Capas dos dicionários de humor infantil de Pedro Bloch
É com imenso prazer que compartilho com todos a publicação do artigo sobre os dicionários de humor infantil de Pedro Bloch pela Revista de História da USP , que é o melhor texto que produzi durante minha pesquisa de pós doutorado. Trata-se de um material muito divertido, com o qual amei trabalhar. Para ler, acesse aqui.
Eu tinha visto o trailer de Rafiki (2018) [África do Sul/Quênia/França/Holanda/Alemanha/Noruega, 2018] no Cinesesc domingo passado
Quando soube que ele seria exibido no Circuito SPCine na Sala Paulo Emílio Salles Gomes (Centro Cultural São Paulo) este fim de semana, quis assistir a obra produzido no Quênia, que foi o primeiro filme queniano a ser exibido em Cannes, mesmo assim, segundo nos conta esta crítica, teve sua exibição proibida naquele país pela temática do homossexualismo. Lamentável.
O filme é muito agradável de assistir, como a maioria que se passa na África, o cenário é ao mesmo tempo parecido e diferente do Brasil, embora as pessoas do Quênia sejam, em geral, mais retintas do que são aqui. Muito bonitas as pessoas. Gostei também da trilha sonora, porque ao contrário do que geralmente acontece m vídeos da África, quando o som costuma ser americanizado, ali é diferente, um toque original africano.
Roteiro baseado num conto de Monica Arac de Nyeko, o filme conta a história de duas garotas quenianas, Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva),filhas de famílias rivais na política que, apesar disso, constroem uma linda amizade em busca de uma sociedade menos conservadora. Quando o amor nasce entre elas, sofrem na pele a impossibilidade de viverem seu amor naquele país. O preconceito que sofrem - das famílias, dos homens, da igreja, da polícia, sociedade em geral- torna o filme triste.
Tinha um rapaz do meu lado que chorava de soluçar nas cenas que elas sofrem preconceito, fiquei muito tocada.
Algumas fotos para da divulgação encontradas nestre link mostra belas e alegres meninas negras tentando ser elas mesmas. Enquanto Kena é mais discreta e convive basicamente só com homens e meninos que até a consideram uma possível esposa ideal , Ziki é solar e sensual, usa muito cor de rosa e, no filme, chega a levar Kena, que dizia ter alegia a vestidos, a usar um modelo cor de rosa claro, emocionando a mãe. Como vimos no trailer, o amor delas é lindo se ver, digno de fotos:
Sociedade sempre vigiando as Kena e Ziki
Os amigos homens de Kena não entendem sua sexualidade
Preconceito na igreja e na familia
Apesar de tudo, conseguem sus momentos de felicidade
Muito bom ver que o Quênia, pelo cinema, está lutando contra seu conservadorismo extremo!
No catálogo da Mostra de Cinemas Africanos, a diretora do filme explica sua motivação a filmar sobre este tema: "tenho visto poucos filmes que tratam do amor africano no cinema, eu quis colocar o nosso amor na tela grande" (Wanuri Kahiu, diretora)
Assumindo o ritual cinematográfico da minha geração, assisti ao lançamento de Quentin Tarantino, Era Uma Vez Em... Hollywood .
O filme retrata o cenário de Hollywood no final da década de 1960, quando algumas mudanças estavam acontecendo na cultura áudio visual e o astro de TV Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), famoso por interpretar caubóis, e seu dublê Cliff Booth (Brad Pitt), tentam acompanhar as mudanças.
Mas como Tarantino gosta de apresentar uma versão alterativa dos acontecimentos em seus filmes, fazendo algumas "correções" justas a seu modo, nesse filme não poderia ser diferente: o longa aborda um dos dramas mais assustadores da história do cinema norteamericano, quando Charles Manson, líder de uma seita hippie de cunho racista, que acreditavam na supremacia branca e estavam dispostos a matar todos que, segundo eles, permitiriam a ascensão do negro. Com essa ideia, acabaram assassinado vários famosos do cinema, dentre eles a atriz Sharon Tate (?!), a bela esposa do diretor Roman Polanski , que então estava no oitavo mês de gravidez!
Integrante da familia Manson real e no filme: caras brancas
No entanto, o que Tarantino produz aqui é uma outra versão mais madura em relação a seus filmes anteriores, com menos carnificina , mais melancolia e reflexão, superando desta forma as interpretações meio adolescentes da realidade apresentadas em filmes como Bastardos inglórios, ou Django Livre.
