quarta-feira, 29 de maio de 2013

Criança crionça e o nonsense para crianças

Este CD é delicioso, eu amo! Se quiser saber mais, acesse este link. Hoje eu achei esta resenha, escrita por Carlos Adriano, que explica muita coisa sobre ele, copio ela abaixo:


CANÇÃO E POESIA
Nonsense para crianças
Por Carlos Adriano
Cid Campos faz versões musicais de textos de Edward Lear, Lewis Carroll, Augusto de Campos e Paulo Leminski

Fazer arte para criança não é brincadeira. Por mais que elas adorem artes, manhas, bricolagens e desmontagens de jogos (o prazer do batoteiro bakhtiniano), e os adultos teimem em tentar adivinhar como agradá-las, surpreendê-las e educá-las.
Se o desenho permite às crianças um grau de empatia imediata pelo reconhecimento (do) visível, a música opera em esfera abstrata e menos aparente, livre da representação do mundo. Sem as conveniências da identificação da visualidade e da absorção inconsciente da música, a literatura, por jogar justamente com palavras, enfrenta outras armações para falar à criança, do aparato lógico de código às convenções da linguagem verbal.
Os dois escritores que mais se empenharam em desmontar os artifícios das palavras e das gramáticas tendo como suposto público-alvo as crianças –e que lograram executar a tarefa com um artesanato de humor lúdico– são homenageados pelo músico Cid Campos em seu CD recém-lançado “Crianças Crionças”.
Poemas de Edward Lear (1812-1888) e de Lewis Carroll (1832-1898) traduzidos por Augusto de Campos, pai de Cid, formam o núcleo do disco lançado pelo Selo Sesc (R$ 15,20). Na ciranda-constelação, rodam ainda poemas do próprio Augusto, de Haroldo de Campos (1929-2003), de Luis Turiba, de Paulo Leminski (1944-1989) e de Walter Silveira.
Os textos dos dois escritores ingleses da era vitoriana eram destinados (ou assim se faziam crer, ou assim se queria acreditar) à leitura das crianças, mas, por outros sentidos graças a trocadilhos e jogos de linguagem, sua voltagem de invenção e ironia atraiu a literatura e a crítica da alta modernidade.
Edward Lear é considerado o criador do gênero “nonsense”. Suas obras “A Book of Nonsense” (1846) e “Nonsense Songs, Stories, Botany and Alphabets” (1871) contêm poemas e ilustrações de sua autoria. Lewis Carroll (1832-1898) é o celebrado criador de “Alice no País das Maravilhas” (1865) e “Alice Através do Espelho” (1872) e seu gosto pela fotografia ilustra seu escopo com a imagem.
Mas a era vitoriana não nos deu apenas o “nonsense”, os “limericks” de Lear e as “portmanteau words” de Carroll. Numa época em que assistiu as diversões assumiram-se como espetáculos urbanos e populares (teatros de variedades e projeções de lanterna mágica, por exemplo), o período foi pródigo em exibir uma sorte de gadgets e dispositivos de ilusão por imagens ópticas e mecânicas que conjuraria (n)o cinema.
Émile Reynaud (1844-1918) foi o criador do engenhoso Teatro Óptico, que apresentava no Musée Grévin (Paris) suas “pantomimas luminosas”. O papel de pioneiro do cinema imprimiu-se pelo seu dispositivo: a projeção de filmes pintados e desenhados sobre uma banda flexível com imagens sequenciais, de inspiração infantil e juvenil. Um de seus filmes mais famosos foi o poético “Pobre Pierrot!” (1892).
Não era um espetáculo propriamente para crianças, mas é impossível não se deixar encantar pela tentação de correspondências entre o olhar daqueles espectadores que testemunhavam a inauguração de uma forma de imagens em movimento (nos tempos do pré-cinema e do cinema dos primeiros tempos) e o olhar virgem de uma criança.
Não se insinua aqui uma analogia entre distantes e diferentes tempos históricos, mas sugere-se uma im/provável hipostasia poética. É óbvio e natural que a percepção de crianças do fim do século 19 guarda um abismo de especificidades e diferenças com relação à percepção de crianças do início do século 21.
Hoje as crianças já nascem dominando a cultura do “copy & paste”, a bricolagem digital é quase intuitiva e natural, não gera nenhum espanto ou maravilhamento como as invenções optico-mecânicas de cem anos atrás. Mas é curiosa a correspondência entre o olhar (por essência e natureza) tabula-rasa de uma criança e o olhar não-domesticado (e não ingênuo) do espectador que via nascer a projeção de imagens em movimento.
