segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Qual o lugar de Guimarães Rosa?

Augusto de Campos, em 1959, já apontou uma verdade com a qual eu concordo plenamente: Guimarães Rosa deu prosseguimento a uma escola de escritores que se debruçaram sobre experimentações lingüíticas na Literatura Brasileira e que se iniciou com Mario de Andrade e seu Macunaíma, seguiu-se com Oswald de Andrade e seus Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar, até chegarmos no Grande Sertão: Veredas, que se colocou como um marco, já que:

"Ninguém poderá construir qualquer coisa em prosa brasileira, pretetendendo
ignorar Grande Sertão: Veredas. E quando se considera a situação geral
da ficção nacional, onde de um lado pontificam os romances ingenuamente
realistas e carticato-regionais, de outro lado o grupo pretensioso dos
intimistas alienados, a figura de Guimarães Rosa avulta com desmesura grandeza,
isolando-se, muito acima dos demais.
Ao invés do realismo simplista e
simplório, ao invés do subjetivismo delirante e falsamente revolucionário,
dá-nos Guimarães Rosa algo positivo e palp[avel. 'Che si può mangiare', como
diria Ezra Pound. Uma experiência de convívio com as palavras, as coisas e os
seres que reduz a maior parte da prosa de ficção ao estado de subliteratura." (Augusto de Campos.Um lance de dês do Grande Sertão)

Qual é a do Guimarães Rosa ? (ótima pergunta)....
Sempre achei que A "escola de Guimarães Rosa" era a mesma de Rabelais- essa coisa de colher na liguagem popular oral aspectos que nos levaiam ao nascimento das palavras, em um procedimento arqueológico ...
Continuo achando isso, claro, mas outras influências somaram-se a essa...
Como todo mundo já deve ter ouvido falar, Rosa também tem muito de James Joyce (algo que eu, como historiadora, sempre repito), e devo lembrar que Joyce também deve ter bebido na fonte de Rabelais... mas, Guimarães Rosa parece ligado a outras fontes também!
As técnicas rosianas de recriação e utilização do léxico me parecem muito próximas às apresentadas pela personagem Humpty Dumpty, de Lewis Carroll, que explica sua idéia assim:

"Quando eu utilizo uma palavra, ela significa exatamente o que
quero que signifique, nem mais, nem menos"
...

Essas palavras de Carroll me lembram demais o que Wittgeinstein que teorizou :

"o significado das palavras são explicados por seus usos"

Eis uma atitude cara linguagem rosiana e também a contrução e compreensão da linguagem infantil. Faz sentido?
Preciso pensar e organizar tudo isso, mas como vêem, minha cabeça está funcionando à mil por hora! UAU!

2 comentários:

Marcello disse...

Guimarães Rosa me arrebata (talvez por minha origem mineira... ou humana). Careço de elementos teóricos para comentá-lo com a mesma propriedade sua, mas sei que admiro muito sua obra - Sagarana é fascinante, Campos Gerais é emocionante, Grande Sertão é desafiante, e por aí vai. Qualquer modo, acho que padeço de certa 'inveja santa' de quem flui tão bem da sua obra. Belo post, Camila! Um abraço.

Camila Rodrigues disse...

Oi Marcello, Fico feliz que tenha voltado a me visitar...
Guimarães Rosa é o autor da minha vida e eu não estou bem certa de que sei mais ou o compreendo melhor porque o estudo desde o ano 2000... ler Guimarães Rosa é estar atento para o mundo do lirismo, o tempo todo!
Aliás, não se iluda: Ninguém flui bem pela obra rosiana, acho que nem mesmo ele póprio rsrs
A graça (uma delas) é mesmo o estranhamento :)
Abraço
CA