quinta-feira, 31 de julho de 2025

"Após o anoitecer", de Murakami: o livro que queria ser filme

 





"Após o anoitecer" (2009) , de Murakami foi um livro indicado um grupo de leitura do Facebook  e que comprei usado e gostei em julho de 2025. Meu terceiro Murakami (além de "Sono" e o inesquecível "Homens sem mulheres" que em agosto completa um ano da primeira leitura inesquecível!), esse chegou um dia antes do gélido feriado de 9 de julho e foi meu companheiro no mês mais gelado do ano. 

Levei até pra viajar e foi um ótimo companheiro!

A partir de pouco antes da meia noite até um pouco depois das seis horas da manhã, um relógio vai contando as horas de uma madrugada em Tóquio e o que acontece na vida de alguns personagens naquele período. Não sei se a obra tem algum protagonista, mas destaco como principal a história das irmãs Mari e Eri Asai. Mari é uma universitária tímida que fala chinês e ,por algum motivo não revelado de cara,escolheu passar a noite lendo em um café. Ela é irmã  mais nova nova da modelo  Eri, que se encontra dormindo em casa há dois meses, por algum motivo que também não é revelado. A trama delas é muito interessante, uma é o oposto da outra (uma não consegue acordar, a outra não consegue dormir,uma ligada a aparecia a outra a essência,etc ) e o problema principal está na dificuldade de comunicação (tema caro aos japoneses). Por isso chamei esse livro de um romance sobre amor fraternal.

Ao redor delas surgem outros personagens como o TROMBONISTA (coloco em caixa alta porque não foram bem um bem dois resenhistas que o descreveram como trompetista! Para mim não é detalhe) Takahashi toma um café com Mari antes de passar a madrugada ensaiando com a banda num porão.  Depois disso surgem outras personagens do submundo de Tokio, como Kaoru,uma mulher grande, dona do Motel Alphaville, onde uma chinesa teria sido agredida. Como ela não fala japonês, chamam Mari para  fazer a tradução do seu depoimento. Ai surge outra trama na história,a agressão da prostituta e o submundo das máfias chinesa e japonesa atuando nas ruas de Tokio. Nesta trama surge Shirakawa, um trabalhador pai de família e acima de qualquer suspeita, mas até na verdade esconde uma face violenta e tenebrosa e ouve as  cantatas de Alessandro Scarlatti pelo contratenor estadunidense de origem japonesa Brian Asawa. 

Esses e outras personagens, exceto Eri Asai que só dorme, vivem aquela madrugada acordados e se transformando em algo que não eram antes daquele amanhecer.

Tudo isso é enriquecido por uma rica e variada trilha sonora (como já vida de todo mundo)  ,  que vai até vai de cantatas de Alessandro Scarlatti do século XVII, até sucessos do Pet Shot boys , não esquecendo o destaque para o repertório de jazz e blues do trombonista, uma das coisas mais belas do livro.

Dando uma olhada nas resenhas dos booktubies , a maioria gostou ou achou ok.

Destaco esse vídeo, onde a jovem defende que esse livro é uma ótima opção para começar a ler Murakami,porque ele é curto e aborda de forma "concisa e domada" alguns dos temas/ambientes comuns na obra do autor, como humor distorcido, histórias dramáticas,"realismo mágico", histórias estranhamente sexuais ou violentas, funcionando como uma espécie de sumário daquela escrita.

Mas, pessoalmente, eu destacaria a forma de contar como o grande diferencial do livro. Não só porque é marcado pelo relógio, mas especialmente pelo fico narrativo diferenciado. Narrado em terceira pessoa, o narrador, que é uma espécie de "POV", um ponto de vista , e narra  assim 

Esse ponto de vista de camera, avisa o leitor,apenas descreve os acontecimentos sem interferi neles. (P. 157)

E conta a história a partir de uma câmera imaginária,por isso o livro parece sempre querer ser um filme .

Todo esse cenário desenvolvido por Murakami me lembra  muito o que se pode observar nos filmes e séries da Netflix, que são o que há de mais moderno na produção de narrativas.

Por essas e por outras, adorei ter feito essa leitura.