É possível entender a bricolagem digital ("copy, cut, paste") como uma extensão genérica do cinema de animação, que não é só desenho animado, mas, sobretudo, já na origem, efeito, truque, trucagem, expedientes que funcionam como plataformas da aventura da fantasia e fazem a imaginação viajar. O espírito da bricolagem não deixa de ser um contraponto à descontrução do espírito do batoteiro.
O primeiro artista do gênero foi Georges Méliès (1861-1938), prestidigitador amador que comprou o teatro de Robert-Houdini e encenava a magia do dispositivo, em filmes como “Viagem à Lua” (1902) e “Viagem Através do Impossível” (1904). Émile Cohl (1857-1938) foi pioneiro da animação, com filmes de desenho animado e filmes que usavam a colagem, como “Fantasmagoria” (1908) e “Drama Entre os Fantoches” (1909).
Pelo teor dos textos e o tratamento musical, “Crianças Crionças” evoca essa sensação de um leitor-ouvinte estar descobrindo algo em seu momento inaugural. Os arranjos filiam-se à operação de bricolagem, pelos procedimentos digitais de produção e composição de música atualmente. A sobreposição de melodias e timbres e o humor da mixagem propõem rimas ao nonsense, às rodas de brincadeiras, ao bricabraque das crianças.
Os poemas e jogos de linguagem e de sentido foram trabalhados musicalmente por Cid Campos em arranjos de balada e salsa, blues e bossa nova, xote e country. Das 15 faixas, 7 são compostas de traduções (ou versões) de Lear (“A Pata e o Canguru”, “A Mesa e a Cadeira”, “Alface”) e de Carroll (“Canção da Falsa Tartaruga”, “Recado aos Peixes”, “Poema-cauda”, “O Mocho e a Gatinha”), realizadas por Augusto de Campos.
As traduções de Lear feitas por Augusto são inéditas em livro, incluindo a quadra “Do ‘Auto-Retrato de Edward Lear’” (de “How Unpleasant to Know Mr. Lear”; a tradução do poema inteiro também permanece inédita), que funciona como epígrafe introdutória no encarte, mas não foi musicada.
As traduções de Carroll feitas por Augusto estão todas (a partir de trabalhos de 1971 e 1973) em “O Anticrítico” (1986), com o estudo em “prosa porosa” “Lewis Carroll: Homenagem ao Nonsense” e quatro traduções, entre elas a radical “Jaguadarte”, que Arrigo Barnabé musicou e Tetê Espíndola gravou em “Pássaros na Garganta” (1982).
“Canção da Falsa Tartaruga” e “O Mocho e a Gatinha” foram gravadas por Adriana Calcanhotto, em “Partimpim” (2004), com Cid fazendo a segunda voz. Calcanhotto entusiasmou-se ao ouvir “Alface” no estúdio do músico e gravou-a em “Partimpim 2” (2009), que traz ainda a composição de Cid para “As Borboletas” de Vinícius de Moraes.
“A Pata e o Canguru” (“'A minha vida é muito chata, / Estou cansada de ser pata. / Quero você pra meu guru!’ / Disse a pata pro canguru”) e “A Mesa e a Cadeira” (“‘Que tal dar uma saída, / Bater papo, isso é que é vida! / Vamos, chega de madeira!’ – Disse a mesa pra cadeira”) são duas baladas sobre improváveis cantadas de bichos e móveis.
Em “Alface” (“Alface! Ó alface! / Faça-se, ó faça-se. / Ó alface, afinal, / Faça-se o nosso al- / Moço, face a face, / Ó alface!”), a rotação da canção sobre si mesma (pela linha melódica e pela textura dos instrumentos) sugere o sentido espiral da figura da verdura e da aliteração das palavras.
A harmonia da “Canção da Falsa Tartaruga” parece mover-se no mesmo passo em falso do ralentar do réptil, fazendo da escansão dos versos e da defasagem na sobreposição de versos tateios de um rastro em busca de bocados (“Quem não daria tudo só para beliscar essa bela sopa?”).
Em “Recado aos Peixes”, a música sibilina em acorde com a hesitação da ação e a suspensão de sentido: “Saquei então de um saca-rolhas / E fui eu mesmo atrás das bolhas. / E ao ver a porta já cerrada, / Bati, toquei, topei, que nada! / E ao ver a porta ali, zás-trás, / Girei a maçaneta, mas...”.
A fisionomia gráfica de “Poema-cauda” equivale à divisão frásica de trocadilhos e à modulada escala vocal, em batida country: “Disse o / Rato pro / Gato: / – Um julga- / Mento / Tal, sem / Juiz nem / Jurado, / Seria um / Dispa- / Rate. / – O juiz / E o jurado / Serei eu, / Disse / O gato, / E tu, / Rato / Réu / Nato, / Eu con- / Deno / A meu / Prato”.
A harpa midi e o vibrafone em “O Mocho e a Gatinha” geram um contraponto de extrações sonoras para outro conto de namoro: “O mocho e a gatinha foram pro mar / Num lindo bote verde-ervilha. / Eles tinham mel e grana a granel / E uma nota de uma milha”.
