A sensação que tenho é a de estar diante de um esboço, uma obra em que o autor experimenta, de forma até humorística, a composição de personagens e da estrutura narrativa. É quase um longo manuscrito. Como apontei acima, elementos-chave de seus textos mais envolventes — e que eu mais amo — já surgem aqui de maneira bastante crua, quase como rascunhos : o realismo fantástico; o tom onírico e surrealista; a música como marcador de tempo e ambiência; a abertura para outras dimensões da realidade e a reflexão sobre a solidão do homem moderno.
Para o leitor que já conhece seus trabalhos posteriores, esta leitura funciona como um autêntico documento de formação, pontuando o potencial de evolução que Murakami, como autor, vai desenvolver e concretizar plenamente em suas obras maduras.
A música é por este trecho "luz" :
" A neve continuou a cair até o fim da tarde, cobrindo toda a campina num único manto branco. Quando a noite chegou, a neve enfim parou e uma espessa névoa de silêncio aproximou-se uma vez mais. Um silêncio que eu não conseguia quebrar. Acertei o toca-discos na repetida automática e ouvi White Christmas, de Bing Crosby, VINTE E SEIS VEZES consecutivas."p. 296

Nenhum comentário:
Postar um comentário