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| Gostei desta foto Esse livro é incrível |
Lá vemos nós ler Murakami
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| Meu livro de agosto 2025 Outro romance de Murakami |
Ler e gostar de Murakami e gostar é só começar. Como terminei julho com um romance do autor japonês, em agosto continuei com outro romance dele. Dessa vez mais denso e melancólico.
Sobre o livro, inspirada no resumo da orelha, explico que conta a história de Tsukuru Tazaki, um engenheiro de trinta e seis anos que mora sozinho em Tókio onde trabalha em estações de tem. Tsukuru é melancólico e vive sempre num vazio e na solidão. Quando jovem em Nagóia, passou pelo trauma de ter sido rechaçado, sem explicação,pelos quatro companheiros inseparáveis do Ensino Médio , que até então davam sentido a sua vida.
Cada um desses amigos trazia uma cor no ideograma do nome: Akamatsu (pinheiro vermelho), Ômi (mar azul) e as meninas Shirane (raiz branca) e Kurono (campo preto). Somente Tsukuru (construtor) não tinha cor, nem nenhuma característica que o distinguisse, era chamado e se sentia o Incolor.
Dezesseis anos depois conhece Sara, a namorada que ama , mas que está prestes a perder, e ela o obriga a enfrentar o passado em busca de explicação que o feriu a vida toda. Mas talvez essa ferida não curada em tempo possa ter grangrenado .
Como indica a orelha,
"Este é um livro emocionante sobre a busca da identidade.É uma história de pessoas perdidas, que lutam para lidar com o passado desconhecido e aceitá-lo de algum modo. Como cada um de nós."
Vamos vendo a construção do romance a partir da simbologia que em boa arte aparece representada na bela capa da edição brasileira: as estações de trem - onde está Tsuruku, só observando as pessoas chegarem e partirem nos trens, sem interferir no fluxo da vida- ; nas cores, simbolizando marcas de personalidade -que Tsukuru não construiu porque não tinha nenhuma peculiaridade e viveu parado no momento do trauma da adolescência.
Como se trata de um livro de Murakami, há a presença chave de uma música,no caso esta
Que é parte da suíte "Primeiro ano Suiça" da peça "Anos de Peregrinação", de Lizst, que parece estruturar essa narrativa de busca e "peregrinação de Tsukuru por um passado incompleto. No caso da música, "Le mal du pays", ela se refere a uma "tristeza sem causa, evocada no coração das pessoas pela paisagem rural" (p.60) e aparece na vida de Tsukuru quando o amigo Haida traz e deixa o álbum em seu apartamento , o que remete a lembrança da amiga Branca, que costumava tocar essa no piano na juventude.
Tsuruku é um homem incompleto,sem cores,traumatizado e incapaz de viver plenamente seu presente. Para mim essa leitura foi prazerosa e difícil, como são as melhores.
Vejamos como eu vim comentando o livro nas redes durante a leitura
30 de julho
3 de agosto
INCOLOR: No primeiro capítulo vamos sabendo da história da dor MORTAL causada pela primeira rejeição de Tsukuru Takaki . Nos capítulos seguintes essa marca o torna um ser diferente, como se reconhecendo como ser humano,experimenta sensações novas. Até SONHA que "era atormentado por terríveis sentimentos de ciúme e inveja. Fazia tempo que não tinha um sonho tão real. (...) Nesse sonho ele desejava intensamente uma mulher, acima de tudo. Não estava claro quem era. Ela era apenas uma EXISTÊNCIA. E ela conseguia se dividir em corpo e alma. Ela possuía esse dom especial. Posso lhe entregar um dos dois. Por isso quero que você escolha um dos dois agora. O outro vou dar a alguém, ela dizia. Mas Tsukuru a desejava POR INTEIRO. Não conseguia ceder a metade a outro homem. Para ele era insuportável. Então não quero nenhum dos dois, ele queria dizer, mas não conseguia. Ele não queria ir nem voltar.
Tsukuru sentiu nesse momento uma violenta dor, como se mãos enormes estivessem torcendo fortemente todo seu corpo. Os músculos se romperam e os ossos gritaram de agonia. Ele sentia também uma terrível sede, que parecia secar todas as suas células. A ira fez seu corpo tremer. Ira por ter de entregar a metade dela para outro. Essa irá se tornou um líquido denso, espremido da medula do seu corpo. Os pulmões se tornaram um par de foles enlouquecidos e o coração acelerou como um motor levado ao limite, enviando o sangue escuro e agitado até as extremidades do corpo.
Ele despertou com o corpo todo tremendo."(HARUKI MURAKAMI. "O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação", p. 44-5)
4 agosto
INCOLOR: Claro que se trata de uma espécie de "romance de formação", mas ao modo Murakami: pela solidão, incomunicabilidade, etc! No primeiro capítulo vamos sabendo da história da dor MORTAL causada pela primeira rejeição de Tsukuru Takaki . Nos capítulos seguintes essa marca o torna alguém diferente, como se reconhecendo como ser humano, ele experimenta sensações novas em frases curtas e diretas. Até SONHA que
"era atormentado por terríveis sentimentos de CIÚME e inveja. Fazia tempo que não tinha um sonho tão real. (...) Nesse sonho ele desejava intensamente uma mulher, acima de tudo. Não estava claro quem era. Ela era apenas uma EXISTÊNCIA. E ela conseguia se dividir em corpo e alma. Ela possuía esse dom especial. Posso lhe entregar um dos dois. Por isso quero que você escolha um dos dois agora. O outro vou dar a alguém, ela dizia. Mas Tsukuru a desejava POR INTEIRO. Não conseguia ceder a metade a outro homem. Para ele era insuportável. Então não quero nenhum dos dois, ele queria dizer, mas não conseguia. Ele não queria ir nem voltar.