Além das versões de Lear e de Carroll, o disco traz dois poemas inéditos de Augusto, feitos para este disco: “Criança Crionça”, inspirado nas palavras do poema-desenho de sua neta (e filha de Cid) Julie, e “A Gaita do Jabuti”, inspirado numa lenda tupi de “O Selvagem” (1876), de Couto de Magalhães, e adaptando-a para fazer soar a gaita, curiosamente um instrumento tocado por Augusto, na faixa “Flor da Boca” do disco de Cid “No Lago do Olho” (2001).
Outra letra de Augusto, “De Ninar” foi gravada por Cid em “Canções de Ninar” (1992) da dupla “Palavra Cantada” (Sandra Peres e Paulo Tatit), que viria a se especializar em músicas infantis. O novo CD de Cid traz ainda poemas de Haroldo de Campos (“A Gata Lady Bi”), Luis Turiba (“Ver (durinhas), Frutóides e Legu (mimosas)”), Paulo Leminski (“A Lua no Cinema”) e Walter Silveira (“O Desafio”, “Garça”).
A canção “Criança Crionça” vale-se da metamorfose de moda de viola, combinando violão, viola 10 cordas, mandolim e harpa midi às vozes de Cid e Leo Cavalcanti (que participa dos vocais em outras nove canções), nas pistas das manchas que camuflam e enganam os sentidos: “Mas uma criança / Chamou a responsa / Criou uma dança / A dança da onça / Criança crionça / Crionça criança / Dançando essa dança / A onça desonça / Despança / Dispensa / Sua comilança / E hoje só pensa / Em dançar a dança”.
Em “A Gaita do Jabuti” (“Jabuti tinha uma gaita / E saía pela mata, / Tocando todo janota. / A onça, invejosa-nata, / Queria, queria a gaita / ‘Me dá tua gaita, jabota!’”), o arranjo dispõe do instrumento do título e do banjo para deixar respirar e engraçar as rimas em “ata” e “ota”.
Para encerrar o CD, “De Ninar” (“Na água parada / O peixe não faz nada / Nada nada nada / E a criança o que faz? / Dorme dorme dorme / Que amanhã tem mais”), em que os sentidos de substantivos e de verbos embalam o acalanto composto por viola, sanfona e percussão.
Uma primeira audição geral dá a impressão de que as canções escapam de um previsível tom infantil que se convencionou adotar para produções do gênero. O teor da infância parece residir mais nas texturas dos textos, com suas brincadeiras de linguagem, e nas texturas musicais, com suas combinações de ritmos, melodias e harmonias, o que cria um tom de estranhamento afinado ao tom do nonsense.
No texto que apresenta o disco e consta do encarte, Adriana Calcanhotto, que adota a persona de Partimpim em seus discos para crianças, aponta a fluidez e a naturalidade das canções conseguidas por Cid a partir de poemas de métrica intrincada e invenção vocabular, e lembra a íntima convivência do músico com a poesia, já em família.
Neste ano, em que lançou na revista "Errática" o clip-poema “TVGRAMA 3” e o poema-filme “Statue of Victory: Profilograma” (roteiro sousandradino de bricolagem de imagens que contou com a contribuição musical de Cid) e publicou dois livros de tradução de poesia – “Byron e Keats: Entreversos” (ed. da Unicamp) e “August Stramm: Poemas Estalactites” (ed. Perspectiva) –, Augusto de Campos também assina o projeto gráfico do CD, como costuma fazer com seus livros.
Além de ilustrações de sua autoria, Augusto valeu-se dos desenhos de Lear e de John Tenniel (1820-1914), considerado o melhor ilustrador de Carroll. Na capa do CD e reproduzido no encarte com variações cromáticas, um poema-desenho de Julie Bozon de Campos, filha de Cid e neta de Augusto, feito quando tinha sete anos.
Por que um CD como “Crianças Crionças” não é adotado como material didático nas escolas? O selo Sesc já atesta o estatuto educacional do produto e o timbre da literatura musicada, com o lastro de criação e competência de um dos maiores poetas e tradutores da língua portuguesa, é outro atributo que justificaria que um CD como este tocasse nas salas de aula e tocasse também com outros sons o processo de aprendizagem.
Com seus poemas e desenhos, mas também com seu projeto ideológico, o “Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade” (1927) apontava para um sentido órfico que faria, de cada um e de todos, alunos de poesia, alunos de música, alunos de artes. Ver com olhos livres, ver o novo com olhos novos.
Talvez haveria aí um ideal romântico, à la Rousseau, de tomar a “criança” como depositária de uma nostalgia progressista, parâmetro de uma condição de pureza do olhar e da escuta (ainda que “impuros” sejam os meios e as formas, no sentido que a mixagem e miscigenação digital propagam a contaminação de formas e suportes).

