ou quando estamos diante de neologismos e gírias, por exemplo. Por isso os semiólogos, como Umberto Eco, ou lingüistas, como o dinamarquês Hjelmslev, definem a semântica como um vasto universo que compreende desde os significados restritos e usuais até aos significados possíveis, em função de relações associativas..."
BIBLIOGRAFIA
ECO, Umberto. Semiótica e filosofia da linguagem. Lisboa: Instituto Piaget, 1984.
HJELMSLEV, Louis Trolle. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Abril Cultural, 1978 - p.195/197.
SAUSURRE, Ferdinand. As palavras sob as palavras. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Meninices de Rosa...
Hoje eu tenho contato com algumas daquelas crianças - hoje já adolescentes - e no último domingo,quando eu fiz aniversário, recebi votos de parabéns de uma delas,com cheiro de lembranças :"Manu : Parabéns Camila, um beijão do Guilherme - lherme!! " rs
Em nossas atividades de dividir as palavras em pedacinhos e tentar transformá-los em outros significados, esta menina chamava o Guimarães Rosa de "Guilherme-lherme", então eu a chamava assim ... eu nunca vou me esquecer, e quando ela se lembrou disso, depois de anos, foi um grande presente que eu ganhei: PELO MENOS UMA ALUNA NÃO SE ESQUECEU DAS NOSSAS BRINCADEIRAS COM O ROSA!
Por isso que eu não posso desistir do doutorado, não posso mesmo...
Que o Rosa esteja conosco, sempre!
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
30 ANOS? SOLIDÃO, QUE POEIRA LEVE...
E QUANDO DA DESCOBERTA DAS MINAS?
sábado, 24 de outubro de 2009
"... ela mesma não podia ser um sonho para nunca envelhecer..."
sábado, 17 de outubro de 2009
"Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral"
terça-feira, 13 de outubro de 2009
MALABARISMOS
domingo, 11 de outubro de 2009
TRAUMAS DE INFÂNCIA : JESUS DO SBT
Pois agora eu pude entrar em contato com vídeo que, durante a minha infância me aterrorizava!
Eu morria de medo do tom ameaçador da mensagem! O pior era o final
"VOCÊ TEM CERTEZA DE QUE JÁ FEZ TUDO O QUE PODIA PELO SEMELHANTE? PENSE BEM, POIS UM DIA VAMOS NOS ENCONTRAR..." (rs)
O problema era o seguinte: Eu não fazia idéia de quem era esse tal de meu semelhante, então com certeza eu não tinha feito nada por ele e a qualquer hora ESSE JESUS IA VIR ME BUSCAR! (RS)
Isso me dava muito medo! Que monstros, bruxas, duendes... eu tinha medo mesmo do JESUS DO SBT!
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
SOBRE OBAMA E O NOBEL DA PAZ
Investimento em esperança é acreditar na construçãode algum um tipo de HERANÇA IMATERIAL e apostar em Obama é tentar pintar a história com outras cores, não é?
Vejamos...
NOTÍCIAS DA USP : ELEIÇÕES E VESTIBULAR
terça-feira, 6 de outubro de 2009
MST E OS LARANJAIS : ARBITRARIEDADE SE PAGA COM ARBITRARIEDADE?
É que todo mundo sabe que a reforma agrária é algo importantíssimo de se realizar no Brasil, mas sempre me pergunto se o caminho que o MST está percorrendo vai garantir esse objetivo, será?
Se alguém for procurar quais os argumentos do MST para ter destruído os pés de laranja vai, pelo menos, parar para pensar um pouco... A fazenda pertence a Cutrale,que é uma das maiores produtoras de suco de laranja do mundo, a cada três copos de suco tomado no mundo, um foi produzido pela Cultrale, que vêm adiquirindo empresas estrangeiras, e é frequentemente acusada de cartel por outros produtores de laranja. O MST levantou dados de que fazendas ocupadas pelo movimento, que fazem parte do grupo Cutrale, são áreas ilegalmente ocupadas pela empresa, uma vez que a fazenda está localizada em uma região onde 10 mil hectares de terras pertencem à União, então a empresa está sediada em terras do governo federal, o INCRA já havia se manifestado denunciando que à ocupação de tais terras pelo latifúndio dos Cutrale é ilegal. (isso quem esclareceu foi uma pessoa ligada ao MST,que não foi ouvida pela mídia, claro). Então,quem invadiu primeiro a terra da União foi a Cultrale, o MST só veio fazer isso depois? Parece que sim e isso está de pleno acordo com a ideologia defendida pelo MST de lutar contra o predomínio de latifúndios,entretanto, sair destruindo laranjais- sem ter recomeçado imediatamente a plantar o feijão prometido para brecar a monocultura- e ficar pichando muros são manisfestações infantis que são usadas nas greves da USP e que só podem levar a indignação da sociedade (que como sabemos, morre de medo de entrar em contato com algumas coisas como a questão fundiária e com esse tipo de atitude do MST, acabam achando alguma legitimidade para esse medo... péssimo!)
