domingo, 31 de janeiro de 2010

AUSÊNCIA

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo
da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.




MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.

tenho tudo para ser feliz , mas acontece que eu sou triste...

Sei que eu ando sumida desse espaço...
E como alguns sabem, não é por causa de nenhum grande acontecimento bom ou mal na vida.
Nos últimos dias encontrei algumas das melhores pessoas ótimas deste mundo, e quando isso acontece me "lembro" que eu tenho tudo para ser feliz e o Robinho até voltou...
Só que elas, apesar de eu sempre acreditar de verdade que desta vez pode ser diferente, acabam indo embora. Robinho tem data marcada para ir embora novamente...
Por enquanto estou permanecendo.


Dialética - Vinicius de Moraes



É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

domingo, 24 de janeiro de 2010

PARABÉNS SÃO PAULO


Quando eu morrer quero ficar

Mário de Andrade
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A OSWALD DE ANDRADE POR OCASIÃO DA DESCOBERTA DA LITERATURA BRASILEIRA


É verdade que a "redescoberta" da obra de Oswald de Andrade está modificando muito minha visão de mundo!
Livros que a gente não consegue parar de ler e se deliciar como Poesia Pau Brasil, Perfeito cozinheiro das almas deste mundo e especialmente o Primeiro Caderno do Aluno de poesia Oswald de Andrade estão acendendo luzes coloridas sobre minha vida, minha história (a do Brasil), meu gosto e, enfim, sobre meu doutorado.
Gosto muito de saber que moro em um lugar onde existiu um Oswald de Andrade... Encontramos preciosidades na poesia oswaldiana:

Amor

Humor


3 de maio
Aprendi com meu flho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi

Senhor feudal
Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia

O gramático
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou

Relicário
No baile da Corte
Foi o Conde d'Eu quem disse
Pra Dona Benvinda de Suruí
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí

Aqui temos aquele que pode ser considerado o "primeiro esboço de poema concreto brasileiro", feito com carimbo (é, o lirismo está em qualquer lugar!):


Dá para não adorar?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Qual o lugar de Guimarães Rosa?

Augusto de Campos, em 1959, já apontou uma verdade com a qual eu concordo plenamente: Guimarães Rosa deu prosseguimento a uma escola de escritores que se debruçaram sobre experimentações lingüíticas na Literatura Brasileira e que se iniciou com Mario de Andrade e seu Macunaíma, seguiu-se com Oswald de Andrade e seus Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar, até chegarmos no Grande Sertão: Veredas, que se colocou como um marco, já que:

"Ninguém poderá construir qualquer coisa em prosa brasileira, pretetendendo
ignorar Grande Sertão: Veredas. E quando se considera a situação geral
da ficção nacional, onde de um lado pontificam os romances ingenuamente
realistas e carticato-regionais, de outro lado o grupo pretensioso dos
intimistas alienados, a figura de Guimarães Rosa avulta com desmesura grandeza,
isolando-se, muito acima dos demais.
Ao invés do realismo simplista e
simplório, ao invés do subjetivismo delirante e falsamente revolucionário,
dá-nos Guimarães Rosa algo positivo e palp[avel. 'Che si può mangiare', como
diria Ezra Pound. Uma experiência de convívio com as palavras, as coisas e os
seres que reduz a maior parte da prosa de ficção ao estado de subliteratura." (Augusto de Campos.Um lance de dês do Grande Sertão)

Qual é a do Guimarães Rosa ? (ótima pergunta)....
Sempre achei que A "escola de Guimarães Rosa" era a mesma de Rabelais- essa coisa de colher na liguagem popular oral aspectos que nos levaiam ao nascimento das palavras, em um procedimento arqueológico ...
Continuo achando isso, claro, mas outras influências somaram-se a essa...
Como todo mundo já deve ter ouvido falar, Rosa também tem muito de James Joyce (algo que eu, como historiadora, sempre repito), e devo lembrar que Joyce também deve ter bebido na fonte de Rabelais... mas, Guimarães Rosa parece ligado a outras fontes também!
As técnicas rosianas de recriação e utilização do léxico me parecem muito próximas às apresentadas pela personagem Humpty Dumpty, de Lewis Carroll, que explica sua idéia assim:

"Quando eu utilizo uma palavra, ela significa exatamente o que
quero que signifique, nem mais, nem menos"
...