domingo, 26 de maio de 2013

Brasil - descrição fisica e politica. [Millôr Fernandes]

Brasil - descrição fisica e politica. [Millôr Fernandes]
O Brasil é um país maior do que os menores e menor do que os maiores. É um país grande porque, medida sua extensão, verifica-se que não é pequeno. Divide-se em três zonas climáticas absolutamente distintas: a primeira, a segunda e a terceira, sendo que a segunda fica entre a primeira e a terceira. As montanhas são consideravelmente mais altas que as planícies, estando sempre acima do nível do mar. Há muitas diferenças entre as várias regiões geográficas do país, mas a mais importante é a principal. Na agricultura faz-se exclusivamente o cultivo de produtos vegetais, enquanto a pecuária especializou-se na criação de gado. A população é toda baseada no elemento humano, sendo que as pessoas não nascidas no país são, sem excessão, estrangeiras. Na indústria fabricam-se produtos industriais, sobretudo iguais e semelhantes, sem deixar-se de lado os diferentes. No campo da exploração dos minérios, o país tem uma posição só inferior aos que lhe estão acima, sendo, porém, muito maior produtor do que todos os países que não atingiram o seu nível. Pode-se dizer que, excetuando seus concorrentes, é o único produtor de minérios no mundo inteiro. Tão previlegiada é hoje a situação do país, que os cientistas procuram apenas descobrir o que não está descoberto, deixando para a indústria tudo que já foi aprovado como industrializável, e para o comércio tudo o que é vendável. Na arte também não há ciência, reservando-se esta atividade exclusivamente para os artistas. Quanto aos escritores, são recrutados geralmente entre os intelectuais. É, enfim, o país do futuro, sendo que este se aproxima a cada dia que passa.