ALGUMAS POSTAGENS NAS REDES SOCIAIS DURANTES A LEITURA 

21 de julho 

"-Fico pensando... Será que as lembranças não seriam o combustível de que os homens precisam para viver? Se essas lembranças são ou não realmente importantes para a manutenção da vida, não vem ao caso. Elas podem ser apenas um combustível. Seja uma propaganda de jornal, um livro filosófico, uma foto pornográfica ou um maço de notas de dez mil ienes, tudo isso não passa de papel na hora de queimar, não é mesmo? O fogo não queima tudo questionando "Nossa! Isso é Kant"  ou "Isto é a edição vespertina do Yomiuri" ou "Puxa! Que peitos!", concorda? Para o fogo, tudo não passa de papel. É a mesma coisa com a memória. As lembranças importantes, ou até as que não têm importância nenhuma, tudo, indiscriminadamente, é apenas matéria de combustão.

Koirogui balança a cabeça concordando consigo mesmo e continua :

- É por isso que, se eu não tivesse esse tipo de combustível em mim, se eu não tivesse essa gaveta de lembranças dentro de mim, eu já teria morrido há muito tempo. Eu estaria em algum lugar horrível, abraçando meus filhos joelhos, morta e abandonada na estrada. Na medida em que posso usar, de acordo com minhas necessidades, as inúmeras lembranças que tenho, sejam elas importantes ou não, é que consigo me manter viva, mesmo sendo essa vida de pesadelos. Mesmo que eu pense que não dá mais, que não posso mais continuar, consigo de alguma maneira superar isso. " P. 173

23 de julho 

"Sala do subsolo que parece um depósito. Estamos no local onde a banda se reúne para ensaiar durante a noite. (...) Takahashi toca um solo longo com seu trombone acompanhado de piano elétrico,contrabaixo e bateria. É "Sonnymoon for Two", de Sonny Rollins. Um blues de ritmo moderado. A performance de Takahashi não é nada má: além da técnica, ele  tem um modo de desenvolver frases e variações temáticas que resultam num diálogo musical. É em momentos assim que se revela a personalidade do músico. Ele fecha os olhos e se entrega à música." (Haruki Murakami. " Após o anoitecer",p.175)

28 de julho 

A hora passando ...


APÓS: É real, estou a poucas páginas de concluir minha terceira leitura de Muraksmi, e dessa vez um romance e  um exemplar meu! 😍

Achei que ia concluir na volta da viagem, na qual ele foi meu  companheiro fiel, mas não é tão aleatoriamente assim que nos despedimos de um livro de Murakami, tem que ter aquele tempo do medo da despedida. Estou nele: o romance se passa em uma madrugada , a partir da meia noite, e segundo o reloginho que inicia os breves capítulos já estamos quase em cinco da manhã :  mais breve do que eu gostaria concluo mais uma leitura deste autor incrível. Virá outra, ler Murakami e gostar é só começar 😍

Na madrugada, terminando de ler


29 de julho 

APÓS: Acabei  de ler. Não era minha intenção terminar  hoje, já estava até dormindo (fato irônico em relação a esse romance), mas recebi uma ligação  e a conversa não pôde se desenvolver no tempo e como eu estava acordada,   restou-me cair nos braços do livro. Que na real é uma história de suspense muito bem contada. Do pouquíssimo que conheço de Murakami, já  identifiquei que os temas comuns vão de música , ao fascínio por mulheres, invariavelmente filtrado por questões envolvendo o sono. Nesse livro o centro é o amor fraternal e a dificuldade de comunicação. Mas há também, de forma coadjuvante,traços de uma forma  lindíssima de falar do apaixonar-se como um filtro de vida para os olhos de quem está vivendo (que aparece também no conto "Samsa apaixonado").  Neste nosso século  dos amores líquidos, destaco que em Murakami ainda temos o "velho amor ainda e sempre", o que espera, que deseja trocar longas cartas, que planeja encontros cotidianos para o próximo verão e que vão ser  incríveis  só por estarmos  juntos novamente! Pode parecer ultrapassado, mas na verdade é o amor mais bonito e ainda resta em livros, belíssimos como este!


terça-feira, 29 de julho de 2025

CONHECENDO PARTE DA COMUNIDADE NEGRA DE NITERÓI

 


Na semana entre os dias 20 e 27 de julho de 2025 eu tirei umas férias salvadoras em Niterói RJ ,na casa do meu anfitrião, também negro ,Geraldo. Qual não foi minha grata surpresa ao descobrir que a cidade estava em clima de "mês da mulher negra" e a comunidade afro desenvolvendo eventos lindos e gratuítos no "Reserva Cultural Niterói", aquele espaço projetado por Niemayer e que ocupa o centro da cidade.  pudemos aproveitar bastante e foi muito bom.

