sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Olhar , por Julio Cortázar

 "os olhos perdidos no fastio daquele interregno em que todo mundo parece consultar uma área da visão que não é circundante, salvo as crianças que olham fixo e em cheio para as coisas até o dia em que lhes ensinam a situar-se também nos interstícios, a olhar sem ver com aquela ignorância cortês de toda presença vizinha, de todo contato sensível, cada qual instalado em sua bolha, alinhado, entre parênteses, cuidando em manter o mínimo de espaço entre joelhos e cotovelos alheios, refugiando-se no France Soir ou em livros de bolso, embora quase sempre como Ana, uns olhos situando-se no oco entre o verdadeiramente olhável, naquela distância neutra e estúpida que ia de minha cara à do homem concentrado no Figaro." Julio Cortázar - 'Manuscrito achado num bolso'  p. 40-1

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