segunda-feira, 14 de maio de 2018

Teoria não é manual de instruções

Imagem de uma garotinha aprendendo a andar, representando Djaiaí

Sou e quero ser uma historiadora da teoria. Nós pesquisadores deveríamos saber todo o tempo, mas tantas vezes nos esquecemos, de que teoria é  muito importante sim, ainda mais nesse contexto fragmentado e sutil que vivemos, é preciso ter um chão  (ainda que de barro ) para nos sustentar. O mais importante, a meu ver, é o modo que vamos lidar com ela: depois de cerca de dez anos estudando o desbunde de invenção de Rosa pela Teoria da História, não consigo mais enxergá-la como método ou receita, mas sim como um convite  ao pensamento, à reflexão mais aprofundada que leva a uma constante recriação de tudo .  Dessa tendência não me desligo, ainda que ela me faça, novamente, a ser expulsa da História  porque não rezei sua missa direitinho (nem para frente, nem para trás)... Não posso deixar de ser quem me tornei depois de travessias profundas no sertão e na teoria para voltar a categorizar as fontes. Nos rituais tribais, depois de uma conquista, o indivíduo  costuma receber um novo nome, como que renascido. Também no conto Tresaventura de Rosa, que analisei na tese,  a protagonista é  uma menininha que, ainda aprendendo a andar, foge de casa em direção ao sonhado (no sentido de sonho como acesso ao inconsciente mesmo) arrozal. Para suas curtas perninhas o caminho é longuíssimo e ela percorre apenas uma pequena parte. No entanto, porque concluiu corajosamente a travessia como podia naquele momento, ao final recebe seu nome e o leitor conhece Djaiaí. Lembrando da reflexão de Heidegger que comecei com o Nicolau, depois de abrir uma picada na mata fechada - no caso não com uma faca, mas com anedotas infantis, lembrando que anedota é "contra Historia, escreveu o Rosa em 1967 e eu estudei no mestrado -, não volto atrás e talvez tenha mesmo que mudar de nome. Talvez adote um mais ligado aos meus ancestrais tribais ... Quem sabe...

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