Por outro lado, claro que eu fico sem palavras com as opiniões apresentadas pela mídia,como sempre...O Alexandre Garcia, nesta manhã, entoou um verdadeiro discurso indignado pela existência e permanência de ORGANIZAÇÕES AUTÔNOMAS QUE SE APRESENTAM COMO MOVIMENTOS SOCIAIS, COMO O MST...E o direito da livre manifestação? Péssimo isso de pensar e agir com arbitrariedade.
Assim,sou eu é quem fica com medo, medo de ignorância paga com mais ignorância e arbitrariedade paga com mas arbitrariedade... nessa luta por saber quem é o mais hostil, e as questões fundiárias e trabalhistas acabam ficando à margem e são usadas por interesses politiqueiros de todos os lados.
Assim, todos perdem e, como sabemos,os mais fracos perdem mais.. mas quem são os mais fracos, mesmo?
Tô confusa, eu sei,mas eu acho que é uma questão para ser muito discutida, muito mesmo, mas como a luta para saber quem grita mais, vamos apenas ouvir ruídos demais!
domingo, 4 de outubro de 2009
"Y una hermana muy hermosa que se llama libertad..."
Não é com nenhuma alegria que fico sabendo que neste dia 04 de outubro nos deixou aqui sozinhos nesse mundo quase todo errado uma das pessoas que mais lutou, louvou e se preocupou com a fraternidade no mundo: Morreu Mercedes Sosa.
sábado, 3 de outubro de 2009
UFANISMO UTÓPICO
Mas a idéia também é minha: Esse entusiasmo adolescente não está mais colando em mim...
Como no dia que seria divulgado o resultado da disputa do local a ser realizado em 2016 foi decretado PONTO FACULTATIVO!... Sei lá, esse tipo de envento não dá certo sem muito empenho e muita grana (que grana?)
Eu não fiquei tão "feliz"... mas é apenas a minha opnião...
O que vocês acham?
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Certidão de batismo da literatura do lugar que viria a ser o Brasil
“... Entre todos os entes que aqui vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa e a quem deram um pano com que se cobrisse. Puseram-lho ao redor de si. Porém, ao assentar, não fazia gande memória de o estender bem, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal,que a de Adão não seria maior, quanto a vergonha..
Ora, Vossa Alteza, se quem em tal inocência vive se converterá ou não, ensinando-lhes o que pertence à sua salvação. (...)
Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar,nalgumas partes,grandes barreiras,delas vermelhas.delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa.
Pelo ‘sartaam’ nos pareceu, vista do mar, muito grande porque a estender olhos,não podíamos ver senão terra com arvoredos,que nos parecia muito longa.
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata,nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Doiro e Minho, porque neste tempo agora os achávamos como os de lá.
Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é gaciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se á nela tudo, po bem das águas que tem.
Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar. (...)
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
De Porto Seguro, da vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha ”
Se eu seria personagem
“Note-se e medite-se. Para mim mesmo, sou anônimo; o mais fundo de
meus pensamentos não entende minhas palavras; só sabemos de nós mesmos com muita
confusão.” (Guimarães Rosa. Se eu seria personagem. In Tutaméia.P.199)Para um texto de Antonio Candido, já mais antigo que eu, a personagem de romance (que estou entendendo aqui como personagem de ficção escrita no geral) :
“a personagem é um ser fictício, -expressão que soa como paradoxo.Mas por que eu trago estas colocações tão teóricas e literárias neste texto? Existe uma motivação real.
De fato, como pode uma ficção ser? Como pode existir o que não existe? No
entanto, a criação literária repousa sobre este paradoxo, e o problema da
verossimilhança no romance depende desta possibilidade de um ser fictício,
isto é, algo que, sendo uma criação da fantasia, comunica a impressão da
mais lidima verdade existencial. Podemos dizer, portanto, que o romance se
baseia,antes de mais nada, num certo tipo de relação entre o ser vivo e o ser
fictício, manifestada através da personagem, que é a concretização
deste.” (Antonio Candido. A personagem do romance. In A
personagem de ficção. P.55)
Faz cerca de duas semanas eu acompanhei pela televisão a história de um homem que se inventou, como se ele mesmo fosse uma personagem de ficção. Falo da História de Julio César Santos, que foi contada em uma reportagem do Globo repórter.
