sábado, 6 de dezembro de 2025

"Sozinhos" (Solos) 2021: Série Sci-fi existencialista do Prime

 

"SOZINHOS" (SOLOS, 2021)

Assisti recentemente a esta breve série antológica sci-fi e existencialista do Prime Video Brasil e fiquei profundamente impactada. Em um futuro distópico, acompanhamos a encenação de memórias roubadas e revisitadas por personagens que tentam conviver com tecnologias avançadas usadas, paradoxalmente, para enfrentar questões profundamente humanas: família, saúde, solidão, velhice e o sentido da vida. Em monólogos ou diálogos com um único interlocutor, humano ou não, a série adota quase um formato teatral e se sustenta em grandes atuações, evocando o princípio do teatro grego de explorar o que é essencialmente humano.

Tom e seu clone robô 

Os dois primeiros episódios, interligados, ilustram com força essa proposta. Conhecemos Tom Wykgowski, interpretado por Anthony Mackie, que está prestes a morrer e adquire um clone robótico para substituir sua presença e proteger a família. Ao “ensinar” ao robô quem ele é e como ama, Tom revive o que realmente importa: seus vínculos afetivos.

Peg : sozinha no espaço com suas memórias 

No episódio seguinte, acompanhamos sua filha Peg Wykgowski, vivida por Helen Mirren, já  com setenta e um anos, durante uma viagem espacial solitária. Em conversa com um interlocutor artificial, ela revisita memórias da infância e fala sobre o amor verdadeiro do pai, algo que o robô jamais conseguiu reproduzir.

Esses episódios exemplificam o ponto central da série: não importa o quanto a tecnologia avance, ela permanece apenas como ferramenta. Não substitui o que é natural e essencial : memórias, vínculos, amor, identidade, arrependimentos, presença. Sem isso, a tecnologia alcança apenas o vazio da experiência humana. Como a série sugere, memória não é arquivo; é identidade, afeto e sentido.


Ao terminar, lembrei do livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, da médica Ana Claudia Quintana Arantes, que mostra como pessoas prestes a morrer, em cuidados paliativos,  raramente falam de tecnologia, metas ou status. Elas falam de memórias, do que foram ou deixaram de ser, das relações que construíram e das que perderam.

Em "Sozinhos" estamos diante de um universo hiper tecnológico, mas também  nele ,nenhuma tecnologia é capaz de substituir a experiência humana.

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