Eu vou te contar uma estória...

sábado, 25 de maio de 2013

Cartas que crianças escreveram ao Monteiro Lobato

Na deliciosa tese "Pequenos poemas em prosa: vestígios da leitura ficcional na infância brasileira, nas décadas de 30 e 40", de Patricia Tavares Raffaini, que foi uma das minhas principais inspirações para pensar a ideia do meu doutorado, Patricia explica coisas assim:

"A transitoriedade  da infância: ela está destinada a não mais ser, a se tornar adulta.(...) é nesta característica efêmera da criança que Lobato aposta suas fichas. Seu projeto era tornar a literatura palatável as crianças para que elas, gostando de ler, se tornassem ao crescer um público leitor. A constituição de um público leitor era, desde o século XIX, um sonho almejado por literatos e intelectuais, sem o qual não se via a constituição de uma nação. Desta forma,  durante os anos de formação do público leitor, Lobato pretendia despertar a crítica, a autonomia de pensamento, a irreverência e também o humor nesse indivíduo em formação."
RAFFAINI, Patricia Tavares. Pequenos poemas em prosa: vestígios da leitura ficcional na infância brasileira, nas décadas de 30 e 40, p. 16

Clique no link disponível no título da tese para baixá-la, pois vale muito a pena.

Apelidos, alcunhas, epítetos, corruptelas de nomes e sobrenomes pitorescos e pedantes nas Primeiras Estórias

“Assinale-se mais de uma fonte de sonoridades sugestivas e classificadoras: os expressivos nomes próprios com que Guimarães Rosa gosta de brindar-nos, enfileirando–os às vezes em saborosas enumerações rabelasianas. Nenhum outro autor nosso armazena tantos apelidos, alcunhas, epítetos, corruptelas de nomes e sobrenomes pitorescos e pedantes.  Só em Primeiras Estórias encontramos os quatro irmãos Dagobé: Damastor, Doricão, Dismundo e Derval, além de Tãozão, Mão-na-Lata e Zé Centeralfe. E ainda a sistra tríade formada por Mula-Marmela, Mumbungo e Ratrupé; e  Nhinhinha e a  Nhatiaga; e  e Vagalume, de seu verdadeiro nome (!) João Dosmeuspés Felizardo: Curucutu, Cheira-Céu, Jiló, Pé-de-Moleque, Barriga Cheia, Corta-Pau, Rapa-pé,o Gorro-Pintado... todo um catálogo bem brasileiro de extravagância denominativa. ”
Paulo Rónai ‘Os vastos espaços’ In: Primeiras Estórias. 11ª. ed, Rio de Janeiro: José Olympio, p. xxxvi

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças, Javier Naranjo


Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)

Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo (Maryluz Arbeláez, 9 anos)

Água: Transparência que se pode tomar (Tatiana Ramírez, 7 anos)

Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)

Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)

Colômbia: É uma partida de futebol (Diego Giraldo, 8 anos)

Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)

Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana Milena Hurtado, 5 anos)

Escuridão: É como o frescor da noite (Ana Cristina Henao, 8 anos)

Guerra: Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz (Juan Carlos Mejía, 11 anos)

Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)

Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)

Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)

Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos)

Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)

Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)

Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)

Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)

Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)

Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos)

Fonte: livro "Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças", de Javier Naranjo

Fonte:Dicionário feito por crianças revela a adultos um mundo que já esqueceram

É  muito bonitinho mesmo! Não posso deixar  de comentar que no meu doc eu estudo um pouco os livros da série "Criança diz cada coisa'" organizado pelo Pedro Bloch (é, aquele que escreveu o texto  original a novela Dona Xepa, e que era também um foniatra famoso no Brasil em meados dos anos 60 e foi muito amigo do G. Rosa)... Nos livros dele são elencadas  falas infantis , e não em forma de  dicionário, também vemos tem definições assim, histórias absurdas, piadinhas (as crianças comentam a novela com ele!)... é uma delícia de ler e, como sabem os que leram o prefácio  "Aletria e hermenêutica", esse olhar infantil foi, sim, algo que Rosa via como um discurso  oposto ao linear assumido pela  História ...