Primeiro assistimos a um lindo desfile de Moda Afro do Projeto Emilia Brown,na quarta dia 23 de julho.
Como os negros estão em todos os lugares e acabam de conhecendo, foi uma grata surpresa saber que Emília e toda sua equipe, é ligada a minha queria Mama Nossa cultura, até conheço aqui da Casa das Cadeiras.
Com Mama Nossa Cultura nas Caldeiras
Em 2018

Foi muito bom ver que a beleza negra também vive em Niterói,não só no palco, mas também na plateia do desfile: negro é lindo ♥️

Algumas fotos 











No dia seguinte, quinta feira, no mesmo lugar, fomos prestigiar a peça CINDERELA NEGRA


Foi uma adaptação da história de Cinderela para a população negra , divertida e consciente! 
Para ver esse espetáculo o teatro lotou, teve  muitas crianças e todo mundo se divertiu. 

Dias depois, na sexta feira, para reforçar o tema da negritude em Niterói, fomos conhecer  um centro de umbanda e foi muito mágico. Era um dia de batismo (nem sabia que tem isso na umbanda), ficamos um pouco, vimos as incorporações e eu até tomei um passe do meu pai Oxóssi 🏹💚💙

Fiquei muito contente em conhecer um pouco da comunidade negra de Niterói. Agora só falta um samba 😍








sexta-feira, 18 de julho de 2025

Susto das descobertas:"O Segredo", Lygia Fagundes Telles



 
Em meados de julho de 2025 emprestei da biblioteca do Sesc Pompéia e li a coletânea "O segredo e outras histórias de descoberta" (2018) de Lygia Fagundes Telles. O livro é uma seleção de cinco contos abordando o olhar curioso das crianças ou adolescentes descobrindo o mundo na obra de Lygia.
Namorando o livrinho 


O livro apresenta o posfácio "Retirando a venda dos olhos " (nada mais lygiano do que isso!), escrito pela professora e escritora Noemi Jafe, onde a analista lembra que descobrir é também retirar as vendas e a coletânea mostra momentos onde isso acontece com narradores tão jovens, em textos com linguagem contida, sem transbordamento,Lygia consegue transmitir a dor do conhecimento do amor,da morte, da solidão, da traição e da frustração de forma certeira.

Dos cinco contos - Herbrarium, O menino, O segredo, O gorro do pintor, A rosa verde", os dois primeiros eu já conhecia e amava. O primeiro, o belíssimo "Herbrarium", fala sobre a descoberta do amor de uma jovem por um homem mais velho e eu já linha comentado AQUI ;  o segundo, " O menino", é bem lygiano no sentido de desmascarar crueldades em trechos simples do cotidiano e fala sobre como um menino enxerga a verdadeira face de sua idealizada mãe em uma reveladora  ida ao cinema , como comentei AQUI

Os outros três foram descobertas para mim... E como são escritos por Lygia, minha preferida, foi uma grande experiência conhecê-los.

Em "O Segredo", uma menina vê o mundo. das prostitutas revelado pelas frestas de uma casa proibida, que só lhe acolhe em segredo absoluto, na qual todo o ambiente lhe é ambíguo e em constante mutação, como deve ser o mundo todo para os olhos de quem está nessas primeiras fases da vida.

Em "O gorro do pintor", Lygia volta ao tema da metalinguagem para explorar as diferenças e semelhanças entre ficção e realidade, tema enfrentado pela menina que primeiramente leva o drama do teatro a sério demais,até perceber que ele também pode lhe ser proibido. Muitas coisas são proibidas pra crianças ou adolescentes.

No último conto, o melancólico "A rosa verde", os temas são a morte, a loucura e a velhice, vividos e narrados com simplicidade por uma narradora órfã, que oscila entre o luto pelos pais, a loucura do tio e a velhice solitária e amarga da avó. Dessa experiência a menina encontra um respiro na aproximação do mundo poético do avô, que insiste em cultivar uma rosa verde, que segundo Jafe, seria uma metáfora da própria literatura.

