Um livro , publicado pelo Sesc, com um texto meu sobre Lima Barreto O precursor, o maior escritor "negro brasileiro" |
Foi com muita alegria que ontem à tarde eu recebi esse livro Modernismo: o lado oposto e os outros lados, organizado pelo professor Elias Thomé Saliba e dedicado ao saudoso professor Nicolau Sevcenko. É uma edição Sesc, muito chique.
Eu primeiro participei do Seminário no SESC para o evento sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, em 2019. Mas na época eu falei de representações de meninas negras em cem anos de literatura brasileira, mas quando foi sair em livro, os editores me pediram para mudar o texto, me adequar mais ao tema da cultura em 1922, então, para continuar tratado de representações da juventude negra, eu tomei coragem de falar de Lima Barreto (1881-1922) , que conheci através da história de Clara dos Anjos, a jovem suburbana que se conscientiza da sua negritude no Rio de Janeiro da década de 1920, que era um assunto que eu precisava tratar, um tema urgente para nossos dias.
Não foi fácil, era quarentena, bibliotecas fechadas, agradeço muito a ajuda do Elias Saliba e da minha amiga Rosane Pavam com referências e livros.
Mas o mais difícil foi ter a coragem para escrever sobre o Lima Barreto. De ter sobre mim os "os olhos de Lima" que nos olha há 100 anos (confira AQUI o texto de Beatriz Resende) me olhando o tempo todo. Esse texto foi escrito assim, como um alerta: estamos sempre sob os olhos de Lima, que há mais de um século escreveu sobre temas (raciais) que ainda não estão resolvidos, mesmo que agora até já tenhamos o que Cuti chama de escritores negro-brasileiros
"Literatura Negro brasileira", Cuti |
Mas como ele mesmo destaca, existiram precursores como Lima Barreto
Cuti: Cruz e Souza e Lima Barreto: precursores da Literatura Negro- brasileira |
Só que esses primeiros nem lemos o suficiente, adequadamente, que dirá discutimos as questões que colocaram.
Lima Barreto que, ainda, nos olha |
Há mais de 100 anos estamos sob o olhar de Lima que nos pergunta: Quando vão considerar os aletas que minha vida e minha literatura indicavam no começo do século passado?
Eu escrevia esse capítulo publicado pedindo desculpas o tempo todo, pois sabia que, por melhor que fosse meu texto, nada seria digno de Lima! Só depois que arrisquei um projeto de pesquisa sobre o Jeferson Tenório, outro autor que sempre peço desculpas por importuná-lo com minhas tentativas de pesquisa, depois que li o texto impiedosamente crítico de Luiz Mauricio Azevedo, que também pede desculpas aos autores que amargam no silêncio apagador do racismo em nossa literatura, me dei conta de que isso deve ser comum para quem se propõe pesquisar autores da " Literatura Negro- Brasileira":
Ensaios impiedosos |
A gente enxerga a grandeza dos autores pairando sobre os textos. Máximo respeito! Não poderíamos errar, mas somos Humanos!
A publicação deste capítulo, para mim, tem muitos significados, é um marco na minha maturidade como pesquisadora, é um marco na minha vida de mulher negra, é uma resposta à menina Camila que, aos 12 anos, leu o romance, entendeu do que se tratava, mas ainda não tinha a maturidade para enxergar que, no fundo, Lima falava dela. Que a Clara dos Anjos sou eu, é o Lima Barreto em 1922, somos nós, nesse Brasil, um século depois.
Eu que venho passando dias difíceis de fim de ciclo, achando que não tive as colheitas desejadas, fui presenteada com essa publicação e , só por isso, já sei que posso até "não ser nada nessa vida", nas palavras de Clara dos Anjos, mas tenho um orgulho de ter realizado o percurso de conscientização racial, sob supervisão dos olhos questionadores de Lima Barreto e ter escrito um texto clamando: Pretinhas, leiam Clara dos Anjos, é urgente e é sobre vocês! 😍
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