Essas palavras de Carroll me lembram demais o que Wittgeinstein que teorizou :

"o significado das palavras são explicados por seus usos"

Eis uma atitude cara linguagem rosiana e também a contrução e compreensão da linguagem infantil. Faz sentido?
Preciso pensar e organizar tudo isso, mas como vêem, minha cabeça está funcionando à mil por hora! UAU!

domingo, 17 de janeiro de 2010

"e sei que a poesia está para a prosa assim como o amor está para a amizade e quem há de negar que esta lhe é superior?" Caê

Vivemos um tempo sem poesia...
Depois dos anos 1980 e os irmãos Campos não vemos poetas tão conhecidos!
Uma pena, uma pena mesmo... para uma amante das palavras e do lirismo, como eu sou , é triste que estejamos passando por esse momento!
Será que podemos fazer algo? Talvez se relembrássemos Waly Salomão e reabríssemos a FÁBRICA DO POEMA:


sábado, 16 de janeiro de 2010

CONTATOS E PROJETOS

Vivemos na "sociedade dos contatos", ou como se diz, mundo do
"Netmeeting"...então eu tentei manter meus contatos, reiniando o diálogo com pesquisadores de Rosa com os pesquisadores de Rosa que respeito ou me identifico...colo aqui um e-mail que mandei para um dos melhores, na minha opinião, afinal é um retrato de como está minha cabeça de pesquisadora nesse momento, mas vai mudar, você sabem:
SOBRE MEU PROJETO, MAIS UMA VEZ
Caro professor,
Escrevo para lhe informar que acabo de enviar-lhe meu projeto de doutorado impresso pelo correio, até o fim desta semana você o receberá.Agradeço imensamente a sua disposição em continuar o contato comigo.
Fiz questão de lhe enviar por dois motivos principais : Um é receber a sua opinião sobre o grau de legitimidade da pesquisa que estou começando agora, pois acho que os pesquisadores não devem fazer seus trabalhos sozinhos e, como devo ter lhe dito algumas vezes, a sua posição a respeito das relações entre Literatura e História (que é de meu total interesse), como um caminho onde o papel da ficção mediadora deve ser valorizado, é a mais interessante com a qual tomei contato nos últimos tempos. Você perceberá que uso suas idéias como base de pensamento (espero estar usando-as bem, mas isso você me irá confirmar ou não, mas interessa-me muito o diálogo...)
O outro motivo é que, como meu trabalho está inserido na área de Teoria da História, interessam-me os questionamentos epistemológicos que a linguagem de Guimarães Rosa coloca claramente ( de forma repleta de lirismo e genialidade literária, mas com crescente grau de hermetismo que, em última análise, me levou a considerar a crise das possibilidades de narração da História, pensada historiograficamente por Walter Benjamin, mas de forma geral por toda a filosofia da linguagem do século XX ).Então, trata-se de uma pesquisa que não considera a história de forma "documentalista", já que não vai pelos caminhos usuais - que se debruçariam sobre perspectivas como a "História das crianças no tempo de Rosa", mas sim sobre as possibilidades e impossibilidades de representação da linguagem infantil que este autor apresentou em seus textos -, o que está ligado ao contexto da crise epistemológica que levou ao questionamento da legitimidade da História no século XX, e isso sentido aqui no Brasil.
Como vê, meu trabalho parece ser algo original e sei que ele sempre será posto em cheque - tanto por historiadores mais tradicionalistas, quanto por pensadores da literatura menos interessados em tensões epistemológicas -, então um interlocutor como você - que assumiu claramente em seu livro, ser alguém que observa a questão como um "outro" (ou usando suas palavras, assumiu seu olhar de "marciano"), é um tesouro.
É com pessoas como você, como meu orientador Elias Thomé Saliba- que possuem visões mais abertas a outros questionamentos- que é bom estabelecer diálgos.
Uma coisa importante, não tenho muita pressa em receber seu comentário, como disse, eu acabei de escrever o projeto agora, ele ainda está se desenvolvendo, então espero sua resposta quando você puder me enviar, pois não quero atrapalhar muito.
Muito obrigada,
Camila

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Pense no Haiti, reze pelo Haiti