Nesse belo livro encontramos gotas do que há de melhor na Literatura nacional,contos de Lygia Fagundes Telles.







quarta-feira, 16 de julho de 2025

16 anos Partideiros do Maria Zélia

 


No domingo, 13 de julho 2025,  teve o encontro com os Partideiros desse mês foi em clima de aniversário. Eu, que devo ter ido ao aniversário de sete anos,tive a honra de estar no 16 aniversário.

Estava frio,não sabia como me vestir e super improvisei. Partdeiros mereciam mais capricho... Em breve!

A blusa afro, que comprei num brechó, é linda, mas não deu o impacto que eu gostaria 


Muito bom. Mês passado eu não fui nesse samba, na verdade, fazia mais de mês que não ia a samba algum e foi maravilhosa .

Teve reencontro com pessoas queridas, Partideiros e convidados, galinhada e pra encerrar "Pegada de gorila", samba de alto nível. Fui muito feliz!

Algumas imagens 

Galinhada

Galinhada 



Pegada de gorila 

Músicos 

Pegada de Gorila 

Galinhada 


Tietando a cantora 

Grazzi Brasil linda 

Geraldo SP

Selfie de fã 

Partideiros : 16 anos

Chefa

Estilo Bella Campos afro 

Como é lindo o amarelo 😍 

Beijinho 

Tipo Bela Campos 


Tietando Geraldo SP

Grazzi Brasil
Cantora de samba❤️

Salgueirenses de encontram
No samba em São Paulo 

Eu pedi e pude experimentar 
O prato dos chefes Fezinho e Fernando Macaco

Mosaico de carinhos 
 

Como é bom voltar aí lugar onde a gente "mora" faz tempo ☀️ 

quarta-feira, 9 de julho de 2025

"Oito baixos", no primeiro instrumental do ano

 


Inaugurando julho 2025, já enfrentei a primeira terça feira grande do primeiro mês do segundo semestre, numa friaca observável.

Depois de uns dias de dor e queda de auto estima, decidi sair toda bonitinha e não é que consegui? Até parecia uma menina 


Precisava muito aumentar a auto estima. Usei Rosa 

Precisando.tanto de mais amor, pedi em voz alta ao universo 
O AMOR É ROSA: Neste inverno pretendo
usar muito rosa. Quero atrair mais amor
pra minha vida😍

Fui na terapia assim ,todo trabalhada de boneca cor de rosa, mas achei que seria dolorido, como foi angustiante a semana... Mas não foi. Fui ouvida, compreendida apoiada e até elogiada : parabéns, vc aguentou a dor, a angústia, a raiva (da vida por me colocar naquela situação) e não joguei tudo fora. Eu também devolvi o que tinha que devolver para quem me feriu e ele sentiu também. Não estou sozinha nessa.  Ainda há coisas para viver. Eu amadureci! Na dor, mas amadureci, amadurecemos.

No Sesc, tomei minha sopinha, afinal estava frio ❄️ 

Não era a melhor,mas a que tinha 

E aí veio o show, de forró pé de serra e muito bom o som, aprendi e me diverti muito. O show você pode assistir 

Adorei de verdade.Meu comentário final :


OITO BAIXOS: Quando reservei o ingresso achei que seria um grupo de baixistas. Nem foi. É um grupo maravilhoso de forró pé de serra,numa apresentação deliciosa, que aqueceu essa noite fria de São Paulo. Pelo que entendi, essa banda acompanha um grupo de oito sanfoneitos que tocam a tradicional sanfona de oito baixos,cada uma em sua afinação peculiar. Para o show de hoje, só deu tempo de trazerem quatro deles e eu AMEI! Novamente o Instrumental não decepcionou 😍

Algumas fotos









Terminei o dia com um pouco mais de auto estima 


BATOM : Fazia tempo que eu não ousava  usar um tão ousado, andava preferindo os nudes. Mas não é que ouvi varias vezes "gostei do seu batom 💄"? Foi como se eu tivesse dado uma reavivada no visual nesse dia frio. ADOREI, 😍