Além das auto referências à sua cinematografia, que até eu que não sou propriamente uma especialista em Tarantino reparei, existem outras evidentes referências ao universo do cinema como a participação de Al Pacino e a polêmica porém excelente representação de Bruce Lee como um sujeito muito arrogante, não posso comentar as incontáveis referências cinematográficas com as quais ele trabalha, mas sei que, esteticamente, o filme é lindo: final dos anos 60 e suas cores e frescor!
Figurino alegre, em tons de amarelo
Muita gente já falou e falará sobre esse filme, eu não me sinto muito à vontade, mas gostaria de comentar rapidamente 3 tópicos dele que me chamaram a atenção:
Amigos, na estrada
KEEP MOVING - Até pelo roteiro, percebemos que as figuras centrais do filme, as que sustentam a "fábula" sobre Hollywood no final da década de 1960, são as personagens ficcionais inseridas no contexto quase real de 1969, como o ator em decadência Rick Dalton (Di Caprio) e seu dublê e faz tudo Cliff Booth (Brad Pitt) , através deles Taratino consegue montar sua interpretação própria daquela época. No filme muitos personagens dirigem e caminham por Hollywood, fugindo da derrocada, tentando se adaptar à nova ralidade: keep moving, keep walking!
pés sujos da hippie
Brad Pitt sem camisa aos 55 anos
PÉS SUJOS E PEITO NU - Fãs de Tarantino observam seu verdadeiro fetiche ao dar zoom em pés femininos em seus filmes. Neste não é diferente, porém os pés focados têm uma peculiaridade. São pés sujos. Sejam os hippie sedutora pertencente à família Manson, sejam os da Sharon Tate, na bela cena em homenagem à sua memória,quando relaxa no cinema ao assistir seus filmes de começo de carreira. Neste vídeo a crítica diz não gostar desta peculiaridade em Tarantino, pois isso sexualiza muito o corpo da mulher. Minutos depois, entretanto, ela comenta sobre personagem de Brad Pitt, que gostaria de tê-lo visto um pouco mais, "quem sabe um filme só dele! Mentira". Não é para menos tanto alvoroço, ele sem camisa, aos 55 anos, arranca suspiros de mulheres de qualquer idade (até eu, que nunca gostei da sua eterna cara de cínico) ...
A menina "actor", por Julia Butters
A MENINA E A CACHORRA - Destaco duas "personagens secundárias", pois cada uma serviu de apoio a cada um dos personagens principais.
Para Cliff Booth, a pit bull Sayuri (interpretada pelo cão fêmea Brandy), para a qual Tarantino inventou uma ração própria, a "Wolf’s Tooth" (“Comida Boa para Cachorros Malvados”) e que lhe deu energia para que ela encenasse o filme todo, quase "falou" e até "decidiu" algumas cenas. Para Rick Dalton, o apoio veio de uma menina sensacional, que estava atuando numa série de TV com a personagem de Pit, e não queria ser chamada de "atriz", pois era "actor" e estava sendo criada para ser estrela de Hollywwod, mas que ainda tinha empatia, levantou a moral do ator em decadência algumas vezes: belíssimo.
Um novo filme de Tarantino é isso: oportunidade de novos compartilhamentos vários. Desse eu realmente gostei muito.
Sem muitos planos para a fria noite de domingo
18 de agosto, fui ao CineSescassistir
ao nacional “A Serpente”, dirigido por dirigido pelo pernambucano Jura Capela,
lançado em 2017. Como sempre nem li nada sobre o filme antes, só lá mesmo no
cinema soube que é uma adaptação de NelsonRodrigues (1912-1980), o que me deixou contente e apreensiva (vai que estragassem
a obra de Nelson). Mas foi uma baita experiência, qu comento abaixo.
A
PEÇA RODRIAGUIANA – Todo brasileiro conhece ou devia saber quem foi Nelson
Rodrigues, que além de outras coisas, talvez tenha sido o nosso maior
dramaturgo, ainda que fosse uma figura que não agradou a todos, mesmo. Eu o
conhecia mais por outras obras, acho que as crônicas futebolísticas dele são
umas joias da literatura nacional. Sobre as peças teatrais e seu fundo sexual e
moralista, conheço muito pouco, e embora tivesse o sonho, nunca assisti uma
encenação de uma, embora tenha lido e analisado o roteiro de “álbum de família”
para um trabalho da faculdade, o que me aproximou um pouco do complexo universo
rodriguiano e das inovações de linguagem que ele se propôs.
