sábado, 6 de dezembro de 2014

A viagem no tempo de Lélio, que viu a molha na velhinha ...

Corpo de Bale e de temporalidades ... aqui a viagem do tempo de Lélio, coisa muito linda:
"(...) A chã, por onde ia, descambava; Lélio pensou 'Daqui vou dar numa vereda..."
Andou embebendo tempo.
E vai, a solto, sem espera, seu coração se resumiu: vestida de claro, ali perto, de costas para ele, uma moça se encurvava, por pegar uma coisa no chão. Uma mocinha. Ela também escutara seus passos, porque se reaprumou, a meio voltando a cara, com a mão concertava o PANO VERDE NA CABEÇA, E - só a voz - baixinho ao natural, como se estivesso conversando sozinha, num simples de delicadeza  : - '... goiabeira, lenha bôa: queima mesmo verde, mal cortada da árvore...' - mas a voz diferente de mil, salteando co uma força de sossego. Era um estado - sem surpresa, sem repente - durou como um rio vai passando. (...)  Lélio não se sentia, achou que estava ouvindo ainda um segredo, parece que ela perguntava, naquele tom requieto, que lembrava um mimo, um nino, ou um muito antigo continuar, ou o a-pio de pomba-rola em beira de ninho pronto feito: - 'Você é arte-mágico?...Viu riso, brilho, uns olhos - que tivessem de chorar, de alegria,só era que podiam... -; e mais ele mesmo nunca ia saber, nem recordar ao vivo exato aquele vazio de momento .(...) E era nela que seus olhos estavam.
Mas ela era uma velhinha! Uma velha ... Uma senhora." A Estória de Lélio e Lina – João Guimarães Rosa .  

Nenhum comentário: