terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Sono, de Haruki Murakami: meu primeiro livro de dezembro 2024

 


Sono é um conto que foi editado em um exemplar belíssimo e ricamente ilustrado. Demorei cerca de um mês para concluir a leitura , entre meados de novembro até meados de dezembro. Antes desse volume, eu até tentei o romance Caçando carneiros, era muito longo, mas  parecia atraente, só que não engrenei na leitura, então escolhi Sono.A voz literária de Murakami eu já conheço, achei que tudo só poderia dar certo na leitura desse mês sempre atribulado, de fim de ano, e realmente deu.

Mais ou menos logo percebi que não é um romance, mas um  conto,ricamente ilustrado. Uma história muito bem construída,como eu conferi NESSE audiobook, antes de escrever esse post, conta a história de uma mulher não nomeada, com 30 anos,   casada com um dentista e vive como dona de casa. Sua rotina é muito "normal", entre a casa,os cuidados com o filho é marido e algumas visitas ao clube. 

Ela começa contando que, quando estudante, sofreu de insônia e foi uma experiência muito ruim, que ficou exausta, passava o dia sonolenta, dolorida e irritada. Um dia, assim como veio, a insônia sumiu, ela dormiu muitas horas e conseguiu se recompor,sem  causar muito alarde entre os conhecidos. Algo tão importante como não conseguir dormir por um bom tempo, sem que ninguém percebesse, já havia acontecido com ela antes.

Depois dessa introdução, que servirá apenas para explicar que o que vai acontecer a partir  dali não se trata de uma descrição de insônia, ela explica que está há dias sem dormir,mas agora não sente exaustão, nem nada parecido com o que sentia quando insone. Muito ao contrário, sente mais disposição, sempre alerta, apenas com muito muito tempo livre nas madrugadas .

No começo ela usa para repensar a sua vida, seu casamento, sua relação com o filho e tudo lhe parece repugnante, digno de crítica. O marido não era bonito ou admirável,nem o filho, que parecia ser sua cópia. Ela estranha tudo o que era normal em sua rotina na época em que dormia, e num cenário bastante kafkiano: um ambiente de irreal, absurdo e inacreditável.

Em outro momento o romance fica mais interessante, ela começa a RELER  Anna Karenina, de Tolstói, um calhamaço que leu muito jovem e nem se lembrava mais. Antes repensa qual o sentido de ter sido uma leitora assídua no passado, se depois foi deixando a leitura de lado e  hoje mal se lembrava de nada que tinha lido. A vida cotidiana, os cuidados com o filho e o marido, absorviam todo seu tempo e atenção e leituras não cabiam mais. Mas aquele era outro momento, em sua nova realidade, ela tinha, todos os dias, algumas horas plus só para si e aproveitou para reler diversas vezes esse romance. Depois que leu e releu inúmeras vezes o romance , percebeu que existiam nele diversas camadas que se entrecruzavam e em uma primeira ou segunda  leitura, só era possível absorver traços superficiais. Para entender esses calhamaços era preciso muito tempo de observação, coisa que agora ela tinha e usou.

Essa realidade não é nada "insólita" para mim. Nas mais diversas situações, alegres ou difíceis, sempre a leitura foi minha arma para sobreviver. Ler abre a possibilidade de criar novos ambientes de vida. E foi o que essa personagem fez.

Na minha interpretação, essa  opção por reservar parte de seu "tempo livre" , que antes ela "perdia" dormindo, lendo é a parte mais sensacional desse conto. Eu não sei o que faria em uma situação tão insólita, mas certamente tentaria ler algo, pois isso sempre é o que me ajuda a colocar as coisas no lugar na vida. 

No caso do conto, a protagonista concluiu que não precisava mais dormir. Dormir seria perda de tempo, desse tempo precioso que ela passava primeiro  nas leituras noturnas, depois em outras atividades insólitas,  mas tudo isso lhe transmitia uma sensação incrível de ser o único ser humano que podia viver sem a necessidade de "desligar o motor" (dormir) a cada vinte e quatro horas. 

Claro que essa história dá panos para a manga de diversas interpretações médicas, psicológicas, politicas, filosóficas, etc, mas por hora não tenho condições de comentar mais amplamente todas as ideias que esse grande texto me despertou, por isso escrevo esse   breve comentário para e recomendar muito a leitura de Sono, de Murakami.

Antes vou postar os poucos comentários que publiquei nas redes durante a leiura, em ordem cronológica: 

15 de novembro

                                  

 

18 de novembro 


 SONO : Mais um Murakami da biblioteca do SESC Pompéia, nessa edição luxuosa da Alfaguara 😍. Um livro sobre sono ou a falta dele : 

 "Essa 'coisa parecida com insônia' durou cerca de um mês. Nesse período, não consegui ter uma única noite de sono.(...) Quanto mais me esforçava a pegar no sono, mais desperta ficava minha consciência. Cheguei a apelar para bebidas alcoólicas e até pílulas para dormir,mas nada resolveu.

Quando começava a amanhecer, finalmente eu sentia uma vontade de cochilar. Mas essa sonolência estava longe de ser chamada de sono. Eu SENTIA NAS PONTAS DOS DEDOS UMA VAGA SENSAÇÃO DE TOCAR NO UMBRAL DAS FRONTEIRAS DO SONO, mas o meu estado de vigília insistia em permanecer alerta." (Haruki Murakami. Sono. Ilu. Kat Menschik; Trad. Lica Hashimoto. RJ:Alfaguara, 2015,p.6 e 11)






19 de novembro 



11 de dezembro 
 
"Na biblioteca, meu lugar 😍
Devolvendo mais um Murakami...preciso escrever sobre "Sono", ainda esse mês"


Na biblioteca, quando devolvi o livro


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