Agora, vendo as cenas chocantes da catástrofe no Haiti, muita gente, enfim, deve esta pensando no Haiti e alguns até rezando pelo Haiti...
Caetano e Gil já cantavam a bola há mais de dez anos: Ali a miséria já atingia níveis impensáveis, e com a catástrofe, isso ficou evidente para o mundo da Internet!Eu vi na TV cenas de uma menininha de cinco anos, sobrevivendo debaixo de entulho por horas, gritando de dor...aí conseguiu sair daquele lugar, mas isso significou apenas que ela começou a peregrinação em busca de melhor atendimento médico! Fico sem palavras...Mas não foi só as misérias que essa catástrofe nos mostrou claramente,foi também a força da solidariedade e do amor...
Humanos, vamos seguir juntos?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

OSWALD DE ANDRADE: O PERFEITO COZINHEIRO DAS ALMAS DESTE MUNDO

Comecei ontem a assistir ao curso bimestral "OSWALD DE ANDRADE: POESIA E VISUALIDADE
Homenagem aos 120 anos de nascimento do escritor" na Casa das Rosas...
Fazia tanto tempo que eu não frequentava aquela casa, mas confirma-se mais uma vez a minha impressão: Tudo que ocorre ali é fenomenal! Teremos seis aulas semanais, até fim de fevereiro, mas a aula inicial -vida do poeta - nos deu a noção de trataremos de uma das cabeças pensantes mais interessantes do Brasil do século XX: Foram sete mulheres, mais de quatro filhos, polêmicas, projetos, escândalos e muitas obras -escritas ou visuais! Que vida foi aquela!
Para ontem, a informação mais interessante foi a existência de um caderno chamado "O Perfeito cozinheiro das almas deste mundo", colocado na entrada da garçoniere de Oswáld, na qual seus amigos e contatos (como Guilherme de Almeida, Vicente Rao, Inácio da Costa Ferreira, Sarti Prado, Edmundo Amaral, Pedro Rodrigues de Almeida, Leo Vaz e Monteiro Lobato.... e também por Maria de Lourdes Douzani Castro (Daisy ou Miss Ciclone), uma normalista de 18 anos...)quem tem esse nível de relação só poderia ter reunido depoimentos dos que o visitavam, registros escritos, desenhos, versos, etc...
Em 1987 este "livro" foi publicado em edição fac similar, com pouquíssima tiragem... mas é daqueles livros que, caso você o possua, faz a vida valer a pena! Achei
aqui alguns conteúdos do livro, colo-os :
"-A mulher é a costela de Adão, o sopro de Deus e a saudade da Serpente. (João de Barros)


-... ou a saudade de Deus, o sopro de Adão e a costela da Serpente. (Miramar)


-O perigo do engasgo de Adão não foi ter sido com a maçã e sim com a própria costela. (M)


A Cyclone é a quarta virtude teologal. (CV)


É o pecado imortal. (Miramar)


Os beijos da Cyclone descendem em linha reta e sempre varonil dos beijos de Lucrécia. (Jeroly)


Os abraços dos abraços do tamanduá na parede. (M)


Miss Cyclone, meu "Vermouth Cinzano" dos ágapes "pinianos"... (Jeroly)


Lagarta rosada do meu algodoeiro! (M)


Monteiro Lobato dos opilados! (Jeroly)


Daisy é o pirão deste menu. (M)


Pensamento inconfessável de Cyclone: "Às meias luzes eu prefiro as meias de seda". (Miramar)


Madrigal itaporanguense: "O fogo da mulher amada não queima, ilumina". (M)



Decididamente, este covil sem Cyclone é inútil como um gramofone sem discos. (Ventania)


O covil sem a Cyclone... eu preferia, no entanto, a Cyclone sem o covil. (M)


A "mão real d'unhas perfeitas" da Cyclone é o resultado de cinco séculos de ociosidade (isto já disse Balzac). (V)


Cyclone voltou! No grande olhar desfalecido traz a vermelhidão tracômica de velhas noites de libertinhagem...


Cyclone voltou! Musa gavroche do vício ligeiro..." (V)


Cyclone voltou! No vulto desmoronado do Braz-Montmartre, das noites rubras da "Boite-à-Fursy"... Lucie-la-Pompe dos trottoirs lamacentos da Avenida Celso Garcia! Juliette Roux do Gasômetro! Nunca mais assim.


Cyclone não vem. De sua última visita, tumultuosa, incoerente, vazia, me ficou a última frase: - Não acredites mais num homem para que não fiques sabendo que existe mais um cão sobre a terra.


Daisy, minha carrocinha! (Garoa)


Esse é o meu guia e espião: arranjei um namorado japonês que possui o lindo nome de Harussam (sobrinho de cônsul japonês), vê que sorte! (Cyclone)


Há dias que um opilado de bigodinho amola o Fiori com perguntas sobre o "Nhacio" e o "otra moço". Não há dúvidas, é o japonês da Cyclone. (G)


O Oswald me fez esta revelação: a Cyclone contratou o Spencer Vampré para traduzir as doçuras amorosas do amarelinho. (JB)


Sabes porque a Cyclone se casa com japonês? Porque gosta de "amar eles". (Gtroçadilhista)


A Cyclone escreveu que ela é a esfinge do Brás; o japonês é a oitava praga d'aquele Egito. (Homem)


Chego; toda atarefada no casaco d'inverno, busco em toda esta esplêndida "garçoniere" os vultos amigos dos meus rapazes. Mas qual, nem um sequer a quem dar um beijo rápido de chegada. Muito grata, meus queridos pelo lindo presente. Estou com febre 38 ½!! (não se assustem). Até 3ª feira às 11 horas; aprontem o almoço "a Trianon" que virei passar aqui toda a "matinée". Perdoem. (Cyclone - estou com uma dor de dentes).


Chego ainda a tempo de vê-la galgar ligeira o estribo poeirento de um bonde e mergulhar, com a lentidão do monstro de ferro, n'esse abismo brumoso da várzea que faz supor, para lá, no bastidor do crime das vielas, a existência de romance em que ela se obstina. Com uma timidez de potache, murmurei-lhe entre os dentes um "bom dia" idiota. Ela nem sorriu nem olhou. Partiu... Pela primeira vez, percebi uma coisa séria - que ela me faz falta. (Mirabysmo)


Toda a psicologia complicada de uma mulher está num efeito de má óptica - elas dão grande valor às coisas mínimas e com isso nos contrariam e às vezes nos assombram; às coisas realmente grandes dão o valor mínimo e por isso nos perdem. (G)


uA minha vida é assim: eu começo a fumar, você acaba... (G)



uCyclone disse que estava aqui às dez, é mentira. Até logo! Já volto. (G)


Garoa chegou de chapéu trocado e ar esbugalhado. Nova aventura. (Vivi)


Cheguei cá às 9 horas: ninguém. Telefonei para a "Gazeta" a perguntar por Miramar: - Ainda não chegou? perguntei... anda gazetando não?... e responderam-me: - Sim senhora, ele escreve na Gazeta! (Cyclone)


Versos da Cyclone: "Eu sou como uma cobra cascavel! Sou tratada a pontapé!". (Cyclone)


A mulher não é nem o que quer. (Cyclone)


Precisamos acabar este livro. Precisamos - Porquê? Porque precisamos. O Fiori subiu o aluguel do quarto. Agora é 280$000 - um terno no Carnicelli. Vamos nos mudar, sim. Para onde? Na casa do conde. Do de Prates? Seja. A Pira desistiu. O Metropol faliu? Faliu.


A Cyclone foi-se embora. / Estou triste, Miramar chora, / Ferrignac resiste / O Leu insiste: / Foi embora? / Viruta: ora!


Eu não ficarei lá. Voltarei dentro de 1 mês. Naturalmente ficarei o resto de agosto. Quero que me escrevas para lá. (Cravinhos - Caixa do Correio 19. M. de. L. Pontes. Ao cuidado do Snr. Ignácio da Costa). Eu responderei para a Gazeta, porque o nosso retiro já é conhecido deles. Caso possa te telegrafarei da 1ª estação. Guarda as memórias contigo. Adeus. Beija a cabeça da pobre Cyclone.


...e o livro se fecha silenciosamente, com a prestigiosa atração das cousas silenciosas: "mon silence est ma force... (M)


E tanta vida, bem vivida, se acabou. (Cyclone) "

Vocês sabiam dessas coisas: Eu não sabia! Amei!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

SIMBOLISMO GUIMARÃES ROSA, MAIS UMA VEZ ...