A
respeito de “A Serpente” (1978),conta
a história é de duas irmãs, Lígia e
Guida, ambas casadas, que vivem juntas na mesma casa, herdada pelo pai para que
vivessem com seus maridos. Uma delas, Lígia, é casada com Décio que sofre de impotência, o que acaba
decretando a virgindade eterna a sua
esposa, que esconde de todos sua infelicidade conjugal. Por outro lado, Guida
vive uma felicidade sexual real no quarto ao lado, que, na leitura deste artigo é percebida e de forma
até histérica, invejada pela irmã. O fato é que um dia a máscara de Guida cai e
ela tenta suicídio, o que faz com que a irmã lhe ofereça seu marido Paulo, para
salvar sua vida. Obviamente que, embora tenha sido nobre, o resultado causa mais
problemas a todos, a ponto de que a única saída possível seja a morte.
Mas como adaptar uma obra rodriguiana ao
cinema? Certamente muitos experimentaram vários caminhos, mas esse escolhido
por Capela é muito interessante, pois o
filme alterna entre ser uma adaptação para o cinema do texto dramático de
Nelson Rodrigues e ser uma adaptação para o cinema da encenação da peça! É
muito impactante, porque é como se a peça não pudesse ser sem sua
interpretação. Isso, para mim, é propriamente o teatro: contar, com o corpo, todas
as histórias.
PERSONAGENS
E ATORES – De forma muito sucinta, temos cinco personagens e quatro atores. As
irmãs Guida e Ligia são interpretadas pela atriz favorita de Nelson, Lucélia
Santos. Não sei se na peça elas são gêmeas,
mas no filme elas são ao mesmo tempo iguais e opostas em suas personalidades
básicas : Guida sempre se preto e Lígia sempre se branco. Lucélia está
maravilhosa e visceral, com caras , bocas e olhos de ódio e desejo que me
agradou e , certamente, agradaria Nelson.
Também
visceral é a atuação de Matheus Nachtergaele, interpretando Paulo, marido de Guida,
mas disputado entre ela e a irmã. Paulo é uma personagem típica do universo
rodriguiano: o homem que julga as mulheres a partir de um rígido código moral:
as senhoras para amar, as esposas, e as que lhe satisfazem o desejo sexual, as
putas, mas não sai ileso desta disputa, como se supunha.
Outra
atuação muito boa é a de Silvio Restiffe, nopapel do marido impotente de Lígia, que aparece na trama cantando
alegremente, depois de ter superado seu “problema” com a ajuda de Dora, uma
lavadeira negra de corpo farto interpretada por Cellia Nascimento, que o excita
sexualmente e o faz, enfim, se realizar sexualmente, fazendo com que ele
abandone a esposa que era por ele agredida física e verbalmente, já que ela lhe
lembrava sua incapacidade, para ser carinhoso e terno com a amante cafusa.
TRILHA
SONORA - A cena em que Cellia e Silvio cantam a clássica Dora, de Dorival
Caymmi, é uma das mais belas e memoráveis do filme. Aliás, a trilha sonora é um tópico a ser
considerado, além do som muito bom, que vamos ouvindo o filme todo, reparei nos
créditos finais a lista de títulos de faixas composta em sua maioria por
canções em referência ao universo das cobras, como Serpente, Urutu, etc. Sobre
a trilha destaco o seguinte comentário neste texto :"Com
trilha produzida pelos músicos Fábio Trummer (Banda Eddie) e Pupillo (Nação
Zumbi), o longa de Jura Capela ganhou modernidade sonora pelas mãos dos
pernambucanos, que criaram universo pop & rock para a trama"
Enfim,
foi uma grata surpresa ter visto esse filme, vencedor de prêmios dentro e fora
do país. Mas como tudo relacionado ao Nelson Rodrigues, para assistir carece de
ter coragem.
