Começamos com um documentário recente, tratando de um tema muito
importante para os cinemas africanos e
que discutimos muito no curso sobre que assisti no
segundo semestre de 2020,
que cheguei a comentar em posts como esse.
A sinopse de “Pare de me filmar”:
Um grupo crescente de jovens em Goma, na República Democrática do Congo, está resistindo aos relatos sobre sua cidade que apenas mostram imagens estereotipadas de guerra, violência, doenças e miséria, resultado de anos de dominação ocidental. Tais imagens não refletem a realidade na qual eles vivem. Pare de nos filmar é uma importante autocrítica que conduz à pergunta: quem tem o direito de filmar a África e os africanos?
Vou comentar pontos fragmentados, pois como o filme foge à narrativa linear (ponto positivo) nem tudo eu entendi em detalhes, mas as pulgas atrás da orelha eu senti! No documentário se fala sobre a produção de um filme que pretende produzir imagens de Goma, capital do Congo, que não se centrassem apenas em cenas de guerra, violência, fome e miséria, mas oferecessem uma visão para a beleza, a alegria, a disposição e outros olhares mais positivos sobre.
Trata-se disse de várias formas, através de
fotografias produzidas por africanos, mas como tudo está sendo filmado pelo
documentarista branco, a reação é mais interessante pois muitas aceitam, mas algumas
pessoas negam, dizendo que não autorizam que ocidentais “brancos” produzam imagens
deles pra ganhar dinheiro! Estão errados?
Em uma das melhores cenas do filme, a equipe se reúne
para discutir sobre as fotos retiradas ,
por exemplo, olham fotos como esta e levantam perguntas :
Essa mulher representa uma africana? A resposta mais valorizada interessante é que sim, porque mostra uma pessoa livre ,
orgulhosa e feliz por ser africana.
Também se pergunta se dá para saber se foi tirada
por um africano, por um ocidental ou por um africano com mentalidade ocidental
(olhar de ONG). Sobre isso a discussão foi animada e com isso fomos repensando questões sobre o
nosso próprio olhar e expectativas sobre a África que esses filmes nos
apresentam.
Além das fotos, temos a visão de missionários Temos a visão dos missionários, que dialogavam com ‘poderes” locais que convocavam crianças para seres soldados. A pergunta essência é por qual motivo faziam isso? Não haveria outro jeito, que não determinar que elas vivessem em guerra desde sempre? Como e vê na legenda da imagem, consideraram sua missão muito bem sucedida, mas é interessante repensar qual o sentido desta missão para o africano que, mais uma vez, vê o “branco salvador” a defender os seus direitos. Sobre isso a missionária é taxativa ao observar que não vai a África para tentar construir casas ou hospitais ou salvar crianças individualmente, mas seu trabalho é o de questionar uma lógica de enxerga-las numa sociedade onde nem mesmo a Organização das Nações Unidas tinha ainda visitado, por isso considera sua missão um “trabalho político”. Ok, mas cabe não esquecer que a cena dos brancos “resgatando” as crianças do elenco de soldados é a IMAGEM que vai ficar na cabeça dos africanos e também dos ocidentais, sem nenhuma reflexão .
Há uma parte que o filme se dedica ao Yole, o grupo de jovens africanos tentando uma
forma de conectar e discutir questões como : por que
querem filmar os africanos, se os africanos não querem filmá-los? Toda a
questão de poder é colocada para o diretor do documentário sobre a visão
positiva do Congo, que disse que não apresentou o resultado final no Yole por
causa da iluminação ruim, mas foi questionado de volta: por que não nos falou? Iríamos
tentar resolver e mesmo que não conseguíssemos, não é sempre melhor apresentar
o filme ao público interessado?
A organização do espaço, das exibições também fazem
parte da obra e, mais importante, da representação de África que se faz!
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