sábado, 8 de dezembro de 2018

Oxum e Aparecida: semelhanças


Aqui no sudeste Oxum é sincretizada com Nossa Senhora Aparecida e sou devota das duas desde muito menina. Na última vez que estive numa roça, ia tomar um  banho de ervas, pois estava triste, desesperada e sozinha, olhei o alto do quarto e em cima da porta, lá estava uma imagem de Aparecida, sorri e pensei: até aqui? É mamãe Oxum, me acompanhando.
Hoje, 8 de dezembro, dia de Mamãe Oxum, copio aqui o texto "NOSSA SENHORA APARECIDA E OXUM. O QUE ELAS TÊM O QUE EM COMUM?", Por: Mônica Raouf El Bayeh, disponível neste link:

Você é filho de quem? Qual mãe é a sua? Quem te protege quando o tombo é tão feio que nem do chão você levanta? Esparramado no chão, gemendo, morto pena de si mesmo, a quem você pede colo?
Precisamos de mães. É fato. Porque engatinhamos nas artes da vida. E é muito duro se sentir completamente só nessa caminhada. Mas precisamos de mães que durem mais que as nossas. Perdoem e aceitem mais que as nossas. E, se possível, tenham influência com o gerente lá de cima. Porque tem horas que vou te contar...
Hoje é dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Ou seja, ela é quem dá uma força por aqui. Hoje também é o dia de Oxum. O que elas têm em comum? Tudo!
São mulheres. São negras como a maioria do nosso povo. São mães. Sensíveis se comovem com nosso sofrimento. Se compadecem de nossas dores. São generosas como os rios e as cachoeiras. Nos guiam para a fartura, a vida e a fartura da vida.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida foi achada num rio. Primeiro o corpo, depois a cabeça. Depois vieram os peixes que os pescadores precisavam. Tantos que o barco quase afundou.
Oxum é a rainha das águas doces dos rios e das cachoeiras. Oxum é a mãe que chora junto. É orixá dos sentimentos. Coincidentemente, também da generosidade, da capacidade de gerar frutos de várias formas.
É pelos sentimentos que frutificamos ou secamos. Quantas criaturas reclamonas, amargas e secas nós conhecemos? Puxe da memória! Faça sua lista. Quantos trambiqueiros que acham que só conseguem subir usando os outros de escada? Seres que não percebem que é o que brota deles que gera pobreza ou riqueza.
A pior das pobrezas é a do espírito. É não perceber que pode brotar, florir, repartir. É se perceber vazio e ali estagnar. Onde há estagnação, não há vida. Vida é rio, é cachoeira. Vida é soma de afluentes, mistura, tudo junto ganhando força e crescendo.
A capacidade de amar e ser amado. A riqueza de dividir e ver o outro crescer. A ousadia de, mesmo com medo, arriscar. Mergulhar, lançar a rede, insistir. Isso é a vida. E se não der certo, senta e chora. Depois tenta de novo. Isso é Oxum.
Nem sempre conseguimos de primeira. Essa é a mensagem de Nossa Senhora Aparecida. É preciso empenho. E, principalmente, fé. Porque sem fé, os pescadores já teriam desistido de pescar naquele lugar e ido embora.
Eles insistiram. Pediram e ficaram tentando. Ficaram pela fé. É preciso ter fé. Sempre. Mas é preciso mais. Vida exige atitude. Embarcar, Jogar a rede de um lado, jogar do outro. Sem trabalho nada é possível.
Oxum, a orixá chorona, nos ensina que a gente pode chorar. Por que não? Num mundo onde tudo parece tão árido, as lágrimas limpam, regam, hidratam. Oxum chora. Muitos dizem que ela já chega chorando. Por que? Não sei detalhes, perguntem a ela.
Mas me parece que a grande lição que essas mulheres negras e fortes querem nos passar é que, às vezes, a correnteza é forte demais e a gente não dá conta. E tem, sim, o direito de sentar na margem e deixar a alma transbordar pelos olhos. Só não tem o direito é de parar de tentar.
Salve Oxum! Salve Nossa Senhora Aparecida!

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