quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Kaleidosfone

“Buscar, na história, momentos em que a oralidade foi ampla em significados parece ser, das tarefas do historiador, uma das mais difíceis de realizar. Se esta for alcançada, a segunda etapa, aquela que envolve compreensão e interpretação, também não se mostrará das mais fáceis. Esses desafios se fazem ainda mais evidentes se levarmos em consideração a especificidades que tornam possível os intercâmbios orais : trata-se, grosso modo, de uma experiência sonoro-auditiva que se desenvolve sempre de forma única, espontânea e imersa em tradições. A partir do momento em que esta experiência é transformada em código escrito, o princípio intrínseco da oralidade é destruído. O que nos resta, então, é ou a reconstituição memorialística de uma experiência oral ou um discurso interpretativo sobre esta reconstituição. Nas muitas situações de pesquisa em que a única fonte disponível  ao historiador é e origem textual, torna-se oportuno lembrar uma colocação feita por Maria Odila Silva Dias (Prefácio. FERNANDES, Paula Porta S. Guia dos documentos históricos da cidade de São Paulo)  : ‘as palavras tem sua historicidade; através do estudo e da contextualização histórica de suas sucessivas camadas de sentido pode-se dissecar a semântica do dominador e chegar ao sentido das palavras dos oprimidos, contextualizadas em suas práticas cotidianas’”     
Aprobato Filho, Nelson. Kaleidosfone. São Paulo: Cia das Letras, 2008, p. 344-5

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