Julio Cesar, nome que foi a única informação que ele recebeu sobre sua origem desde quando foi entregue a um abrigo no Rio de Janeiro em 1970, com menos de 2 anos de idade e sobre o qual não se sabia quase nada além deste primeiro nome, nem o sobrenome, nem a data de nascimento, nem a identificação dos pais...isso ele, com mais de 40 anos, ele foi buscar, com a ajuda de uma assistente social, pois ele pensava (e com razão) que ele tinha direito a ter na certidão de nascimento um sobrenome e o nome da mãe.... aí foi dado a ele o direito de inventar sua realidade. Escolheu o sobrenome Santos porque ele assistia muitos filmes evangélicos e a idéia de alguma coisa “santa” rondava sempre sua cabeça, e o que eu achei mais importante: para a mãe ele escolheu um nome extraído do seu nome, se ele era Julio César, a mãe poderia ser Juliana...
Começou assim a criação da personagem Julio César Santos, bombeiro,que adotou pais depois de adulto ...sim, ele não foi adotado por ninguém quando criança, e nos relatórios de sua internação nos abrigos sempre só constou que “não se sabia de ninguém que o tivesse vindo procurar” , mas depois que saiu do abrigo ele mesmo “adotou” um casal que apresentou a esposa e aos filhos como sendo seus pais...sim, ele nunca dizia a ninguém sobre o que realmente tinha lhe acontecido, que tinha sido entregue em um abrigo, ainda bebê e lá permaneceu, pois tinha medo de ser rejeitado pelas pessoas. Esta verdade lhe doia muito. Eu entendo muito bem do que ele está falando e o tamanho da dor que ele sente.
Eu não conseguia escrever sobre isso (e ainda é difícil), porque embora eu saiba que minha história não é como a dele, eu tenho pais e família que me acolheram desde sempre e ainda me acolhem (os meus me adotaram, não precisei adotá-los depois de adulta), o que é ótimo para mim, claro, e significa uma ferida a menos, mas eu também sei que a ferida mais aberta não está na adoção – que é um história bela e de acolhimento-, mas sim no que aconteceu antes dela... quando a gente sabe que a primeira coisa que lhe aconteceu quando surgimos no mundo foi que fomos abandonados, como ter uma grande auto estima? Como qualquer abandono, tolo que seja, pode não doer mortalmente em você?
Não pode.
Julio César precisou contar a sua história para a Globo, e o fez na esperança de que a sua mãe (que pode não se chamar Juliana, mas é a “única pessoa que ele gostara que ouvisse seu relato”),porque pensa que isso fizesse com que doesse menos. Será?
Comigo a história é ligeiramente diferente. Me dói muito aquilo que a minha mãe (a mulher que me adotou) contou a história de como eu apareci aqui em casa, uma linda história, da qual eu só posso me orgulhar, mas quando me narrou ela ainda comentou (um pouco sem ter noção de quanto doeria) “achei estranho que a sua mãe (ela referia-se a mulher que me pariu) nunca ter te procurado,nem por curiosidade...
Claro, você pode achar isso um detalhe tolo, mas digo-lhe que não é. No fundo, no fundo, eis a base desse meu (inexplicável a primeira vista) sentimento de não pertencimento a esse mundo onde vivo...
Não vou procurar a mulher que me pariu há 30 anos atrás, nem procurar a Globo numa atitude desesperada de resgatá-la, porque ela já significa quase nada naquilo que eu vim a me tornar, mas não sei se é intencional ou não, não posso esquecer que eu escolhi -e lutei muito para sustentar essa escolha- estudar as crianças abandonadas da literatura de Guimarães Rosa com0o tema do meu doutorado e como anunciei claramente na defesa do meu mestrado em março, aquela dissertação só existiu porque Guimarães Rosa escreveu “Lá, nas campinas” , que é a história de Drijimiro, que é mais ou menos como a de Julio César Santos, alguém que sabia quase nada da sua origem ... estudar essas questões e tocar profundamente em feridas são formas de tentar digerir o que não é digerível.
Boa sorte para Julio César, para mim, e para todos que começaram a vida a partir de um nada, porque é possível, sim, que este “quase nada” se transforme em tudo, como na palavra Tutaméia, que quer dizer “quase nada”, mas também quer dizer “tudo o que é meu”.