Racionais Mc Virada Cultural 2013

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Metafísica do "Grande Sertão Veredas"

Segundo Fraçois Utéza, em uma batalha do Grande Sertã podemos observar indicação de elementos esotéricos ... vejamos:

" "Perseguinando-se, Urutu Branco se coloca esotericamente sob a proteção daquilo que sua herança cultural assinala 'Bem', imaginando que assim se rejeita o inimigo soba bandeira do 'Mal.' Esotericamente, está chamando para seu corpo a união dos contrários que é o apanágio do Espirito. Neste preciso instante, sob a espoleta de um grito de guerra esquisito, explode a egrégora, provocando o incêndio geral:
 
Gritei sussus: -  "Vale seis! e toma nove!..." nas grimpas da voz.
 
(UTEZA, François. Metafísica do Grande Sertão, p. 324)




quinta-feira, 16 de maio de 2013

Não sei como dizer-te que a minha voz te procura

"Não sei como dizer-te que a minha voz te procura

Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
... esplêndida e casta.
Não sei o que quer dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas de melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu ascético escuro e em turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha cara ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta
um girassol, uma pedra, uma ave qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram."

Herberto Hélder

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Eu queria que você soubesse עוזי חיטמן - אלוקים



Ouvi essa música por recomendação de uma amiga que entende hebraico e que me garantiu que ela falava de paz. Procurei a tradução da letra e encontrei o seguinte:

Eu queria que você soubesse
עוזי חיטמן Uzi Hitman
מילים ולחן: עוזי חיטמן Palavras e Música: Uzi Hitman
קיימים 3 ביצועים נוספים לשיר זה Há três desempenho adicional esta canção
אקורדים Chords


אלוהים שלי, רציתי שתדע Meu Deus, eu queria que você soubesse
חלום שחלמתי בלילה במיטה À noite eu tive um sonho na cama
ובחלום ראיתי מלאך E vi um anjo em um sonho
משמיים בא אלי ואמר לי כך Céu veio ter comigo e disse-me que
באתי משמיים, עברתי נדודים Eu vim do céu, eu vagando
לשאת ברכת שלום לכל הילדים A saudação de paz para todas as crianças
לשאת ברכת שלום לכל הילדים A saudação de paz para todas as crianças
וכשהתעוררתי נזכרתי בחלום E quando acordei, lembrei do sonho
ויצאתי לחפש מעט שלום E foi em busca de um pouco de paz
ולא היה מלאך ולא היה שלום E havia um anjo e Adeus
הוא מזמן הלך ואני עם החלום É muito longe e eu tenho um sonho
אלוהים שלי, רציתי שתדע Meu Deus, eu queria que você soubesse
חלום שחלמתי בלילה במיטה À noite eu tive um sonho na cama
ובחלום ראיתי מלאך E vi um anjo em um sonho
ממצולות הים עלה ואמר לי כך Profundezas do mar veio e me disse que
באתי מן המים, ממצולות הים Eu venho da água, a partir da água
לשאת ברכת שלום לילדי כל העולם Para ter filhos cumprimentando o mundo
לשאת ברכת שלום לילדי כל העולם Para ter filhos cumprimentando o mundo
וכשהתעוררתי נזכרתי בחלום E quando acordei, lembrei do sonho
ויצאתי לחפש מעט שלום E foi em busca de um pouco de paz
ולא היה מלח ולא היה שלום E havia sal e Adeus
הוא את הבשורה לקח ואני עם החלום Ele recebeu a notícia com um sonho e eu
אלוהים שלי, רציתי שתדע Meu Deus, eu queria que você soubesse
שהחלום הזה נשאר לי כחידה Este sonho me deixou intrigado
אלוהים שלי, רציתי שתדע Meu Deus, eu queria que você soubesse
על החלום שלי רציתי שתדע Meu sonho quero que você saiba
אלוהים שלי, רק רציתי שתדע Meu Deus, eu só queria que você soubesse

Bonita, não?

Dicionário (José Paulo Paes)

Dicionário (José Paulo Paes)

 A
Aulas: período de interrupção das férias.

B
Berro: o somproduzido pelo martelo quando bate no dedo da gente.

C
Caveira: a cara da gente quando a gente não for mais gente.

D
Dedo: parte do corpo que não deve ter muita intimidade com o nariz.

E
Excelente: lente muito boa.

F
Forro: o lado de fora do lado de dentro.

G
Girafa: bicho que, quando tem dor de garganta,
é um deus-nos-acuda.