Li este romance e foi muito libertador para mim, porque ele é excelente e abordou vários temas dos quais eu fugiria o quanto pudesse. No decorrer da leitura, fui escrevendo breves comentários que colo aqui. No primeiro, em 19 de julho de 2019, minha relação com a obra:
"DOIS IRMÃOS - Sempre tive muita vontade de ler esse romance de Milton Hatoum, mas fui sempre adiando por causa do pavor de ter que enfrentar a figura da personagem Nael, que poderia ser " meu igual nesse mundo mau". Quando assisti a minissérie na Globo ver que Nael e seus silêncios era interpretado justo pelo meu querido de "Tatuagem" Irandir Santos foi devastador e eu achei que estava de bom tamanho para mim. Mas nos últimos meses venho mexendo de vez na ferida da identidade e sofrendo muito por isso, me deu vontade de encarar o texto de vez. Alguém leu e recomenda? Alguém tem alguma boia para me salvar do afogamento inevitável?"
Em 29 de julho, me deliciando na escrita de Hatoum:
"QUAL A RELAÇÃO ENTRE A MANEIRA DE NARRAR E AMAR? - Nael, narrador do livro 'Dois irmãos', comenta sobre Halim, o pai dos gêmeos, o que lhe contava causos da vida: "Halim tragou, expeliu a fumaça pelas narinas, tossiu ruidosamente. De novo, silenciou, e dessa vez eu não soube se era esquecimento ou pausa para meditar. ELE Era assim: não tinha pressa para nada, nem para falar. Devia amar sem ânsia, aos bicadinhos, como quem sabe saborear uma delícia." P.43."
Em 1 de agosto, eu já me declarava apaixonada pelo autor:
"SOBRE MILTON HATOUM : Como já perceberam, tô amando a escrita de Hatoum, deliciosa forma de lidar com as palavras, um gosto de amêndoas, tão oriental (tipo Jorge Ben, alguma estrela que é do oriente) e não consigo largar o livro "Dois irmãos", que mais breve do que gostaria, devo acabar de ler. Já vou querer mais. Como Rosa, que também esmerava nos detalhes, ele tem poucos romances publicados. Poderia perguntar qual será que devo ler agora? Mas acho que tenho a resposta: "Relato de um Certo Oriente", considerado por muitos o melhor romance dele, me atrai demais. Mas se alguém leu mais algum, me fala o que achou de "Cinzas do Norte","Orfãos do Eldorado" ou o novo "A Noite da Espera"."
Depois, em agosto, eu já experimentando interpretações:
(Na foto Manaus, urbana, que se apresenta como um dos múltiplos cenário do romance)
SENSAÇÕES MANAUARAS DE HATOUM - Ainda não posso falar de modo geral de obra de Milton Hatoum porque só conheço “Dois irmãos”, mas esse romance, como poucos, me levam a pensar na importância literária da sinestesia . Já que ali são tratados relatos de memórias, densos tempos compactados, esses estímulos sensoriais me parecem sustentar a narrativa. O romance é bastante carnal, além de Zana e Halim, que passaram a vida se tocando nas redes, também os corpos dos gêmeos são sempre desejados para serem vistos, cheirados, TOCADOS. Além da importância dada pelo narrador da história aos modos de narrar as memórias que OUVIU das outras personagens, para os quais as recordações mais profundas poderiam brotar de estímulos VISUAIS, como as paisagens da infância de Yaqub, o estímulo mais forte, que me chega indiretamente é o paladar: além do texto ter SABOR de amêndoas, das especiarias, dos peixes com diversos molhos tradicionais, um verdadeiro banquete de cheio de temperos indígenas e árabes. Isso sem falar das bebidas... todas as conhecidas das boemias do caçula Omar, o uísque caramelo inglês contrabandeado e até algumas que não conheço o gosto, mas só posso imaginar o sabor, como o árabe arak. Ontem, na leitura, apareceu um odor que me abriu uma nova forma de estar no romance: o perfume do néctar de Copabaíba, que é um óleo cheiroso que adoro usar sem economia na pele durante o inverno. Tradições manauaras que, salpicadas de árabes, tornam o livro uma bela peça azul Royal, com tons caju, não sairá mais da minha memória! E sobre as personagens :
"Assim como os personagens gêmeos de Dois Irmãos são analogias dos rios Negro e Amazonas,a personagem Pau Mulata é analogia do vegetal de mesmo nome que nasce na várzea do Rio Negro. A descrição da "mulata" é uma das mais impactantes do romance. "
E enfim, acabei de ler, fiquei chocada, ainda estou :
Rio Negro não se mistura ao Rio Amazonas
Acabo de terminar de ler "Dois Irmãos". Há coisas que nunca se misturam.Há filhos de ninguém. Há filhos da casa. Há.
