Através do podcast Novelo e de uma matéria da jornalista Mônica Bergamo, ficamos sabendo de casos de misoginia envolvendo grandes nomes da cena literária contemporânea. Dos quinze envolvidos, apenas sete nomes são citados por Bergamo, dentre eles o do gaúcho Paulo Scott. Me lembrei que, em 2021, durante a pandemia, eu li o seu romance "O ano em que vivi de literatura"(2015), que fala sobre Graciliano, um autor que ganhou o prêmio literário de maior valor e resolveu tirar um ano sabático da escrita para desfrutar do dinheiro e da fama. Dali surgem muitas histórias que Scott afirma serem ficção e algumas críticas julgaram como "divertidas sátiras", mas que eu, como mulher, achei pesadas e julguei essa leitura como uma das mais incômodas que fiz na pandemia. Isso porque o cenário montado ali, ao contrário do que indica o título, tem pouco de "viver" ou de literatura, e muito de machismo. Claro que entendo que é uma obra ficcional, nunca achei que Scott estava falando diretamente dele, porém é inegável que o cenário machista que monta em seu romance e que agora ele aparece envolvido nominalmente, lhe é familiar há tempos.
Quando terminei de ler , em 2021, escrevi este texto destacando a história de uma "gorduchinha simpática" que quase foi estuprada por Graciliano:
"Essa moça não foi a única iludida pela ideia de que estar em contato com um escritor sempre seria tudo de bom, poderiam falar de livros e poesia, mas descobriu que, pelo menos aquele escritor, realmente só estava pensando em exagero de sexo e álcool. Mas me identifiquei com ela, que quase pagou pelo pecado de ser simpática.
De resto o livro é meio que isso mesmo, descrições sexuais, como se o narrador estivesse se dirigindo aos amigos de farra: essa é assim, aquela é assado, a outra faz daquele jeito. Isso foi me incomodando tanto, que na metade eu achei que já estava satisfeita. Foi dureza terminar."
Confesso que é com pesar que relembro essa leitura, ainda mais por tal motivo, mas fica a dica para quem tiver interesse e coragem.
Escrevi esse resumo da ópera pra publicar nos grupos de leitura que participo, mas acabei deixando pra lá. Mas publique nas redes e aqui.
Que incômodo!
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