H
Hoje: o ontem de amanhã ou o amanhã de ontem.

I
Isca: cavalo de Tróia para peixe.

J
Janela: porta de ladrão.

L
Luz: coisa que se apaga, mas não com borracha.

M
Minhoca: cobra no jardim-de-infância.

N
Nuvem: algodão que chove.

O
Ovo: filho da galinha que foi mãe dela.

P
Pulo: esporte inventado pelos buracos.

Q
Queixo: parte do corpo que depois de um soco vira queixa.

R
Rei: cara que ganhou coroa.

S
Sopapo: o que acontece quando só papo não adianta.

T
Tombo: o que acontece entre o escorregão e o palavrão.

U
Urgente: gente com pressa

V
Vagalume: besouro guarda-noturno.

X
Xará: um outro que sou eu.

Z
Zebra: bicho que toma sol atrás das grades.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Símbolos

∞ ☆☯웃 ღ ♥ ♡ ❤ ❥ ❦ ∴ △ ∞ ☆ ★ ✖ 。◕‿◕。®™☏℡゚✤
❝❞✥ ✦ ✧ ✩ ✫ ✬ ✭ ✮ ✯ ✰ ✱ ✲ ✳ ❃ ❂ ❁ ❀ ✿ ✾ ✽
✼ ✻ ✺ ✹ ✸ ✷ ₪ ❃ ❂ ❁ ❀ ✿ ✾ ✽ ✼ ✻ ✺ ✹ ✸ ✷
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❢ ❣ ✐ ✎ ✏ ✍ ✆ ☎ ✄ † ✞ ✝ ✛ ✙ ރ ⌚ ▧ ▨ ▦ ▩
۩ ஜ ಌ ஜ ๑۩۞۩๑ ஜ ஒ ண இஆ ௰ ௫& ૪ ☗ ☖
➸☑ ☒ ☓☟ ☠ ☡ ☢ ☣ ☤ ☥ ☦ ☧ ☨ ☩ ☪ ☫ ☬ ☭ ☮ ☯
➹◎♩♫♭♪♯♬♮♫♯☁☀☃☂♣♥♪♫☼♀♂♦✗✘✚✪✣✤✥☠
♦ ♠ ♥ ♣ ♢ ♤ ♡ ♧☽ ☾● ◯ ☚ ☛ ☜ ☝ ☞ ☟ ✌ ♻ ♼ ♽
☼ ☀ ❂ ☁ ☂ ☃ ☄ ☾ ☽ ❄ ☇ ☈ ⊙ ☉ ℃ ℉ ° ❅ ✺ ϟ
ⓘ ⓛⓞⓥⓔ ⓨⓞⓤ simbolo do infinito:∞ ზ
simbolo de musica: ♪♫♩♫♭♪♯♬♮♫♩♫♭♪♯♬♮♬♪♫
$ ₣ ¢ £ ¤ ¥ ฿ ₠ ₡ ₢ ₣ ₤ ₥ ₦ ₧ ₨ ₩ ₫ ₪ €
๏̯͡๏ 【ՏՁ】 ะ㋚ะ ๑㋡๑ ʚ㋞ɞ (◠゚̲̅◠) ☔☕☘☙
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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Medo de ver nascimento

"Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos – não dói sem precisar de se ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há.Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo."

João Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas, p. 77

terça-feira, 7 de maio de 2013

segunda-feira, 6 de maio de 2013

... esse Deus dos fetos, das plantas pequenas ...

As minhas meninas



As Minhas Meninas

Chico Buarque


...
Olha as minhas meninas
As minhas meninas
Pra onde é que elas vão
Se já saem sozinhas
As notas da minha canção
Vão as minhas meninas
Levando destinos
Tão iluminados de sim

Passam por mim
E embaraçam as linhas
Da minha mão

As meninas são minhas
Só minhas na minha ilusão
Na canção cristalina
Da mina da imaginação
Pode o tempo
Marcar seus caminhos
Nas faces
Com as linhas
Das noites de não
 

E a solidão
Maltratar as meninas
As minhas não

As meninas são minhas
Só minhas
As minhas meninas
Do meu coração