Tsukuru sentiu nesse momento uma violenta dor, como se mãos enormes estivessem torcendo fortemente todo seu corpo. Os músculos se romperam e os ossos gritaram de agonia. Ele sentia também uma terrível sede, que parecia secar todas as suas células. A IRA fez seu corpo tremer. Ira por ter de entregar a metade dela para outro. Essa ira se tornou um líquido denso, espremido da medula do seu corpo. Os pulmões se tornaram um par de foles enlouquecidos e o coração acelerou como um motor levado ao limite, enviando o sangue escuro e agitado até as extremidades do corpo.
Ele despertou com o corpo todo tremendo."
(HARUKI MURAKAMI. "O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação", p. 44-5)
Como disse o samba canção de Caetano, o ciúme rói do cóccix até o pescoço. Demasiadamente humano!
8 de agosto
INCOLOR: Quase na metade do meu quarto Murakami, devo dizer que estou AMANDO "O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação"! Que história! Que sensibilidade! Ao contrário do ágil "Após do anoitecer", que é um ensaio de filme, esse é quase um romance clássico, talvez um "romance de formação", que foi o que primeiro intuí, veremos se se confirma no final . Mas está sendo muito bom comprar, ler e gostar dos livros do Murakami, não tenho me decepcionado! Depois desse que logo acaba (depois da metade a leitura flui), quem sabe no meu aniversário, tenho a chance de comprar e ler o incensado "Kafka a beira mar"... veremos!
Cada vez que leio mais Murakami, penso que ele devia ter um Nobel, é um autor caríssimo ao leitor do século XXI ....mas aí lembro que ele mesmo chegou a retirar seu nome da indicação: Ele é maior que prêmios,pois prêmio quem recebe somos nós leitores 😍
(E essa capa? LINDA)
13 de agosto
O INCOLOR: A namorada de Tsukuru é dois anos mais velha que ele e frequentemente usava um elegante "vestido de manga curta VERDE-HORTELÃ".
Acho interessante porque sempre imaginei o vestido verde claro (embora hortelã seja escura). Pesquisei no Google um vestido exatamente assim e qual não foi minha surpresa quando apareceu na Shein EXATAMENTE O VESTIDO QUE EU IMAGINEI! Só faltou a modelo ser japonesa! Tsukuru diria que talvez seja porque "em algum lugar diferente, em uma temporalidade diferente", na minha imaginação ,eu já tinha visto esse vestido ! Misterios...
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| Vestido manga curta verde hortelã |
14 de agosto
INCOLOR: Quase no final do romance. Já comecei a ler o último capítulo e ,por enquanto,ele traz Só falta um capítulo,e pir enquanto ele traz reflexões sobre a engenharia das estações de trem do ponto de vista do engenheiro Tsuruku. Infelizmente me parece desnecessário. Pode ser que eu tenha ficado decepcionada com o penúltimo capítulo e o possível fim da "peregrinação" de Tsuruku, ou com o silêncio sobre Haida,ou não tenha compreendido mesmo a relevância disso. Agora, a poucas páginas do final,suponho que nada de muito inesperado possa acontecer,afinal MURAKAMI não é autor de ligar todos os fios da narrativa mesmo. Em geral, gostei bastante do romance, especialmente da playlist de música clássica e do destaque para o piano. Tenho muito a comentar quando terminar de ler e dar opinião sobre o final. Por hora, está um pouco decepcionante ... Veremos...
15 de agosto
INCOLOR Acabei de ler, estou muito impactada . Recomendo muito que quem for ler ouça a sinfonia Anos de Peregrinação de Lizst, que tem um trecho especialmente citado no romance, mas que , completa, pode funcionar como uma narrativa de base para o romance. Gosto muito.
18 de agosto
INCOLOR: Sim, foi meu livro de julho de 2025. Só ele! É um livro acima da média, envolvente, bonito (muito bem escrito e poético) e fantástico, mas que na hora não me fez muito bem. Trouxe a mim uma melancolia progressiva ao ler,algo que eu não queria e não pensei que Murakami despertaria em mim um dia,mas despertou. Entrar na cabeça do Tsukuru Tazaki foi me deixando gradativamente mais triste aos pouquinhos. Ao final eu achei que a melhor opção fosse ouvir a belíssima peça "Anos de Peregrinação" de Lizst na íntegra no Spotify, afinal ela estrutura de alguma forma essa jornada depressiva e profundamente solitária de Tsukuru, mas só piorou meu estado de tristeza 😔. Mais de uma vez eu chorei com Tsukuru e ouvindo aquele piano 🎹. Foi tão difícil que ao terminar não fiquei lendo resenhas ou vendo muitos vídeos sobre no Youtube, precisei de um tempo para respirar. Hoje pensando em como escrever a respeito no Pequenidades, lembrei que a composição de Lizst teria afinidades com "Os sofrimentos do jovem Wether", de Goeth. Peguei ele da estante. 😞😓😭
A melancolia votou a tomar conta de mim. Que livro difícil! Sobreviverei!
Saí desse livro, mas ele não saiu de mim. Quem disse que garrei em outra leitura? Nada...ressaca literária total, como nos melhores Murakamis 💞





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