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| Imagem da cena descrita, criada pelo Gemini |
Eis um parágrafo imagético do romance "Caçando carneiros" . Aparece quando o protagonista (sem nome) está hospedado no oitavo andar de um hotel de uma cidade que também não sabemos o nome. Ele espera as 17 horas para se encontrar com uma mulher desconhecida e entregar a ela a carta de Rato,um amigo em comum. Eis o parágrafo:
"A chuva fina continuava caindo às cinco horas da tarde seguinte. Chegou depois de quatro ou cinco dias de sol que prenunciavam um glorioso verão, bem na hora em que todos julgavam enfim terminado o deprimente período chuvoso. DA JANELA DO OITAVO ANDAR, a terra parecia preta e molhada até o último recanto. Na via expressa elevada, carros que se dirigiam do oeste para o leste estavam parados num gigantesco congestionamento de alguns quilômetros. Contemplando-os fixamente, pareceu-me que A CHUVA OS DISSOLVIA AOS POUCOS. Aliás, A CIDADE INTEIRA COMEÇAVA A DISSOLVER-SE. O cais no porto, os guindastes,os prédios enfileirados e,DEBAIXO DOS GUARDA-CHUVAS PRETOS, AS PESSOAS. O verde das montanhas também se dissolvia e escorria silenciosamente rumo à base. Mas, ao FECHAR OS OLHOS por alguns segundos e REABRI-LOS , a cidade tinha se reconstituído misteriosamente. Os seis guindastes continuavam com seus braços erguidos na direção do céu escuro carregados de nuvens cinzentas,a fila de carros despertava de súbito e lembrava de mover-se vez ou outra rumo a leste, os pedestres de guarda-chuva cruzavam o asfalto, o verde das montanhas absorvia com satisfação a copiosa chuva junina." (Haruki Murakami. Caçando carneiros,p.107-8)
Belo trecho.Imagético e mágico. Podia ser o roteiro de um curta-metragem, podia ser uma imagem de Monet, mas é só um parágrafo desse livro de Murakami que nem estou gostando tanto assim!

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