Eu, como pesquisadora de Guimarães Rosa, estou bem interessada no Simbolismo...
Pesquisando na internet, achei isso aqui:
"O que caracteriza a poesia simbolista?
Na França, a poesia da segunda metade do século XIX assumiu duas formas: o Parnasianismo e o Simbolismo. Os parnasianos consideravam um poema o fruto de um exaustivo trabalho de sabedoria e perfeição rítmica e musical que pretendia descrever objetivamente a realidade. Da evolução do Parnasianismo surgiu o chamado Simbolismo, que queria fugir da rigidez estética parnasiana em direção a uma poesia mais livre nos temas e na forma. Seu objetivo era ter como base a sugestão, a criação de imagens fluidas e a apresentação subjetiva da realidade, expressa pelo uso de sinestesias e metáforas sutis."


Acho isso tão interessante!
Leiamos, agora, as palavras do próprio Rosa a Günter Lorenz:

"Escrevi um livro não muito pequeno de poemas, que até foi elogiado. Mas logo, e eu quase diria que por sorte , minha careira profissional começou a ocupar meu tempo. Viajei pelo mundo, conheci muita coisa, aprendi idiomas, recebi tudo isso em mim; mas de escrever simplesmente não me ocupava mais. Assim se passaram quase dez anos, até eu poder me dedicar novamente à literatura. E revisando meus exercícios líricos, não os achei totalmente maus, mas tampouco muito convincentes. Principalmente, descobri que a poesia profissional, tal como se deve manejá-la na elaboração de poemas, pode ser a morte da poesia verdadeira. Por isso, retornei à 'saga', à lenda, ao conto simples, pois quem escreve estes assuntos é a vida e não a lei das regras chamadas poéticas. Então comecei a escrever Sagarana. Nesse meio termo [entre os poemas de Magma e Sagarana] haviam transcorrido dez anos, como já lhe disse; e desde então não me interesso pelas minhas poesias, e raramente pelas dos outros. Naturalmente digo isso, porque é um dado biográfico, pois não aconteceu que, um belo dia, eu simplesmente decidisse me tornar escritor; isto só fazem os políticos. Não, veio por si mesmo; cresceu em mim o sentimento, a necessidade de escrever e, tempos depois, convenci-me de que era possuidor de uma receita para fazer verdadeira poesia."(Diálogo com Guimarães Rosa. P.70)
Não parecem posições semelhantes?
Eu acho!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Orquestra Românticos de Cuba



Eu não tenho muita paciência com romantismo, não sempre, mas quando eu ouço coisas como a Orquestra Românticos de Cuba penso como pode alguém não gostar de romantismo?

sábado, 9 de janeiro de 2010

A GRAMÁTICA E OS PROBLEMAS DE LINGUAGEM

Eu não sou uma pessoa ignorante ou preguiçosa, sou uma leitora assumida desde a infância, e uma estudante quase profissional e qual não é minha surpresa ao perceber que eu - e não sou a única nessa situação na pós graduação - tenho sérios problemas em me expressar na forma escrita.
Não me faia muito mal levantar este questionamento aqui neste blog: Qual o motivo disso?
Quero entender, de verdade... seria um problema de má formação? Até pensei nisso e,humildemente, comecei a refaze "cursos" de gramática e redação e qual não foi minha surpresa ao observar que o problema não é "não saber as regras", mas que elas - por algum motivo inexplicável- não foram completamente automatizada na minha comunicação! (sim, acho que sou uma rebelde gramatical)
Mas e se eu não quiser mais isso? Não adianta, não tenho a menor possibilidade de escolha.
Também tem a relação com o tempo da escrita... esse tempo imediato do mundo "internético" me afoga de informações e eu penso que a cabeça dos cientistas humanos são como árvores que precisam de duração para produzir bons frutos.
Mas esse problema - em uma pessoa como eu- é no mínimo um paradoxo: Amo a linguagem escrita!
No interessantíssimo livro de Lewis Carrol Alice no país do Espelho, viajando em um trem onde deveria pagar o bilhete ao maquinista e era muito caro, ela pensa "Ora, nem vale a pena falar" e as vozes não reponderam em voz alta, porque ela só havia pensado, então todos responderam 'em coro' de pensamento "Melhor não dizer coisa alguma. A linguagem vale mil libras por palavra!"
E as minhas? Por enquanto não estão valendo nada.
Mas então faço a pergunta mais vezes formulada pela humanidade: Para que estou viva se não posso formular minha narrativa? Eu posso fazer isso aqui... apenas.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Guimarães Rosa e o simbolismo?