No dia 4 de agosto de 2019, primeiro domingo do mês mais amarguinho do ano, o Samba do Sol aconteceu num local diferente, o Espaço Mangaba, na rua Augusta, uma boite tropical, bem interessante.
A última vez que eu tinha ido ao Samba do Sol foi na despedida dos domingos musicais nas Caldeiras em maio, e foi com muita alegria que revivi o gostinho do melhor rolê se Sampa, que me recebeu com um samba de roda maravilhoso
O espaço é bem alternativo, mesmo vários recadinhos críticos à realidade do Brasil 1019
o bloquinho passou por ali
Eu, vestida para o frio
Espaço Mangaba
Porta azul e das menina
e porta rosa dos meninos
Fé não costuma faiá
cenário para fotos
Mas apesar do maravilhoso som do Xoroxangô, que tocam maravilhosamente, a pérola da noite foi mesmo o "Samba da Chinela voadora", uma baita banda de samba jazz que faz música para dançar , como eu não ouvia há tempos
Eles são bons, são bonitos e sempre protegidos dos santos e orixás
Boa noite povo que eu cheguei !
E teve quem dançou para celebrar aquela reunião inesquecível, pela alegria
Depois de meses, enfim concluí a leitura da escelente biografia Martinho da Vila: Reflexos no espelho, escrita por Helena Theodoro.
Capa da biografia, pela pela Editora Pallas.
Comprei o livro em janeiro, e em fevereiro, quando fui começar a travessia da leitura, registrei que quando abri a biografia, achava que o caminho que me levou até ela, e também que me desviou da figura do sambista antes, era segredo só meu. Ainda não sabia que tantas vezes em que esse sentimento solitário me tomava, talvez não fosse só meu,mas de uma coletividade. Só descobri sso ouvindo depoimntos de outros negros e negras. Então abri o.livro e tem um depoimento manuscrito do Martinho mostrando que ele é o que suspeito "um intelectual bem a seu modo"...fascinante. Mas o que me emocionou mesmo foi uma das dedicatórias da autora Helena Theodoro:
Desde o início a questão da negritude, ontem, hoje e sempre
Ela "descobriu" o segredo do meu interesse na figura daquele homem. Agora que não estou mais tão solitária, posso começar a leitura propriamente dita! Durante a leitura a imagem do intelectual negro de sucesso veio se consolidando aos poucos, na presença e militante da causa e da cultura negra de Martinho, como cheguei a comentar neste blog aqui. Ou mesmo as parcerias musicais deliciosas com músicos como João Bosco que eu mal suspeitava, como comento neste post.Apresentando sempre Martinho como mais que um músico, mas um intelectual negro, o livro registra momentos ímpares como este. Houve um momento emocionante em que, através de Martinho, o SAMBA foi reconhecido como uma canção de ninar do brasileiro quando uma grande amiga, de outra geração, relatou que Martinho da Vila a fazia lembrar da infância. Comigo é meio assim também, não propriamente com Martinho, mas com Zeca Pagodinho e especialmente Almir Guineto e outros sambistas de raiz: um portal para minha infância, como se o samba fosse a "canção de ninar" dos brasileiros!
Houve também a narrativa da bela história de amor entre Martinho e Cleo, que segundo a biógrafa, abriu novos caminhos para a criação de Martinho: "toda a visão de mundo deste compositor, escritor, poeta se mostra, revelando sua esperança no mundo, seu compromisso com as raízes de sua cultura e seu grande poder de participar da vida, modificando e transformando o nosso existir" (p.34 ).
Por fim conclui que Martinho da Vila fez tanto pelos negros brasileiros, que mal sabem de nada, é emocionante de se saber! Termino com uma lista de livros escritos por Zé Fereira, mostrando que ele não é só um sambista, mas seu perfil intelectual inclui inúmeras camadas Essa lista de obras de um negro brasileiro de sucesso é sensacional
livros de Martinho
Sua biografia é, por si só, uma apologia a cultura negra no Brasil.