Sim, sim, sim, sei que essa relação pode parecer inaceitável a qualquer concepção conteudística de literatura (eca)...isso porque Guimarães Rosa, se for imprencidível enquadrá-lo em alguma escola literária, foi um modernista muito crítico, mas um modernista: É inegável que respirou o mesmo "oxigênio mental" de um James Joyce -o que para mim é claro, especialmente quando considero a relação com o universo infantil...
Mas se os modernistas da primeira geração- precisando destruir as escolas anteriores, sobre as quais queriam vigorar, supervalorizaram aspectos formais e ridicularizaram os simbolistas pelo seu afã de valorizar aspectos supra-racionais do Homem através da busca pela subjetividade ou a imaginação que revelariam aspectos inconscientes - na segunda geração modernista, o caráter iconoclasta cedeu lugar a perspectiva de observação da realidade social e política, para que na terceira geração modernista pudessem surgir pensamentos que resgataram e recompuseram as idéias como as dos simbolistas:Falo de Clarice Lispector e também de Guimarães Rosa.
Mas por quê?
O Movimento literário conhecido como Simbolismo trazia para a literatura os questionamentos epistemológicos de sua época - fins do século XIX e começo do XX até a Primeira Guerra, quando se começava a duvidar dos benefícios da racionalidade.

Para Clarice Lispector, por exemplo, o reaproveitamento de técnicas simbolistas pode ser observado no constante questionamento do subjetivo e muitas outras coisas sobre as quais não tenho condições de comentar muito bem.
E para Guimarães Rosa?
Como sempre, em se tratando de Rosa, as coisas não são nada simples, isso porque em sua escrita, sempre, vigora o paradoxo!Por que isso?
Sabemos que a escrita de Rosa foi sempre preocupada com a oralidade do sertanejo - são famosas as cadernetas de viagem pelo sertão, onde ele teria anotado as composições lingüísticas que ouviu- e daí resulta em uma performance escrita muito diferenciada,que se permitia adotar a imprecisão de certas palavras, valorizando seu aspecto sonoro, para nos reportar ao indizível, em outras palavras, a performance escrita era bastante MUSICAL, em uma nova espécie de nefelibatismo (que para os simbolistas era "andar com toda a cabeça nas nuvens"). A diferença estava no fato de que os modernos da terceira geração já não queriam mais somente observar a realidade não somente a partir da destruição formal (como na 1a. geração) ou somente da reconstituição crítica direta ( como na 2a.geração), mas era preciso escolher uma perspectiva de observação onde fosse possível integrar ambas as técnicas em uma imensa consciência estética expressa pelas palavras, onde o universo lingüístico ultrapassou as informações dos dicionários, pois usou a construção de um grupo semântico que contruiu seus próprios referentes, subjetivando a escrita literária. Assim que Guimarães Rosa instalou-se sobre o sertão, mas criou personagens sertanejas que ultrapassavam a terra do sertão : iam ao seu EU profundo, ao sonho, ao simbólico, como Alfredo Bosi lembrou em seu texto referencial:partiam "do inferno para o céu".
Olha, não sei mesmo se alguma dessas coisas que eu escrevi aqui fazem algum sentido -só sei que eu não consegui pregar o olho até agora pensando nelas-o tempo dirá se desse a mato sai algum coelho...

Resumo do projeto de doutorado " Infância é coisa, coisa?- Crianças inventam sentidos para a História na obra de Guimarães Rosa" (PROVISÓRIO)

"A proposta desta pesquisa de doutorado é a de tentar encontrar um lugar legítimo para a História na obra de João Guimarães Rosa, considerando as possibilidades e conflitos do seu tempo. Sugerimos que um dos diferenciais mais fortes da escrita rosiana está em sua aproximação do ponto de vista infantil, que aparece em representações lingüísticas e imagéticas em sua escrita literária e também em documentos paralelos como correspondências. Nosso enfoque supõe que esta preocupação com a percepção infantil,para dar conta de novos olhares sobre a História em um período no qual sua legitimidade sofreu forte questionamento, também foi algo percebido por outros nomes importantes do século XX, como James Joyce e Walter Benjamin, entretanto ainda não foi tema de nenhuma pesquisa de grande fôlego a partir
da obra rosiana, como estamos projetando."

SEMPRE ESQUEÇO O ANEXO!

É VERDADE, EU SEMPRE ESQUEÇO O ANEXO DOS E-MAILS! (rs)
O pior é que mesmo sabendo disso, eu nunca lembro de conferir... que interpretação psicológica eu posso ter disso? rsrsrs

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Quiromancia, livre arbítrio e gêmeos coloridos

Uma mulher "leu" minha mão no Natal e me disse que nela não está escrito que eu terei filhos, mas só que eu irei para fora do Brasil!
Que puxa! Peguntei se eu não podia "trocar" a viagem por filhos...? (rs)
Ela disse que tenho o livre arbítrio e as linhas podem mudar... achei ótimo, porque essa minha pesquisa sobre infância me faz pensar tanto em filhos!
Claro que não à qualquer preço, não sem pai, sem condições financeira e emocional para dar suporte a eles, mas eu ando me preparando tão bem e é a imagem de bebês que , já cerca de dois anos depois de produzida, sempre me arranca um sorriso é a dos gêmeos alemães, cada um de uma cor, como se dissessem: SOMOS TODOS IGUAIS, VEJA QUE NÓS VIEMOS DO MESMO VENTRE:

Para que brigar? Por quê, ao invés disso, não brincamos? (rs)

ALICE E OS TEMPOS

Depois de velha, estou relendo na íntegra, com atenção aos detalhes o inesquecível livro Alice no País das Maravilhas, para minha pesquisa, claro...
Quando tentei usar a História de Alice no País das Maravilhas para diminuir o estranhamento de crianças de onze anos que, na quinta série, precisam entender um tempo passado muito mais longo do que sua vida e da sua família, como a Idade Média... não adiantava falar "Mas tudo isso que te conto foi há mil anos atrás e as soluções que encontramos hoje em dia, valem para hoje, mas podem não valer para mil anos atrás", só que conforme nos explicou Piaget, pra quem tem onze, essas coisas são incognicíveis!
Qual era minha idéia? Era relacionar esse longo passado ao País das Maravilhas: Lá, também, Alice não conseguia resolver seus problemas como fazia na sua Europa vitoriana real onde vivia, esse tipo de solução só lhe causava mais problemas!
Mas eu percebi que a Alice não era tão conhecida das crianças brasileiras (pelo menos por agora, antes que Tim Burton a transforme em um ícone tipo Hello Kitty)
Mas as idéias da história são muito ricas, muito mesmo!
Essa história de mudar de tamanho o tempo todo é tão verdadeira, não é?
Todos temos dias que crescemos dois metros e meio, mas logo podemos diminuir e medirmos vinte centímetros (e corremos o risco de afogar no rio de lágrimas que choramos quando estávamos com dois metros e meio)
Isso vale para agora, e para pessoas de todas as idades!
Mas Alice começa o livro com um comentário bem típico de crianças, muito sincero:
"E de que serve um livro sem desenhos ou diálogos?" (rs)
Ora,embora Alice achasse isso na Inglaterra vitoriana, no Brasil -como esclareceu Mariana Cortez - "o início do desenvolvimento da ilustração começou em meados dos anos 70 do século XX" e a análise dos livros infantis destinados a crianças entre 07 e 11 anos leva a concluir que crianças "lêem com absoluta precisão os elementos imagéticos e é a palavra [escita] que se torna um possível fator de dificuldade" (CORTEZ, Mariana. Palavra e Imagem Pp.12/3)
Mas isso é muito verdadeiro- digo a partir da minha experiência com as crianças e Guimarães Rosa entre 2003 e 2004: Elas queriam REPRESENTAR EM IMAGENS tudo...e como estavam em fase de alfabetização, toda palavra escrita lhes era desafiadora: a de Guimarães Rosa era tanto quanto a de Ruth Rocha!
Incrível, né?

sábado, 2 de janeiro de 2010

Representações de crianças...


Escrevendo o projeto de pesquisa de doutorado, coloquei claramente uma grande questão proposta na apresentação do livro "Os intelectuais na História da infância" : Sendo um trabalho de história, ao estudar o tema infância na obra de Guimarães Rosa eu deveria especificar claramente no projeto se se trata de uma proposta de trabalho sobre "História da Infância"- então me debruçaria sobre a concepção ou a representação que os adultos fazem sobre o que foi vivido pela criança ou sobre "História da criança"- que seria a história da relação das crianças entre si e com os adultos, com a cultura e a sociedade... entretanto, esclareci que não estou propondo a investigação de ‘crianças’ ou ‘infâncias’ reais, mas de representações delas feitas pela obra rosiana, que parece se encaixar em ambas as formas ...
Mas porque é tão importante a representação?
Vamos considerar duas formas de representação de crianças em evidência: O filme da Xuxa "Mistério da feiurinha"; e o novo CD da Adriana Calcanhotto Partimpim 2 ... quero escrever agora sobre eles, porque ainda não ouvi completamente o CD, e o filme ainda não assisti... depois de entrar em contato com ambos, volto a falar sobre eles- caso me sejam interessantes...
Em princípio, um parece ser o oposto do outro: Xuxa, ao pensar em um filme sobe o livo do Pedro Bandeira, está decodificando e entregando nas mãos da criança todo o universo de antigas tradições infantis - o dos contos de fadas - e elas vão gostar (etimologicamente, infância diz respeito a seres que ainda não tem poder de decisão sobre seu destino ou gosto) - e podemos lembrar das palavras de Alice, de Lewis Carrol:"de que serve um livo sem figuras nem diálogos?", então o filme de Xuxa estaria "reforçando" essas questões?Não sei... penso que não, que as crianças gostarão de tudo, porque tudo é mágico para elas, mas não saberão, por enquanto, que tendo acesso a essas coisas, estarão perdendo a oportunidade de fazer aquilo deveriam ser incetivadas a fazer tempo todo : Criar!
Já no disco da Adriana, tomando pelo excelente site do disco - no qual somos incentivados a criar o tempo todo - e um pouco pelo primeiro Partimpim e pelas quatro músicas do novo que eu já ouvi, a representação caminha por caminho oposto:Mergulha-se fundo no universo de significados e sonoridades das crianças, trazendo à tona os animais como a gatinha manhosa,o cotidiano como musicando o Alface, componente de todo almoço, da afetividade quando o amor é destaque da canção "Menino menina" e fazendo a relação desses temas tão "História da criança", a representação introduz o tema da História da Infância, com a música "O Homem deu nome a todo os animais"... dando nome, inseriu-os na narrativa.
O texto que eu mais gostei desde que e enveredei pelos caminhos da decifração da infância foi a apresentação de Sebastião Salgado para seus Retratos de Crianças do Êxodo, que eu postei na íntegra aqui...
O texto- assim como as fotos - não representa crianças ou infâncias, as apresenta não como seres tolos e fofinhos, mas sim como seres que estão vivendo e sobrevivendo a dores insuportáveis até a homens adultos...para nos aproximarmos delas é preciso mais sensibilidade. Como diz meu orientador - que não é um partidário de nenhuma concepção política nem da esquerda, nem da direita- não vamos resolver todos os problemas da Epistemologia ou da História Social, antão porque não apostar em novos olhares, menos duros, se for o caso?
Guimarães Rosa, para quem, segundo Luiz Costa Lima,"o mundo é mais do que crueldade" escreveu em "Pilimpsiquice", que "Representar é aprender a viver além dos levianos sentimentos, na verdadeira dignidade."
Esse é o meu autor e eu sei que tudo isso que eu penso ainda está confuso, mas estou apenas no começo do raciocínio ainda...
O que você acham?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

VIRADA 2009-2010


Enfim 2009 - esse ano complicado -acabou!

Mais uma vez eu estive no Réveillon da Paulista, desta vez com mais 2 milhões e quinhentas mil pessoas - eu não acreditava que seria possível, mas estava ainda mais cheia que no ano passado!

Mas nesse ano me diverti muito mais: Muito "amor"- talvez até demais para uma balzaquiana- e alegria!

Na hora da queima de fogos achei que estava ainda mais bela que no ano passado e foram naqueles quinze minutos de virada que a garoinha virou chuva, mas achei ótimo, pois estava sentindo que estava sendo limpa das ziqueziras de 2009!

Nessa hora eu estava ao lado de duas crianças e achei inesquecível olhar para os olhinhos encantados delas ao ver os fogos, os papéis brilhantes caindo por 15 minutos seguidos e cada vez que os fogos davam um tempo de alguns segundos, elas diziam decepcionadas "já acabou?"...

A festa deste ano foi ao som de samba e é disso que o povo gosta (não do KLB chatíssimo), confiram e pensem numa pessoa que se acabou de dançar:




Eu "sai do corpo" (como diz um amigo meu) ... espero que 2010 seja como foi a Virada: Tudibom!
Feliz 2010 a todos nós!